No Dia Mundial da Diabetes (14 de novembro) celebra-se o aniversário de Frederick Banting, um dos principais responsáveis pela descoberta da insulina. Esta descoberta mudou drasticamente o conhecimento e o prognóstico associado a esta patologia.
A Diabetes em Portugal afeta aproximadamente 15 em cada 100 adultos e está associada a várias complicações, como é o caso da retinopatia (que afeta os olhos), nefropatia (que afeta os rins) e a doença cerebrovascular (que aumenta o risco de enfarte agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral). No entanto, estas complicações podem ser evitadas através de um diagnóstico precoce e um bom controlo glicémico, assim como dos fatores de risco.
A nível do membro inferior, a Diabetes aumenta principalmente o risco de doença arterial periférica, neuropatia, deformidades, infeções, úlceras e amputações podológicas (isto é, nos pés). A doença arterial periférica define alterações nos vasos sanguíneos que são responsáveis por uma circulação adequada e, consequentemente, pela nutrição e oxigenação dos tecidos. A neuropatia define alterações a nível do sistema nervoso que regula a sensibilidade, a sudação e a atividade muscular.
Estima-se que cerca de 25% das pessoas com Diabetes irão ter pelo menos uma úlcera a nível do pé. No entanto, é importante olhar pelo lado positivo! Esta estatística indica também que cerca de 75% viverão livres de úlceras. Adicionalmente, as úlceras e as amputações podem ser prevenidas. Como? É o que será explicado de seguida.
O primeiro passo é garantir que a pessoa com Diabetes é rastreada e é identificado o seu nível de risco de desenvolver úlceras. Por exemplo, pessoas que não tenham neuropatia nem doença arterial periférica apresentam um risco semelhante à população em geral de desenvolver uma lesão a nível do pé. No entanto, a partir do momento em que seja diagnosticada neuropatia (principalmente alteração da sensibilidade) e/ou doença arterial periférica o risco aumenta e cuidados preventivos por parte da pessoa com Diabetes e uma vigilância mais apertada pela equipa de Saúde são necessários. É a partir deste momento que dizemos que uma pessoa tem “Pé Diabético”.
Em todos os níveis há cuidados que a pessoa com Diabetes deve ter de uma forma geral: cumprir com a medicação prescrita, manter um bom controlo glicémico e da tensão arterial, não fumar e fazer exercício físico regular. Todas estas medidas ajudam a prevenir as complicações e, uma vez instaladas, a desacelerar a sua progressão.
A partir do momento em que a pessoa seja identificada como estando em risco de desenvolvimento de úlceras podológicas existem cuidados que deve garantir aos seus pés de forma regular: como a hidratação da pele, inspeção diária dos pés e do interior do calçado, utilização de meias sem costuras e sem elásticos fortes, não remover calosidades (sem ser por um profissional de Saúde habilitado), não aplicar calicidas, não expor os pés a fontes de calor direto, não colocar os pés “de molho”, etc. E de extrema importância, contactar um profissional de Saúde habilitado quando identificar uma alteração a níveis dos pés e/ou pernas que possam indicar a presença de uma lesão ou infeção.
O fator mais comum a causar lesões podológicas é o calçado inadequado. As pessoas em risco de lesões devem usar sempre calçado fechado, quer no interior como no exterior e independentemente da época do ano. O calçado para ser utilizado no interior de casa deve ser diferente do calçado a utilizar no exterior, mas as suas características são semelhantes.
O calçado deve ter uma sola em borracha, sem costuras no interior ou exterior, com um sistema que permita ajustar o pé ao calçado (exemplo cordões ou velcro), em material respirável, mas protetor, e deve ser todo fechado. É necessário garantir que o calçado consegue acomodar todo o pé sem criar pontos de pressão. Assim, pessoas com deformidades devem considerar utilizar calçado com espaço interior adicional (ou até mesmo feito à medida) e que as palmilhas sejam removíveis de forma a poderem ser substituídas por um suporte plantar personalizado.
Focar na prevenção pode ser difícil dados os cuidados globais que uma pessoa com Diabetes tem de ter diariamente. Mas, cuidar dos pés é promover a qualidade de vida e a autonomia.
Por último, não se pode deixar de salientar a importância do Podologista como um elemento fundamental na equipa de Saúde de uma pessoa com Diabetes. Este profissional tem competências e autonomia na investigação, prevenção, diagnóstico e tratamento das alterações que afetam o pé. A integração destes profissionais no Sistema Nacional de Saúde e nas equipas multidisciplinares, tem vindo a ocorrer gradualmente nos últimos anos e é essencial para uma prevenção eficaz de úlceras e amputações.