Pesquisar na Internet para perceber o porquê de um qualquer sintoma, nosso ou de um familiar, é muito comum. Mas decifrar alguns textos do espaço virtual pode ser uma tarefa inglória e, muitas vezes, chega-se a “diagnósticos” alarmistas. “Uma memória que já viu melhores dias nem sempre é sinónimo de demência e pode dever-se a outras causas, como Alzheimer ou um AVC, mas também cansaço”, sublinha José Carlos Almeida Nunes, especialista de medicina interna e autor de Doutor, o que poderá ser? (edição Contraponto).

O novo livro do médico especialista em medicina interna, que é também apresentador do programa Médico da Casa, da SIC Mulher, clarifica o que significam realmente alguns dos sintomas mais comuns que os doentes já lhe apresentaram. Uma abordagem que não esquece os cenários opostos: apesar dos sinais que o nosso corpo nos dá de que algo está errado, ignoramo-los com um “Ah, isso não é nada!”, e quando nos damos conta, já é tarde.

Desta forma, nas páginas de Doutor, o que poderá ser?, o autor percorre alguns dos sintomas mais comuns que os doentes lhe apresentam, entre os quais a perda de peso involuntária, alterações no formato e coloração das unhas; queda de cabelo, dores de cabeça frequentes, prurido generalizado, cansaço e sensação de fraqueza.

José Carlos Almeida Nunes formou-se em Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Especialista em medicina interna, a sua prática clínica centrou-se sobretudo no Hospital de Santa Marta, em Lisboa, bem como noutros hospitais públicos e privados. Tem dedicado as últimas quatro décadas à medicina e a cuidar dos seus doentes, mas também a partilhar os seus conhecimentos tanto com os colegas, como com o público em geral.

“Quando um paciente entra no meu consultório, recebo-o sempre com um abraço” – A medicina integrativa explicada pela médica Ana Moreira
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De Doutor, o que poderá ser? publicamos o excerto abaixo:

Principais sinais e sintomas de anemia

- A palidez cutâneo-mucosa é talvez o sinal mais clássico de anemia, caracterizando-se por pele pálida e olhos com as conjuntivas pouco coradas.

- Cansaço fácil para as tarefas do dia a dia. Este aspeto é muito importante e deve sempre fazer pensar numa anemia.

- Se for de instalação súbita, por exemplo, uma perda de sangue por acidente, o cansaço instala-se de forma súbita; já no caso de uma anemia crónica, como sucede numa perda crónica de sangue por uma lesão do intestino, por exemplo, o nosso organismo arranja formas de compensação e o cansaço torna-se muito menos evidente, por mecanismos adaptativos do nosso organismo.

- Taquicardia, com o coração a bater mais depressa para compensar a falta da hemoglobina.

- Dor de cabeça frequente e tonturas.

- Irritabilidade, falta de capacidade de concentração.

- Queda de cabelo e unhas quebradiças.

- Hipotensão arterial, sobretudo se esta ocorrer em hipertensos tratados. Nesses casos, poderá ser necessário reduzir alguma medicação.

- Vontade de comer coisas estranhas, como terra ou barro. Isto não é tão raro quanto isso nas crianças com anemia ou em grávidas e mais não é do que uma forma instintiva de o nosso organismo nos demonstrar que precisamos de repor esse elemento tão importante que é o ferro.

Cansaço fácil, queda de cabelo e vontade de comer coisas estranhas. Os principais sintomas de anemia explicados pelo médico José Carlos Almeida Nunes

A anemia por falta de ferro

A anemia por falta de ferro, chamada ferropénica ou ferripriva, é de longe a forma mais comum das anemias e pode ser causada por vários fatores:

- Perdas de sangue (hemorragias) – Em caso de perdas de sangue pelo ânus devido a hemorroidal ou hemorragias nasais em quantidade e frequência suficientes para provocar anemia, a causa está encontrada e terá, obviamente, de ser tratada.

- No caso da mulher, as perdas menstruais abundantes (menorragias) constituem uma causa frequente e por vezes negligenciada, sendo inclusive consideradas “normais” em muitos casos. Períodos menstruais com demasiado fluxo são uma causa frequente de cansaço crónico e de dificuldade de concentração no dia a dia para as mulheres e não devem ser desvalorizados. Um sangramento excessivo não é normal e pode indiciar problemas mais graves, como, por exemplo, endometriose, pelo que deve sempre ser comunicado ao ginecologista para avaliação.

- Má absorção do ferro – Dado que as fontes de ferro são alimentares, a sua absorção é essencialmente intestinal. No entanto, o ferro que é libertado pelos glóbulos vermelhos envelhecidos e destruídos também é reabsorvido e volta a ser utilizado pelo organismo. O idoso tem menor capacidade absortiva deste elemento, pelo que é necessária uma vigilância adicional nestas faixas etárias.
As doenças intestinais inflamatórias, como a colite ulcerosa, a doença de Crohn e a doença celíaca são causas frequentes de má absorção do ferro. A gastrite atrófica, uma doença autoimune na qual há destruição das células glandulares do estômago por autoanticorpos, determina acima de tudo uma má absorção da vitamina B12 (conforme veremos adiante com mais pormenor), mas também má absorção do ferro.

- Dieta deficiente – Ao contrário da crença habitual, uma deficiência de ferro na dieta é atualmente uma causa rara de anemia ferripriva em adultos saudáveis. A dieta da maioria das pessoas contém quantidades suficientes de ferro para compensar as pequenas perdas que ocorrem ao longo do tempo.

A não ser em pessoas com desnutrição por défice alimentar, como acontece em países subdesenvolvidos, não é preciso haver muita preocupação com a dieta, pois a maioria das carnes tem quantidades suficientes de ferro. Mesmo os vege- tarianos são capazes de ingerir boas quantidade de ferro, já que alimentos como os espinafres, os ovos, o gérmen de trigo, o feijão e os cereais contêm bastante ferro.

Na anemia ferropénica, além de os valores da hemoglobina e das hemácias estarem baixos, temos a sideremia e a ferritina também baixas. A sideremia expressa a quantidade de ferro no sangue e os valores de referência são as seguintes:

- Crianças: 40 a 120 μg/dl;

- Homens: 65 a 175 μg/dl;

- Mulheres: 50 170 μg/dl.

A ferritina, uma proteína importante que atua na reserva orgânica de ferro, encontra-se principalmente no fígado, baço e medula óssea. A variação normal da ferritina está entre 20 e 80 nanogramas por mililitro de sangue. Um resultado abaixo de 20 ng/ml significa deficiência em ferro, e acima de 80 ng/ml revela sobrecarga.

Resumindo, na anemia ferropénica temos:

- hemoglobina baixa;
- glóbulos vermelhos com valores baixos;
- sideremia baixa (de uma maneira geral, abaixo de 50ug/dl);
- ferritina baixa (inferior a 20 ng/dl).