A infância marcada pela guerra

Giorgio Armani nasceu a 11 de julho de 1934 na cidade de Piacenza, localizada no norte de Itália. Filho de Ugo e Maria Raimondi, cresceu no campo juntamente com os dois irmãos: Rosanna e Sergio.

Teve uma infância difícil marcada pelos bombardeamentos feitos na sua aldeia em plena Segunda Guerra Mundial, pela prisão do pai, pela educação austera e pelas dificuldades financeiras da família. Foi ainda durante esta altura que viveu um dos episódios mais marcantes da sua vida: um acidente com uma granada que levou ao seu internamento e que colocou a sua visão em risco.

“Fechei os olhos e só os abri passados 20 dias. Conseguia cheirar as árvores que estavam em flor no jardim do hospital, mas não as conseguia ver. Foi difícil para mim porque não tinham a certeza se iria voltar a ver”, disse à revista Harper’s Bazaar, em 2015, ao recordar o acidente que aconteceu quando tinha nove anos.

A guerra obrigou a família de Armani a mudar-se para Milão. Graças à sua boa prestação escolar entrou para a Universidade para estudar Medicina mas o serviço militar obrigatório obrigou-o a abandonar o curso e a repensar o seu futuro.

“Estudei medicina durante alguns anos, mas a dada altura da minha vida decidi que estava na altura de fazer outra coisa, porque os estudos eram muito longos e difíceis”, recordou , em 2015, ao falar com o The Business of Fashion (Bof) sobre esta fase de transição que, inevitavelmente, o fez descobrir aquela que viria a ser a sua grande paixão: a moda.

Os primeiros passos na moda e a criação da marca Armani

Tendo em conta o seu sucesso, é difícil acreditar que a moda nunca tivesse feito parte dos seus planos. Como já explicou em diversas ocasiões, foi algo que aconteceu por mero acaso. “Entrei no mundo da moda quase por acidente, e depois foi algo que foi crescendo dentro de mim até me absorver por completo, dominando a minha vida”, explicou ao BoF sobre o início da sua carreira.

O seu primeiro contacto com o mundo da moda foi como vitrinista e, mais tarde, como menswear buyer na loja de departamento italiana La Rinascente. Mas foi a sua passagem pela Cerruti, na década de 1960, que veio a tornar-se determinante na sua carreira como designer de moda. Uma vez que não tinha qualquer formação na área de moda foi obrigado a aprender sobre todos os aspetos deste negócio: desde a alfaiataria à produção, passando pelo merchandising. Estas bases foram essenciais para o passo que se seguiu: aos 40 anos decidiu abandonar tudo e apostar na criação da sua própria marca.

Foi com a ajuda do arquiteto Sergio Galeotti, que viria a tornar-se seu sócio e amante, que, em 1975, nasceu a Armani. Apesar de ser um homem muito reservado, nunca escondeu que Galeotti foi a pessoa a quem atribui parte do seu sucesso. “Foi o Sergio que acreditou em mim”, disse o estilista sobre o companheiro, entetanto falecido, em entrevista à GQ, em 2015. “O Sergio fez-me acreditar em mim. Fez-me ver um mundo maior”.

1980. O ano da construção de um império e o desmoronar da sua vida amorosa

Os anúncios publicitários impressos nas páginas da L’Uomo Vogue, a parceira com a loja de departamento Barneys New York e a produção do guarda-roupa para o filme "American Gigolo" (1980) fizeram maravilhas pela sua carreira. "O guarda-roupa Armani do [Richard] Gere em "American Gigolo" marcou o início da minha relação com o cinema", referiu. Foi durante a década de 1980 que o estilista criou aquela que viria a ser sua imagem de marca: os power suits destruturados, famosos pela sua simplicidade e elegância.

É durante esta época que abre as suas primeiras lojas em Milão e aposta em diversas linhas de moda que, após um processo de reestruturação levado a cabo em 2017, foram reduzidas para três: Giorgio Armani (uma gama luxuosa que inclui a linha de alta-costura Armani Privé), Emporio Armani (uma gama intermédia que engloba a Armani Collezioni e a Armani Jeans) e A|X Armani Exchange (uma gama mais barata).

