Conceição Grilo tem 37 anos e trabalha na Região de Turismo de Portalegre. Há cerca de três anos descobriu, por acaso, que tinha um cancro no colo do útero.

Por sorte, o tumor foi detectado numa fase inicial e pôde ser retirado sem comprometer o seu desejo de ter filhos. Dois meses depois de saber que estava livre de perigo, engravidou.

Agora que o filho já tem oito meses, pretende ser mãe novamente.

O diagnóstico de cancro do colo do útero surgiu, casual e inesperadamente, no decorrer de uns exames realizados por Conceição Grilo antes de iniciar um tratamento de fertilidade.

"Desde os 30 anos que estava a tentar engravidar sem conseguir. Eu e o meu marido queríamos muito ter filhos, chegámos a fazer um tratamento hormonal, mas como não surtiu o resultado pretendido, passado algum tempo, parámos. Até que, quando eu tinha 34, 35 anos, resolvemos reiniciar o processo", explica.

"Para isso, a minha médica pediu-me que fizesse uma nova bateria de exames, entre osquais uma citologia. Quando veio o resultado da citologia acusava a presença de uma lesão por HPV [papilomavírus humano]. Fizeram-me uma conização [biópsia em forma de cone] que foi para análise e aí é que se descobriu que se tratava de uma lesão tumoral", revela.

O diagnóstico de cancro do colo do útero no momento em que estava a tentar engravidar não podia vir em pior altura. "Apesar de saber que este cancro tem uma elevada taxa de mortalidade, o que mais me angustiou não foi isso, mas sim a eventual mutilação do útero que me impossibilitasse de ter filhos, que era um sonho que eu e o meu marido estávamos a tentar concretizar", desabafa.

Curiosamente, se não fosse o problema de infertilidade talvez não tivesse detectado o tumor a tempo de ser removido sem consequências para a sua saúde. "O cancro do colo do útero é uma doença silenciosa, que não acusa qualquer sintoma. Acho que foi uma sorte ter reiniciado os tratamentos naquela altura, a tempo de detectar a lesão. Se não tivesse sido assim...", enfatiza.

A importância de preservar o útero

Após o diagnóstico, Conceição Grilo foi logo reencaminhada para o Instituto Português de Oncologia (IPO), em Lisboa, onde se submeteu a uma segunda conização para remover os tecidos lesados. Determinação e atitude positiva foram as suas armas para enfrentar todo este processo.

O seu maior desejo era ter filhos e estava disposta a não deixar que nada (nem mesmo um cancro) interferisse nesse plano.

"Passado o choque e a angústia iniciais, formatei-me para alcançar esse objectivo. Falei aos médicos na importância de preservar o meu útero e confiei no sucesso da intervenção cirúrgica", refere.

O resultado da cirurgia

Após a cirurgia nem precisou de esperar muito para saber as boas notícias. "O resultado da análise mostrou que a parte do colo do útero extraída continha à volta tecido são, o que significa que o tumor tinha sido totalmente extraído e com sucesso e que o colo do útero ficou sem vestígios de tumor", sublinha.

De tal forma que nem sequer foi preciso fazer quimioterapia ou radioterapia. Passados dois ou três dias, teve alta e estava pronta a retomar os planos de engravidar.

"Entretanto, já estava inscrita no hospital de Santa Maria [em Lisboa] para fazer tratamento de fertilidade. Em Janeiro [de 2006], soube o resultado dos exames e, em Fevereiro, já estava a fazer uma inseminação. Engravidei logo de seguida", explica.

Afastado o perigo do cancro e, agora que o filho já tem sete meses, Conceição Grilo não quer perder mais tempo e pretende engravidar novamente. "Não queremos desperdiçar este timing em que parece estar tudo a correr tão bem e queremos ter já outro filho", desabafa.

Final feliz

O caso de Conceição Grilo é sintomático da importância da detecção precoce do cancro do colo do útero no prognóstico da doença. "Quando voltei à minha médica para lhe contar que estava livre de perigo e que já estava grávida de dois meses, ela ficou surpreendida. Não é assim tão comum surgirem casos com desfechos felizes como o meu", lamenta.

O final feliz desta história fica ainda a dever-se, na opinião de Conceição Grilo, ao apoio incondicional do marido.

Além disso, o "excelente acompanhamento" médico foi fundamental. "O IPO tem uma equipa muito bem estruturada não só a nível clínico mas também em termos de apoio humano", faz questão de frisar.

"Eu vivo no interior [Portalegre] e aqui surgem poucos casos por ano. Até a minha médica, quando soube, ficou assustada. No IPO, casos como o meu são muito comuns. Desdramatizaram a minha situação, assegurando-me que iam cuidar bem de mim, o que foi muito reconfortante", acrescenta ainda.

Os conselhos de Conceição Grilo

Tenha uma atitude positiva
"Como em tudo na vida, é importante encarar os problemas de forma positiva mas, ao mesmo tempo, realista. Ter sempre presente os vários cenários possíveis, mas lutar para conseguir vencer as dificuldades e ir ao encontro dos nossos objectivos"

Vacine-se
"Na minha idade já não é possível agir preventivamente, mas para quem tem filhas a entrar na adolescência é fundamental vacinarem-nas contra o HPV. Apesar de ainda não estar incluída no plano de vacinação e de ter um custo um pouco elevado, não tenho dúvidas de que, independentemente do nível socio-económico, qualquer mãe quer salvaguardar a saúde das filhas"

Faça um controlo periódico
"É fundamental fazer os rastreios e os despistes recomendados pelo médico. Na minha faixa etária, devemos fazer citologias de dois em dois anos, e é muito importante não falhar. A partir dos 40 são as mamografias... São a única forma de detectar doenças como o cancro do colo do útero que não apresenta sintomas até estar numa fase muito avançada"

Passe a palavra
"É o mote da campanha de prevenção do cancro do colo do útero e é, de facto, uma mensagem muito importante. Espero, por isso, que o meu testemunho possa sensibilizar outras mulheres para a necessidade de estar alerta a esta doença e incentivar a vacinação do maior número possível de mulheres jovens

Cancro do colo do útero

O que é?
É um tipo de cancro que se desenvolve no colo uterino da mulher, a parte inferior do útero, que o liga à vagina.

Como se manifesta?
É um cancro silencioso no sentido em que causa alterações lentas e progressivas nas células normais do colo do útero, podendo demorar anos a desenvolver-se, sem apresentar qualquer tipo de sintoma. Os sintomas aparecem quando o cancro invade outros tecidos ou órgãos: pequenas perdas entre as menstruações, hemorragias após as relações sexuais...

Qual a sua causa?
A causa deste cancro é um vírus (e não um factor hereditário, como em grande parte dos cancros). Este vírus – papilomavírus humano (HPV) – transforma as células do colo uterino, provocando lesões, que, em alguns casos, progridem para lesões cancerosas.

Quem corre mais perigo?
40% das mulheres com diagnóstico de cancro do colo do útero têm entre 35 e 54 anos. No entanto, muitas delas estiveram, provavelmente, expostas ao papilomavírus humano durante a sua adolescência e juventude (13-29 anos).

É a segunda causa de morte por cancro na Europa e, só em Portugal, mata uma mulher por dia, sendo diagnosticados cerca de 950 novos casos por ano. As mulheres fumadoras têm, aproximadamente, o dobro da probabilidade de ser afectadas.

Como prevenir?
Vacine-se. A vacina, à venda desde o início do ano, impede a infecção por HPV. E fazer exames ginecológicos de rotina: a detecção precoce aumenta a possibilidade de cura.

Texto: Fernanda Soares
Fotografia: Cláudia Azevedo