Em 1999 surge a primeira Unidade de Local de Saúde na cidade de Matosinhos, fruto da integração do Hospital Pedro Hispano e dos Centros de Saúde de Matosinhos, tendo como visão um “modelo de excelência e referência na promoção da saúde, na prevenção da doença e na prestação de cuidados de saúde integrados, centrados na pessoa e na comunidade”. Desde então (e ao longo destes 24 anos) tem servido a sua população de referência, num modelo integrado de gestão de cuidados de saúde.

Neste período de tempo, a nível de controlo de infeção, também ocorreram importantes mudanças, incluindo a definição de infeção: partimos do conceito de “infeção nosocomial” (do grego “nosos” – doença – e “koneion” – hospital) para “IACS” (infeção associada a cuidados de saúde), que admite que a prestação de cuidados de saúde em cenários extra-hospitalares não está isenta de eventos adversos infeciosos.

Considera-se desejável uma boa articulação entre instituições de saúde, no entanto, se em vez de instituições diferentes, for uma só instituição constituída por várias unidades que gerem os cuidados e comunicam a uma só voz, tal traz mais-valias para todas as partes: o doente, que vê os seus cuidados de saúde serem planeados e prestados num continuum; os profissionais de saúde, que partilham a mesma cultura organizacional e comunicam facilmente entre eles e a tutela, que vê a gestão de recursos otimizada e adaptada às necessidades da população.

Se transpusermos esta realidade para a área do controlo da infeção e resistência aos antimicrobianos (CIRA), podemos também elencar várias vantagens no planeamento e implementação de uma estratégia em CIRA, especialmente ao analisarmos cada uma das suas cinco áreas basilares: vigilância epidemiológica; normas e procedimentos; (in)formação; consultadoria e apoio; apoio à prescrição de antimicrobianos. Daremos alguns exemplos, baseados na experiência da ULS de Matosinhos e fruto desta integração:

  • A centralização do Laboratório de Microbiologia permite um sistema de vigilância integrado de microrganismos epidemiologicamente importantes (MEI), independentemente do doente estar internado ou em ambulatório, com acesso a alertas de MEI real-time.
  • A existência de processo único digitalizado, que contém a informação clínica global do utente (hospitalar e cuidados de saúde primários), possibilitando criar timeline contínua de cuidados em bases digitais integradas de gestão em CIRA.
  • A existência de um sistema de informação documentada na ULS permite acesso a todas as normas e procedimentos institucionais à distância de um “clique”, não sendo o Manual de Controlo de Infeção uma exceção.
  • Planear a implementação de uma estratégia de Formação e Informação (transversal e/ou adaptada a diferentes níveis de cuidados) torna-se mais fácil, com a colaboração de um Serviço de Gestão de Conhecimento comum a toda a ULS.
  • A nível de consultadoria e apoio, a existência de um Serviço de CIRA comum, com uma rede de elos de ligação em todos os serviços e unidades da ULS, assim como serviços de apoio transversais (por ex: Hoteleiros, Farmácia, Instalações e Equipamentos, Reprocessamento de Dispositivos Médicos) permite que pareceres técnicos ou de obras sejam mais rápidos, dada a comunicação facilitada interinstitucional.
  • Sob o ponto de vista de stewardship antibiótico, um ambiente de ULS permite implementar estratégias adaptadas ao tipo de cuidados. Assim, usamos uma estratégia front-end, baseadas em normas, em cuidados primários e back-end , tipo “ handskake antimicrobial stweardship” em cuidados hospitalares, promovendo o diagnóstico adequado de infeção e a otimização do uso de antimicrobianos.
  • A contratualização e discussão de indicadores em CIRA faz-se de uma forma integrada e promove a prática da melhoria contínua, com intervenção nos diferentes níveis de cuidados, contribuindo para maior eficácia de resultados.

Perante os exemplos elencados, acreditamos que trabalhar na área de controlo da infeção e resistência aos antimicrobianos em ambiente de ULS traz vantagens, dado ser um serviço transversal, integrado numa cultural organizacional própria, onde a continuidade de cuidados é uma realidade, permitindo contribuir para dois objetivos imprescindíveis: a qualidade e eficiência dos cuidados e a segurança do doente.

NOTA: A ULS de Matosinhos irá organizar o evento híbrido “1º Encontro Controlo de Infeção na ULS” dia 18 abril de 2024. Mais informação Aqui.