O quarto é acolhedor, a luz e a temperatura convidam à intimidade. Os protagonistas estão presentes, o guião é conhecido mas algo parece não estar bem. Nesse preciso momento, a sua cabeça está longe, bem longe dali. O trabalho, as tarefas que terá de fazer no dia seguinte, os filhos e as responsabilidades desfilam ininterruptamente na sua mente enquanto as pálpebras se tornam cada vez mais pesadas.

Vencidos nos primeiros instantes, ficam-se por um "Talvez amanhã"… Esta cena parece-lhe familiar? Então está na altura de mudar de filme! Reunimos aqui alguns dos principais estudos e dos principais conselhos e recomendações de especialistas para que histórias como esta sejam cada vez mais raras na sua intimidade. Está nas suas mãos mudar o guião da sua vida sexual, (re)escrevendo im novo. Comece já!

Quantas vezes é o normal?

Uma das questões que surge sempre que se fala de sexo é o número de vezes em que é realmente praticado. Sabemos que os filmes não oferecem um retrato fiel e que as pessoas, quando questionadas, tendem a inflacionar a resposta. Afinal o que é normal? Dados estatísticos, recolhidos pela marca de contracetivos Durex, revelam que um em cada cinco adultos tem relações sexuais entre três e cinco vezes por semana.

Ainda de acordo como o mesmo inquérito, o grupo mais ativo é o que se situa na faixa etária dos 35 aos 44 anos. Em Portugal, os números apontam para 108 vezes ao ano, o que equivalerá a cerca de duas vezes por semana. Mas por mais contas que se façam, segundo os especialistas, não existe um valor que se possa considerar universal. O desejo sexual varia de pessoa para pessoa e cabe-lhe a si encontrar a justa medida com o seu parceiro.

Como lidar com a falta de desejo?

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Kinsey, nos Estados Unidos da América, revelou que, para as mulheres, a satisfação sexual depende em grande parte do seu próprio bem-estar emocional e do que sentem pelo parceiro. Apesar disso, nem sempre as coisas correm como o esperado e a vivência sexual pode ser marcada por episódios menos bem sucedidos, como alertam muitos especialistas, nacionais e internacionais.

A ausência de fantasias ou a falta de recetividade à relação sexual, frequentemente designadas por falta de desejo, afeta tanto homens como mulheres e pode acontecer em diversas fases da vida. A ocorrência esporádica deste tipo de situação não é sinal para alarme e pode ser resolvida através de diálogo ou de um simples ajuste de ponteiros no casal. Se não for o caso, é necessário pensar em procurar ajuda.

A recorrência destes episódios, além de perturbar o relacionamento do casal, pode indicar a presença de dificuldades sexuais, quer na ausência de desejo, de resposta a estímulos sexuais ou de prazer na relação sexual. Pode requerer, por isso, ajuda especializada, alertam os especialistas. Ver pornografia a dois ou tentar experimentar posições sexuais diferentes, como algumas das que se seguem, é uma hipótese a ponderar.

Qual é a causa das coisas?

A ausência de desejo pode ser motivada por vários fatores, como aspetos de ordem psicológica ou relacional, experiências sexuais traumáticas, uma baixa autoestima ou uma imagem corporal negativa, stresse, problemas de relacionamento no casal ou simplesmente rotina, o grande inimigo de muitos casais nos dias que correm. A nível orgânico, existem ainda alterações que podem afetar o desejo sexual.

Aqui, as grandes responsáveis são as hormonas, nomeadamente o desequilíbrio de estrogénio, aumento de prolactina ou, no caso masculino, valores baixos de testosterona, também muito comuns. O sexo feminino está sujeito a mais alterações hormonais, logo mais suscetível de sentir falta de desejo sexual, sobretudo em fases específicas como o período pós-parto ou a menopausa, alertam os especialistas.

Caso a falta de desejo se prolongue, é aconselhável recorrer a um sexólogo que, em conjunto com o casal, poderá analisar a possível origem do problema e encontrar a melhor solução. Do ponto de vista médico, existem vários tratamentos, desde a terapia sexual ou conjugal à farmacologia. As formas de ultrapassar o problema existem mas muitos casais recusam-se a encarar o problema.

Como conseguir uma vida sexual mais saudável?

Embora esteja no topo do ranking de antídotos de prazer, o stresse, um dos problemas sociais dos dias de hoje, não é, infelizmente, o único inimigo de uma vida sexual satisfatória. Os hábitos alimentares pouco saudáveis, como as refeições fartas e/ou pesadas à noite, o consumo de bebidas alcoólicas e/ou drogas podem interferir na libido, como comprovaram vários estudos nos últimos anos.

Sabe-se também que a toma de medicação específica, como os anti-depressivos ou fármacos usados no tratamento da hipertensão, pode originar a diminuição de desejo sexual. Seguir um ritmo de vida saudável, marcado por uma alimentação equilibrada, rica em vegetais e fruta, e uma rotina pouco sedentária, pode trazer benefícios não só para a sua saúde como para o seu desempenho sexual.

Exemplo disso é o exercício físico, também altamente benéfico do ponto de vista sexual, pois além de melhorar a tonicidade e resistência física, contribui para um aumento da autoestima e melhoria da imagem corporal e mantém os níveis de stresse sob controle. Sabe-se que a prática desportiva é responsável pelo aumento dos níveis de serotonina no cérebro, uma hormona associada à felicidade, avisam os especialistas.

Há um tempo útil para o sexo?

O ritmo atual, em que cada tarefa é cronometrada ao segundo, não deixa disponibilidade temporal nem mental para despertar para o amor. Mas existem formas de contornar o problema. Uma delas consiste em instituir um ritual relaxante ao final do dia. Antes de mais, restrinja as questões de trabalho ao tapete que está à porta de casa ou a uma breve conversa, sem direito a prolongamento.

É vital abrandar o ritmo e preparar-se para usufruir da companhia de quem mais gosta. Nos dias que correm, nem sempre há tempo mas, como alertam os especialistas, tem de passar a haver, nem que isso signifique largar outros hábitos. Um banho relaxante, uma boa música (em vez da televisão) e, caso tenha filhos, partilhar as tarefas familiares (para sobrar sempre tempo para os dois) são algumas das estratégias a adotar.

Outra, mais pragmática ainda, consiste em marcar na agenda os momentos de exclusividade com o seu parceiro. Um almoço juntos, uma ida ao cinema ou um serão a dois no sofá (com a televisão desligada) ajudam a restaurar um hábito que, por vezes, parece pertencer ao passado. Namorar! Para evitar que este plano se torne uma obrigação, inclua o fator surpresa, definindo quem terá de programar a atividade.

Se o diálogo é um dos ingredientes-chave numa relação, na esfera sexual pode mesmo dizer-se que é indispensável. Aliás, um dos objetivos ambicionados pelos terapeutas sexuais é conseguir quebrar o gelo e ensinar o casal a falar abertamente sobre a sua intimidade. Mais uma razão para que este seja um dos temas centrais das suas conversas a dois. Como sugere o refrão de uma canção lançada em 1990, "Let's talk about sex?".

Texto: Manuela Vasconcelos