No Hospital Doutor Agostinho Neto, na cidade da Praia, principal foco da pandemia no arquipélago, dois militares e um enfermeiro do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) trabalham no apoio às equipas da unidade de cuidados intensivos, área em realizaram formação, nos últimos dias, para grande parte dos médicos e enfermeiros da ilha de Santiago, nomeadamente em ventilação e tratamento de doentes críticos.

A major do Exército português Inês Nunes, médica de medicina interna no Hospital das Forças Armadas e na Direção de Saúde do Exército, admitiu à Lusa que quando chegou à Praia em 16 de maio – depois de Cabo Verde ter registado picos diários de novos casos no início do mês – encontrou um “certo alívio” na pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde cabo-verdiana, com a progressiva queda no número de novos infetados pelo coronavírus SARS-CoV-2.

“Devido à ação das autoridades de saúde, com o aumento da testagem, o incentivo ao uso de máscara e distanciamento social. Penso que isso tem feito muito a diferença na diminuição do número de casos”, reconheceu a militar.

A equipa que integra é coordenada – tal como outra colocada no Hospital Batista de Sousa, no Mindelo, ilha de São Vicente - pelo Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), através do Portuguese Emergency Medical Team (PT EMT), na sequência da missão de avaliação portuguesa que esteve no país de 05 e 12 de maio, em colaboração com o Camões - Instituto da Cooperação e da Língua.

No principal hospital de Cabo Verde, a equipa portuguesa, que termina a missão no domingo, tem apoiado nas urgências e cuidados intensivos, além do processo de formação.

“Os profissionais de saúde cá têm estado muito empenhados em ajudar, muito profissionais e tem havido uma troca de experiências entre nós, também com o que vivenciamos em Portugal, para conseguirmos ajudar (…) Eles têm feito um enorme esforço e penso que também temos feito a diferença”, reconheceu a major Inês Nunes, de 36 anos.

Na mesma equipa portuguesa, como estreia em missões internacionais, Madalena Almeida, enfermeira da Força Aérea Portuguesa colocada na unidade de cuidados intensivos do Hospital das Forças Armadas, admite que chegou a Cabo Verde com “poucas expectativas” sobre o que iria encontrar, como forma de posteriormente se “adaptar ao cenário” que encontra. E neste caso, admite uma “surpresa positiva”.

“Pela forma como, talvez por terem passado um período de maior dificuldade [mais de 400 casos diários de covid-19], se organizaram e estruturam (…) Estavam bem estruturados e bem organizados, a necessidade faz isso”, reconheceu a enfermeira militar portuguesa, admitindo que foi possível transmitir aos colegas cabo-verdianos a experiência adquirida com as dificuldades vividas em Portugal há alguns meses no combate à pandemia.

Madalena Almeida trabalhou em equipa com os colegas cabo-verdianos do hospital da Praia, incluindo no tratamento de doentes de covid-19 em estado crítico, e garante que os objetivos pessoais e da missão foram atingidos: “Sinto-me muito grata por ter feito parte desta cooperação com Cabo Verde. Claro que há sempre mais trabalho a fazer, como em qualquer país e em qualquer área”.

Luís Ladeira, 42 anos, enfermeiro do INEM, chegou a Cabo Verde para mais uma missão médica internacional, depois de ter passado pelo Haiti (sismo em 2010) ou Moçambique (ciclone Idai em 2019), entre outros cenários de crise sanitária, mas também não esconde o “agrado” com a organização que encontrou no sistema de saúde cabo-verdiano e logo no momento mais crítico desde o início da pandemia.

“Não encontrámos uma situação descontrolada, encontrámos sim uma situação controlada”, garantiu.

“Temos que sublinhar o profissionalismo com o qual as autoridades e os profissionais de saúde conseguiram responder a este pico, a este aumento de casos e efetivamente a resposta estava bem mais robusta”, justificou ainda o enfermeiro do INEM.

Luís Ladeira recordou que a equipa mobilizada para a Praia tinha desde logo a missão de ajudar a “otimizar” a resposta do maior e mais importante hospital de Cabo Verde à covid-19, além do apoio às equipas médicas e da formação.

“O balanço é claramente positivo”, garantiu, repetindo os elogios ao trabalho dos colegas médicos e enfermeiros cabo-verdianos no sucesso da resposta local à pandemia.

As equipas que chegaram em 16 de maio a Cabo Verde, cujas missões terminam no domingo, são constituídas por um grupo de profissionais de saúde do INEM, das Forças Armadas e do Centro Hospitalar do Baixo Vouga.

Integram dois médicos com experiência em cuidados intensivos e quatro enfermeiros com experiência em urgência e emergência e cuidados intensivos.

O objetivo da missão passou por reforçar a capacidade de resposta nos dois hospitais centrais nas ilhas de Santiago e São Vicente, além de otimizar a capacitação, através de formação, dos recursos humanos nas áreas do atendimento do doente crítico e tratamento em cuidados intensivos.

Cabo Verde contava na quarta-feira com 1.843 casos ativos de covid-19 e um acumulado de 29.763 diagnosticados com o novo coronavírus desde 19 de março de 2020, além de 259 mortes por complicações associadas à doença.

Vários meses depois, o Governo de Cabo Verde voltou a decretar, em 30 de abril, a situação de calamidade em todas as ilhas, exceto na ilha Brava, por um período de 30 dias, agravando medidas de limitação de atividades com aglomerações de pessoas, face ao forte aumento dos novos casos de covid-19, que chegaram a um pico de 417 infetados no dia 05 de maio.

Entretanto, a taxa de incidência acumulada de casos de covid-19 a 14 dias passou de 727 por cada 100.000 habitantes, no período de 26 de abril a 09 de maio, para 501 por cada 100.000 habitantes, de 10 a 23 de maio, segundo dados da Direção Nacional de Saúde.

No último período de 14 dias foram feitos 19.502 testes à covid-19 no arquipélago e detetados 2.821 novos casos (média diária de 202 novos casos), contra as 21.647 amostras e 4.093 novos casos (média de 293 novos casos por dia) no período anterior (26 de abril a 09 de maio).