Segundo o Instituto Nacional de Estatística tem ocorrido um aumento do número de idosos (pessoas com mais de 65 anos) em Portugal, de tal forma que em 1993 existiam 81 idosos para 100 jovens com menos de 15 anos e em 2013 passou para 139 idosos para os mesmos 100 jovens.

As quedas, definidas como o "deslocamento não intencional do corpo para um nível inferior à posição inicial, com incapacidade de correção em tempo útil e determinado por circunstâncias multifatoriais que comprometem a estabilidade" são o acidente doméstico mais frequente nos idosos, a principal causa de morte acidental nesta população e a 7ª causa de mortalidade global.

As consequências na saúde provocadas pelas quedas representam um enorme encargo para o indivíduo, para as famílias e para a sociedade. Cerca de metade das quedas provocam algum tipo de lesão, sendo 5 a 6% de gravidade major e ainda 5% de fraturas. Em Portugal, entre 2000 e 2013, em cada 100 internamentos de pessoas com mais de 65 anos, três tiveram como causa uma queda e com a duração média de 13 dias.

É necessário salientar que muitos idosos não relatam a queda a terceiros porque a atribuem envergonhados ao processo de envelhecimento e/ou temem posterior restrição das suas atividades ou até a institucionalização, mas quem sofre uma queda apresenta um risco de 60 a 70% para voltar a cair no ano seguinte.

A contribuir para a queda concorrem fatores intrínsecos (declínio motor, alterações de visão, efeitos adversos de fármacos, etc.), fatores extrínsecos (tapetes soltos, calçado inapropriado, obstáculos arquitetónicos, etc.) e fatores situacionais (correr para o WC, para um autocarro, etc.). Porém, cerca de 20% das quedas em idosos não apresentam uma causa aparente, e são classificadas como inexplicadas ou não acidentais, e muitas vezes o tratamento das consequências traumáticas da queda é o foco principal de atenção médica imediata, podendo ser a sua causa esquecida ou deixada para segundo plano.

Nos mais idosos, a patologia cardiovascular é uma causa importante na etiologia de quedas inexplicadas por síncope. A síncope, mais conhecida por desmaio, consiste na perda de consciência momentânea, de curta duração e recuperação espontânea e completa. Em até 40% das quedas nos mais idosos pode haver amnésia para a perda de conhecimento e cerca de 60% destes eventos não são testemunhados, o que pode fazer com que muitos episódios de síncope sejam mal interpretados como uma queda acidental. Aqui os diagnósticos mais frequentes são a hipotensão ortostática, as síncopes vaso-vagais, a síndrome de hipersensibilidade do seio carotídeo e as arritmias cardíacas.

Neste contexto, os registadores de eventos implantados são instrumentos muito robustos para o diagnóstico ou a exclusão de arritmias como causa da síncope, de tal forma que as linhas de orientação actuais da Sociedade Europeia de Cardiologia recomendam a sua utilização em doentes com síncope ou quedas inexplicadas recorrentes.

Estes pequenos dispositivos implantados podem fazer até 71% de novos diagnósticos em indivíduos com quedas sem explicação e com possível causa cardíaca.

Não se esqueça: é muito importante procurar o seu médico para determinar a causa e assim poder recomendar o tratamento mais eficaz. Não “tropece” no seu coração.

Um artigo do médico Luís Ferreira dos Santos, Coordenador de Cardiologia no Hospital CUF Viseu.