Pode nunca ter ouvido (ou sequer saber pronunciar) os recém criados termos em alemão coronamüdigkeit e pandemüde. Mas é bastante possível que os conheça profundamente por já ter sentido isso.

As novas palavras, relacionadas à crise da COVID-19, foram uma das 1200 inventadas no ano passado pelos germânicos, segundo o Instituto Leibniz de Língua Alemã. Significam, respetivamente, "cansaço do corona" e "cansado da pandemia".

A fadiga pandémica é real. De acordo com uma estimativa da OMS (Organização Mundial da Saúde) no final do ano passado, esta atinge 60% da população mundial. E, de alguma forma, interfere nas nossas relações pessoais e profissionais.

"São muitas as causas dessa fadiga", afirma Mónica Torquato, responsável de Formação, Desenvolvimento, Recrutamento e Seleção da Sodexo Benefícios e Incentivos. "Medo de contrair o vírus e de perder alguém, receio de ficar desempregado, excesso de tempo em isolamento social, afastamento dos amigos e parentes, esgotamento pelo acúmular de tarefas com o trabalho que foi para dentro de casa e necessidade de dar conta de tudo são apenas algumas", enumera.

Segundo Ménica, ao mesmo tempo em que o trabalho, com o excesso de reuniões e a carga horária mais extensa, nos deixa mais cansados, a nossa exaustão com a incerteza do que acontece ao nosso redor faz com que estejamos cansados para o trabalho.

Uma espécie de círculo vicioso – em que nada está bom para ninguém.

A empresa como agente que proporciona qualidade de vida

A fadiga pandémica afeta a nossa saúde mental. Uma pesquisa global realizada recentemente pelo Ipsos e encomendada pelo Fórum Económico Mundial, mostra que a maior parte das pessoas declarou que o seu bem-estar mental piorou um pouco ou muito no último ano.

"Todas as organizações sentiram o impacto da fadiga nos seus colaboradores", diz a especialista.

Em maio do ano passado, a empresa percebeu que a segurança psicológica era um ponto que merecia atenção. Por isso, começou a traçar estratégias para minimizar os danos.

"Precisamos ter um lugar para conversar sobre o nosso esgotamento, e é fundamental que a empresa seja esse agente", acredita Mónica.

Uma série de programas foram criados para que a empresa ampliasse a oferta de ferramentas e suporte, como trazer psiquiatras e psicólogos para falar com os colaboradores e disponibilizar, além da solução de terapia online que já existia, outras duas.

"Na Sodexo, promovemos treinamentos com gestores e lideranças para identificar nas equipas quem pode estar a precisar de ajuda – e que tipo de ajuda precisa", diz.

A empresa também criou ou fortaleceu iniciativas internas para promover a interação entre os colaboradores, como o "Conectados" (encontro virtual para todos da empresa, inclusive diretores e CEO) e o "Sextou" (em que os colaboradores são motivados a mostrar talentos, como artes marciais ou culinária).

Os resultados podem ser medidos com alguns indicadores positivos, como a baixa taxa de absentísmo e a produtividade inabalada. "A maior resposta, no entanto, foi 60% dos nossos colaboradores dizerem numa pesquisa recente que pretendem continuar em sistema de home-office no pós-pandemia. Sinal de que estão a ser ouvidos."

As estratégias que todas as empresas podem adotar

Segundo a responsável, a Sodexo, assim como as demais empresas, está ainda a aprender a lidar com esta situação. "Apesar disso, ou por isso mesmo, vejo várias iniciativas a surgirem para evitar que o trabalho deixe os colaboradores ainda mais fatigados", diz Mónica.

Um exemplo vem da própria Sodexo, onde os gestores foram instruídos a não estimular reuniões de horários cheios. Ela diz que a estratégia de marcar reuniões mais curtas, entre meia hora e 45 minutos, deixa espaço para que nós possamos fazer coisas essenciais, como nos levantar um pouco da cadeira, beber água, ir à casa de banho ou até responder a e-mails.

"Com o home-office, muita coisa que antes era resolvida em pequenas conversas ou naquele encontro fortuito no café, hoje tem que ser resolvida com horário marcado por videochamada", conta Mónica. "Por isso o excesso de reuniões."

Flexibilizar horários também é uma iniciativa que traz resultados. "Cada pessoa sente esse momento de uma forma e teve a sua rotina impactada de maneira distinta", afirma a gerente.

"Se trabalhar à noite, por exemplo, for melhor para um determinado colaborador, por que não permitir isso, desde que não afete os processos da empresa?", questiona-se.

"Criar fóruns para discussão, ser fonte de informação confiável, promover um ambiente seguro, trazer especialistas para conversar, tudo isso pode ser feito pelas empresas."

Para Mónica, é essencial que as empresas também disponibilizem neste momento a possibilidade de terapias ou atendimento de profissionais de saúde que possam dar algum suporte aos colaboradores.

Estratégias que os colaboradores devem adotar

Formada em psicologia, a responsável da Sodexo afirma que criar soluções para que a fadiga pandémica não atrapalhe a nossa produtividade – e também para que o nosso trabalho não piore a nossa saúde mental – cabe também aos colaboradores.

Seguem-se 7 dicas para manter uma vida saudável.

1. Aceite o sofrimento

"Primeiro é preciso que se tenha um entendimento e uma aceitação da situação e saiba que tudo o que sente é real", diz. "Estamos todos a passar por isso, portanto não devemos minimizar o sentimento."

2. Coma – e coma bem

"Temos que parar tudo à hora do almoço e ter refeições saudáveis", diz. "Bloqueie a agenda para garantir isso."

3. Bloqueie a sua agenda para trabalhar

Reservar um horário na sua própria agenda para fazer algumas tarefas também é uma boa ideia. "Na minha, o período da tarde de sexta-feira é um desses horários bloqueados. É o momento em que, por exemplo, leio artigos que são essenciais para o meu trabalho."

4. Pratique atividade física

Mexer-se também é importante – e pode ser qualquer atividade. "Movimentar o corpo ativa o seu organismo para a produção de hormonas que dão sensação de prazer e bem-estar. Corpo e mente não são entidades separadas."

5. Tome doses diárias de vitamina D

Não é suplementos que a especialista recomenda, mas sim exposição ao sol. Abra as cortinas, vá para a varanda ou jardim, desloque-se até alguma área aberta do seu prédio ou caminhe na rua. Mas apanhe sol.

6. Diga alguns nãos

"É preciso reconhecer que temos limites", afirma Mónica. "Aprenda a negociar prazos de entrega, diga alguns nãos. Tudo é importante, mas o que é de facto essencial? O combinado não sai caro nunca."

7. Faça algo que dê prazer

Pode ser assistir a uma série na TV, ler, ouvir música, fazer tricô, mexer nas plantas, brincar com o cão ou com os filhos. Ou, por que não?, praticar de vez em quando um abstandsbier – o novo termo alemão que significa beber uma cerveja com os amigos à distância.