“Acho que esta é a melhor parte do meu trabalho: podemos criar roupas incríveis, mas se não fizermos roupas que não façam parte do mundo onde vivemos, elas não têm sentido. O meu trabalho está muito ligado àquilo que nos rodeia, sejam as sociedades, os modos de vida, as mudanças de mentalidade. Este é talvez o aspeto mais importante do meu trabalho: não é inventar novas coleções inspiradas em diferentes temas, mas a consciência de que aquilo que faço é algo de que as pessoas precisam para a sua vida”, referiu o designer que, de acordo com a revista Vanity Fair, foi o primeiro estilista de moda a vestir a indústria de Hollywood, tendo feito o guarda-roupa para mais de 200 produções cinematográficas.

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É ainda durante esta altura que se aventura no negócio das fragrâncias e lança Eau Pour Homme (1984). O famoso Acqua di Gio, que se veio a tornar num bestseller masculino, é lançado em 1996. Nas palavras de Armani, o segredo do seu sucesso parece residir na “consistência” e “inovação”.

Mas nem tudo são rosas. Se os anos 1980 foram sinónimo de sucesso para o estilista a nível profissional, o mesmo não se pode dizer da sua vida pessoal. A morte de Sergio Galeotti provou ser um dos momentos mais difíceis por que passou e que pôs em causa o legado que construíram juntos.

“Depois da morte do Sergio foi doloroso. Também tive de aprender tanto sobre a empresa, para que tudo funcionasse. Muitas pessoas achavam que não iria ser capaz. Não acreditavam em mim. Foi uma deceção descobrir – mesmo dentro da minha própria empresa – que havia pessoas que achavam que eu não iria conseguir fazê-lo [tomas as rédeas da empresa]. Então houve um êxodo. Tive de arregaçar as mangas e aprender a falar com advogados, publicistas”, confessou à GQ.

O futuro do império Armani

Numa era de conglomerados de luxo, Armani é dos poucos, se não o único estilista, a ter total controlo da sua empresa, Giorgio Armani S.p.A. Para além da parte criativa, é responsável por coordenar e supervisionar as diferentes vertentes da marca Armani. Mas como será gerir um império desta magnitude aos 85 anos?

“Gerir uma empresa como esta, todos os detalhes contam: é como tomar conta de um bebé. Não podemos descuidar ou sobrestimar o mais pequeno detalhe, ou tudo poderá desmoronar. Invariavelmente sou eu quem aponta defeitos e encontra soluções. Confio nas pessoas que me rodeiam, mas sou o único que toma as decisões finais”, revelou à revista do Financial Times How to Spend It, em 2017.

Mas atualmente o seu negócio vai muito mais além da moda e de cosmética. Armani/Casa (que inclui móveis, têxteis e objetos decorativos para o lar), Armani/Fiori (responsável por fazer arranjos florais para todas as ocasiões), Armani/Hotels (com uma unidade hoteleira no Dubai e outra Milão), Armani/Restaurant (lançada em 1998 e que atualmente já conta com 16 estabelecimentos que variam entre cafés e restaurantes, um deles galardoado com uma estrela Michelin), Armani/Clubs (um em Milão e outro no Dubai), a Armani/Dolci (criada em 2002 e é famosa pelos seus chocolates) e a Armani/Silos (um museu em Milão onde estão expostas algumas das suas criações) são outras da áreas de negócio do designer italiano que, de acordo com a revista Forbes, tem uma fortuna avaliada em 85 mil milhões de euros.

Aos 85 anos continua imparável e reforma é um tema sobre o qual não gosta de falar publicamente. Quando questionado sobre o futuro da sua empresa é evasivo e misterioso, mas deixa claro apenas uma coisa: que não quer que o seu império fique nas mãos de um conglomerado de luxo.

“Nunca esperei chegar aos 80 e ter o sucesso que tenho. Aos 70 apercebi-me do meu sucesso, por isso fui na onda e continuei a trabalhar. A verdade é que ninguém consegue trabalhar e ficar lúcido para sempre, e claro que vou ter que lidar com isso também. Mas agora acho que estou a aguentar-me bastante bem.”

Apesar de admitir não ser um homem de muitos arrependimentos, Armani lamenta que a exigência da sua carreira não lhe tenha permitido passar mais tempo com aqueles que ama e ter cuidado melhor de si. Mas será que deixa algo por cumprir? “Gostava de ter tido muitos filhos”, disse emocionado à GQ sobre o tema da paternidade.