A noção de que existe algo, que é conhecido, que tem um nome, fará dissipar um conjunto de medos, que se por um lado poderá trazer mais seguranças e uma linha orientadora do caminho, por outro, não deixa de continuar a levantar inquietações: “E agora?”; “Como vai ser o futuro?”.

A família, a escola e a própria criança passam por esta fase de incertezas. O nível de aceitação é diferente para cada um e muitas vezes, numa fase inicial, tem etapas que não se alinham em simultâneo.

A criança, em muitos casos, é a primeira a reconhecer as suas reais dificuldades, por ter como “vantagem” um longo caminho percorrido. Por vezes, a família, encontra-se numa fase de negação e parte numa tentativa desesperada de fuga, porque a realidade não corresponde às expetativas que idealizou para o seu futuro. O contexto escolar tem como visão que o ensino adequado, o tempo necessário e o esforço de todos, vai permitir que o “click” surja e que a criança supere as suas dificuldades. Este caminho, que parece desregulado, é necessário e faz parte de um processo de aceitação que é fundamental para a consolidação do problema, ou melhor, da realidade. Contudo, será uma realidade diferente daquela que foi planeada ou imaginada, mas que não tem de ser necessariamente negativa.

Uma Dificuldade de Aprendizagem Específica (DAE) não tem um sentido diferente. O medo de enfrentar as dificuldades diárias e a antecipação do futuro é, geralmente, transversal às diferentes problemáticas. O diagnóstico poderá ser visto como um continuum entre dois polos: o medo e a aceitação. É um espaço de partilha que ajuda os diferentes intervenientes a integrar esta experiência. Quando conseguem superar um conjunto de desafios emergem sentimentos de confiança e de maior competência.

Por vezes, os técnicos recebem o testemunho dos pais: “Como foi possível ter percebido o que se passa e ter tido a coragem de dizer perante a turma que tem disortografia e dislexia e que por isso pode ler mais devagar ou escrever com alguns erros”. É verdade que o nível de desenvolvimento é fundamental para a explicação do diagnóstico, mas para a criança este é um momento libertador que dá sentido a uma série de dúvidas e inquietações.

Os pais entram neste novo mundo e a escola acompanha e auxilia o processo. Quando conseguem trabalhar em sintonia e integrar esta nova perspetiva trabalham com um NOME, que pouco importa considerando a individualidade de cada criança, mas que é fundamental e dá vida a um processo de crescimento e de aprendizagem.

Andreia Cunha
Psicóloga Clínica no Núcleo de Dificuldades de Aprendizagem Específicas

andreia.cunha@pin.com.pt

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