Em Espanha, 9 em cada 10 pessoas diagnosticadas com transtornos alimentares são do sexo feminino. A idade mais comum para o aparecimento do problema situa-se entre os 13 e os 16 anos.

Razões não faltam para justificar a obsessão pelo peso, mas a psicóloga Esther Gutiérrez, do Centro Clínico Aletheia, em Madrid, referiu-se a uma em concreto – e bastante melindrosa, por sinal – num extenso artigo publicado no La Razon.

“O julgamento sobre a aparência das mulheres começa em casa; aí surgirão os primeiros comentários, elogios e críticas ao corpo e ao peso”, defende Gutiérrez.

E prossegue: “Há mães que julgam constantemente o aspecto físico das filhas. São pessoas que encaram o peso como algo a ser constantemente discutido, medido e criticado. Todas as mensagens que enviam às filhas são as mesmas que transmitem a si próprias. Vivem em auto-análise permanente e estendem esse juízo às filhas, especialmente se os corpos delas não se encaixam no modelo que idealizaram.”

Esther Gutiérrez explica que estas pessoas agem como se o corpo dos outros fosse um objeto, não pensando nas emoções negativas que os seus comentários provocam. O resultado é uma educação para a baixa auto-estima.

“A maioria das pessoas que fazem terapia são mulheres, e de todas as que me procuraram, poucas foram as que não abordaram a questão da relação com o corpo e com a comida. Mesmo fora do ambiente terapêutico, muitas mulheres têm um relacionamento difícil com o corpo”, explica.

A especialista convida as leitoras a um exercício de memória salutar: “Faça um inventário dos comentários sobre a sua aparência que se lembra de ouvir na infância. Se tiverem sido simpáticos, sem julgamentos e críticas, é natural que se sinta quase sempre bem com o seu lado físico. Infelizmente, a maioria das vezes não é isso que acontece.”

Mas porque razão são as mulheres tão críticas do seu peso e do peso dos outros, com as filhas à cabeça? “Talvez essas mães já tivessem problemas com a balança e passassem a vida em dieta…”, avança Esther Gutiérrez, que acrescenta: “É evidente que as mulheres são constantemente pressionadas a adoptar um modelo físico, uma aparência estereotipada.”

E os corpos femininos apregoados há décadas como perfeitos são magros. Mais: “Corpos gordos têm sido associados a doenças ou riscos para a saúde, pelo que ter peso a mais é completamente condenável.”

Transtornos alimentares em Portugal

O que são?

Doenças do foro psicológico que conduzem a comportamentos alimentares radicais. Estes comportamentos podem traduzir-se num consumo insuficiente de alimentos (anorexia) ou num consumo excessivo (bulimia).

Quais as mais comuns?

A anorexia e a bulimia nervosas.

Que consequências têm?

Ambas têm forte impacto na saúde, debilitando-a e podendo inclusive conduzir à morte. Atualmente, os distúrbios alimentares são considerados a doença psiquiátrica mais letal. Em 2011, em Portugal, morreram 161 pessoas (mais 47% do que no ano anterior), segundo dados da Direção-Geral da Saúde.

Fonte: Advancecare