O professor Mel Greaves, ou Sir Mel, como a partir de agora será tratado em Inglaterra, foi armado Comandante da Ordem do Império Britânico, uma honra que distingue cidadãos que se destacaram no Reino Unido, por ter realizado um trabalho inovador que ajuda a entender a história natural oculta e as causas da leucemia infantil, ao longo de uma carreira de 35 anos no The Institute of Cancer Research, em Londres.

Para além de ter levado a que existissem avanços no diagnóstico, tratamento e prevenção da doença, o investigador também foi pioneiro a identificar que o cancro passa por uma forma de evolução darwiniana que leva à resistência aos medicamentos – uma descoberta que abriu um novo campo de pesquisa e tratamento da doença.

O professor Greaves está agora a angariar dinheiro para dar início a um novo programa de pesquisa projetado para testar se a leucemia infantil pode, de fato, ser prevenida.

O título de cavaleiro para serviços de pesquisa de leucemia infantil ocorreu após investigador ter recebido a prestigiante Medalha Real da Royal Society em 2017, seguindo os passos de pessoas como Charles Darwin ou Michael Faraday.

Inspirado por visitas a um hospital italiano na década de 1970, onde conheceu crianças com leucemia, o Sir Mel sentiu-se na obrigação de entender como, e porquê, a doença se desenvolve em crianças saudáveis.

O investigador também foi pioneiro ao introduzir o conceito de que os cancros progridem e se tornam mais malignos e resistentes aos fármacos por meio de um processo equivalente à evolução das espécies pela seleção natural.

Além disso, Mel Greaves desenvolveu o conceito de que a vulnerabilidade a muitos cancros comuns, incluindo a leucemia infantil, reflete os devaneios entre as adaptações evolucionárias e históricas e os estilos de vida contemporâneos.

Ao estudar gémeos idênticos com leucemia e amostras de sangue de recém-nascidos, na década de 1990, o investigador descobriu as mudanças mutacionais que desencadeiam a leucemia infantil no útero.

Gradualmente, o investigador foi compilando provas que mostravam que a doença é causada por um processo secreto de duas etapas de mutação genética e exposição à infeção; o primeiro passo envolve uma mutação genética que ocorre no feto e predispõe as crianças à leucemia – mas apenas 1% das pessoas nascidas com essa alteração genética desenvolvem a doença.

O segundo passo é um gatilho “puxado” mais tarde na infância pela exposição a uma ou mais infeções comuns, mas principalmente em crianças que tiveram uma infância ‘limpa’ no primeiro ano de vida, sem muita interação com outros bebés ou crianças mais velhas.

Atualmente, o professor Greaves está a participar numa grande iniciativa de captação de fundos para a próxima etapa da sua pesquisa, onde pretende ver se a leucemia pode ser evitada.

“Tem sido uma jornada maravilhosa estes últimos 40 anos, desde o momento em que comecei a estudar a leucemia. Sinto-me um privilegiado por ter sido capaz de contribuir para a normalização e tratamento desta doença que, um dia, já foi misteriosa e letal”, disse Sir Mel, quando soube que seria armado cavaleiro.

“Estou honrado, encantado e um tanto desnorteado por ter recebido esta distinção. Quando comecei a pesquisar sobre o cancro, o meu objetivo era apenas entender o que causava a leucemia em crianças e como esse novo conhecimento poderia melhorar as suas vidas”.

“Ganhar um título de cavaleiro nunca foi, nem nos meus mais remotos sonhos, um objetivo, pelo que estou muito grato por esta honra e espero que isso possa inspirar os meus jovens colegas”, concluiu.