Os números continuam a ser alarmantes. Em Portugal, surgem anualmente cerca de 5.000 novos casos de cancro da mama por ano em Portugal. Uma crescimento muito semelhante ao que se verifica noutros países. Em entrevista à Saber Viver, Fátima Cardoso, médica oncologista e diretora da Unidade de Mama do Centro Clínico Champalimaud, em Lisboa, esclarece aqui algumas das questões que mais preocupam as mulheres portuguesas.

Qual é o cancro mais frequente entre as mulheres portuguesas?

É o cancro da mama. Na Europa, há um diagnóstico a cada dois minutos e meio. A cada seis minutos e meio, morre uma mulher.

Também é o mais mortífero?

As mulheres com cancro do pulmão têm uma taxa de mortalidade mais elevada do que as mulheres com cancro da mama. O cancro do pulmão mata mais porque é mais agressivo e temos menos armas contra ele. Nas últimas décadas, as mulheres também têm fumado mais que os homens. As adolescentes começam a fumar cedo, o que afeta muito o desenvolvimento dos pulmões.

Quais são as taxas de cura do cancro da mama diagnosticado precocemente e do metastático? E a sobrevida de cada tipo?

O cancro da mama diagnosticado relativamente cedo, localizado na mama e na axila, que não tem doença à distância noutros órgãos, tem uma taxa de cura de 70%. Mas as taxas são diferentes dependendo dos subtipos de cancro. O cancro metastático, em que o cancro já se espalhou para outros órgãos do corpo, é incurável e tem uma sobrevida média de dois a três anos.

A partir de que idade deve ser feito um rastreio?

O rastreio populacional, coordenado pela Liga Portuguesa Contra o Cancro, é algo que o Estado disponibiliza às mulheres entre os 50 e os 70 anos. Há mulheres com capacidade económica que fazem uma vigilância fora do rastreio oficial. Vão ao seu ginecologista e fazem mamografias. Nas regiões mais remotas, onde as pessoas não têm meios económicos, a única forma de fazerem rastreio é através daquele que é oferecido. E pode salvar a vida!

O rastreio pode ser feito mais cedo do que a idade recomendada?

Não. Antes dos 40 anos, não vale a pena fazer mamografia porque não se vê nada. As mulheres muito jovens têm o que nós chamamos de mamas densas. Aparece tudo branco. Mesmo que haja alguma coisa por trás, nós não conseguimos ver. Temos que fazer uma ecografia, mais informativa nas mulheres mais jovens.

Entre os 40 e os 50 anos vai depender da existência, ou não, de fatores de risco. Da mesma forma, começa-se a pensar em continuar o rastreio até aos 75 anos, porque, atualmente, a esperança média de vida de uma portuguesa são os 85 anos.

As mulheres que tenham uma história familiar de cancro da mama devem consultar um geneticista, para conhecerem as suas probabilidades de virem a desenvolver a doença?

O cancro da mama só é hereditário em menos de 10% dos casos, uma minoria que tem os chamados genes do cancro da mama (BRCA1 e BRCA2). Quer isso dizer que 90% são o que nós chamamos de cancros esporádicos. Nos 10%, há quase sempre vários casos de cancro na família, seja de mama, do ovário, da próstata, do pâncreas ou gástrico, porque está associado a esses cancros todos.

Vale a pena conversar sobre formas de tentar prevenir. Uma delas é fazer a mastectomia profilática. Não se remove todo o tecido mamário. Deixa-se o mamilo para não ser tão agressivo. Por isso, não dá uma proteção de 100%. Mais importante ainda que a mastectomia é retirar os ovários, porque os genes do cancro da mama também estão associados ao cancro do ovário.

Este tipo de cancro é de muito mais difícil diagnóstico. Quando dá sintomas, já está muito avançado. Esta conversa tem-se a partir dos 40 anos quando, à partida, a mulher já teve tempo para ter filhos. Ao remover os ovários há também uma prevenção do cancro da mama, porque se está a remover a maior fonte de hormonas.

Veja na página seguinte: Os fatores de risco na origem dos cancros esporádicos

Os cancros esporádicos estão relacionados com que fatores de risco?

Fumar e, principalmente, fumar durante a puberdade, quando as meninas começam a menstruar e há um grande desenvolvimento da glândula mamária. Também está descrito como fator de risco o não ter filhos ou ter filhos muito tarde. Mulheres que tenham a menstruação muito cedo na vida e a menopausa tarde têm muitos anos de exposição a altos níveis de estrogénio no organismo.

A terapêutica hormonal de substituição, que as mulheres fazem quando chegam à menopausa, está associada a um risco aumentado de cancro da mama, sobretudo, se for tomada durante mais de cinco anos. A obesidade está associada a cancro da mama porque o tecido gordo também produz estrogénios.

Também se fala das pessoas que vivem nos centros urbanos terem uma vida mais stressada, fazerem uma alimentação desadequada e estarem expostas a muita poluição. Há uns anos, fez-se um estudo com mulheres japonesas, onde a incidência do cancro da mama era bastante mais baixa.

Quando essas senhoras emigraram e foram para os Estados Unidos da América (EUA), as suas filhas já tinham uma incidência de cancro da mama igual às americanas. Portanto, não era a genética. O estilo de vida é que era completamente diferente NOS EUA daquele que as mães tinham no Japão.

Texto: Filipa Basílio da Silva