
Entre as frutas tropicais que aos poucos conquistam espaço nas prateleiras gourmet e nas páginas da nutrição contemporânea, o mangostão permanece um sedutor enigma. Pequeno, de casca espessa e roxa, o Garcinia mangostana esconde uma polpa branca, delicada e aromática — muitas vezes descrita como o equilíbrio perfeito entre doçura e acidez.
Originário das florestas húmidas do Sudeste Asiático — sobretudo da Malásia, Tailândia e Indonésia —, o mangostão é consumido há séculos tanto na alimentação como na medicina tradicional. A sua árvore, lenta a frutificar, pode levar até dez anos para produzir os primeiros exemplares, exigindo um clima tropical constante e estável. Estas exigências dificultam a sua produção em larga escala fora da sua terra natal.
Aparência austera, interior refinado
Sob a casca espessa que tinge os dedos de púrpura, escondem-se gomos brancos semelhantes aos de uma tangerina, extremamente suculentos e de sabor complexo — uma fusão de ananás, pêssego e citrinos, pontuada por notas florais subtis. Uma fruta difícil de descrever, mas impossível de esquecer.
Durante séculos, o mangostão foi objeto de desejo entre exploradores e aristocratas europeus. Conta-se, embora sem confirmação histórica, que a Rainha Vitória teria oferecido uma recompensa a quem conseguisse entregar-lhe um exemplar fresco da fruta — um feito quase impossível antes da era da refrigeração. A lenda ajudou a consolidar a aura mítica do mangostão no Ocidente.
A sua entrada no mercado internacional só se consolidou no século XXI. Em 2007, os Estados Unidos suspenderam as restrições à sua importação — anteriormente impostas por receios fitossanitários —, abrindo caminho para que o mangostão chegasse às cozinhas de chefs a trabalhar em restaurantes com estrelas Michelin, mercados orgânicos e fórmulas de suplementos nutricionais.
Poderoso amigo da nutrição
Nutricionalmente, o mangostão vai além do seu exotismo visual. É rico em antioxidantes — sobretudo as xantonas, compostos estudados por potenciais efeitos anti-inflamatórios, antimicrobianos e anticancerígenos —, além de vitamina C, fibras, potássio e pequenas quantidades de ferro e cálcio.
Na medicina tradicional asiática, o mangostão é usado em infusões, decocções da casca seca ou preparados tópicos para tratar inflamações, infeções e doenças cutâneas. A casca, apesar de não comestível, contém compostos fenólicos com aplicações farmacológicas promissoras.
Hoje, o fruto é redescoberto por chefs e mixologistas que exploram o seu potencial em sobremesas, cocktails, sorvetes e infusões. A sua natureza frágil — deteriora-se rapidamente após a colheita — impede uma comercialização massiva, como acontece com a manga ou o abacate. Mas talvez resida aí o seu charme: é uma fruta que exige tempo, cuidado e respeito pela sazonalidade.
Consumir um mangostão é quase um ritual. Abrir a casca com as mãos ou com uma pequena faca, sem ferir os delicados gomos, exige técnica. Mas o que se revela no interior compensa o esforço: mais do que alimento, uma experiência sensorial rara.
Imagem de abertura do artigo cedida por Freepik.
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