Os americanos chamam-lhes "pais helicóptero". São pais que sobrevoam a vida dos filhos de forma constante, por vezes obcecada, controlando ou tentando controlar todos os minutos do seu dia-a-dia. Se é o seu caso, o melhor é ligar o sinal de alerta. E quanto mais cedo melhor. Proteja sim, mas sem excessos. A superproteção poderá vir a ser uma armadilha e as consequências podem prejudicar seriamente o desenvolvimento harmonioso do seu filho. Crianças hiper-protegidas tendem a desenvolver menos competências emocionais e a apresentar fragilidades na capacidade para resolver conflitos. Podem igualmente apresentar pouca tolerância à frustração e a não conseguir manter amizades duradouras na medida em que não estão habituadas a ceder.  ​

Atenção, é natural que queira proteger o seu filho, sobretudo se ele apresentar qualquer tipo de dificuldade, mas não caia no erro de o proteger em excesso, por exemplo, resguardando-o em casa a ver televisão ou a jogar playstation ou a navegar nas redes sociais em vez de brincar na rua, como se o mundo lá fora, longe da família, afastado do lar, fosse algo extremamente perigoso a evitar.

​Pais excessivamente controladores podem, sem querer, constituir-se como um travão ao desenvolvimento saudável da criança, prejudicando-a involuntariamente ao nível, por exemplo, da sua própria felicidade e autonomia. Vejamos, para ser feliz a criança precisa aprender a acreditar em si mesma.​ Ser superprotegida não é sinónimo de felicidade.

​Não permita que a vontade - inteiramente legítima - de proteger o seu filho se torne uma obsessão. Deixe a criança experimentar novas emoções, gerindo-as de forma autónoma e não a prive da possibilidade de assumir riscos e de sofrer as consequências dos seus atos, quer a nível físico quer emocional. É importante que ela aprenda com os seus erros e fracassos para se tornar mais forte, desenvolvendo simultaneamente a capacidade para pensar em alternativas essenciais à superação se situações dilemáticas.

Dê-lhe autonomia de acordo com a respetiva faixa etária, nunca esquecendo, todavia, de exercer plenamente a sua autoridade e de lhe dizer quando é preciso, a palavra-mágica essencial numa boa educação: "não!".  Saber impor limites é absolutamente fundamental para o seu crescimento.

​Filhos superprotegidos podem tornar-se adultos inseguros, frágeis e até preguiçosos. Isto não quer dizer que deva estimular excessivamente a autonomia. Há a necessidade de ir adequando as estratégias a utilizar em função de cada idade. A proteção é essencial na educação das crianças, diríamos mesmo que é um cuidado absolutamente necessário para o crescimento, mas autonomia em excesso pode ser prejudicial. ​Há que saber encontrar o equilíbrio, o que por vezes pode ser uma tarefa árdua para os pais.​

Onde estará a afinal essa fronteira, ou seja, quando é que o controlo e a autonomia se tornam excessivos? Antes de mais, é essencial que os pais rejeitem a ideia de que apenas a casa lhes oferece garantias de segurança. Estar em casa a navegar numa rede social sem controlo, sujeita aos riscos da internet pode ser, afinal, muito mais arriscado do que brincar na rua.   ​

Crianças hiper-protegidas podem ser não só menos autónomas, como também mais dependentes e manipuláveis, custando-lhes tomar decisões e assumir as responsabilidades dos seus atos, mostrando evidentes sinais de fraqueza que, no limite, as podem transformar em potenciais vítimas, por exemplo, de bullying.

Há que saber, igualmente, gerir com sucesso as emoções e frustrações e as crianças só o conseguirão fazer se os pais também mostrarem essas capacidades.  Ser paciente e tolerante é um dos segredos.

5 estratégias para o ajudar a controlar os impulsos naturais de superproteger o seu filho

1. Não tenha medo

Desde os primeiros passos o seu filho tentará vivenciar muitas experiências novas, querendo testar os seus limites. Faz parte da vida que assim seja. Se a criança apresentar dificuldades de aprendizagem e de atenção essas experiências podem ser mais difíceis, mas isso não significa que não deva ter a oportunidade de tentar.

Em vez de alimentar todos os medos da criança, ofereça-lhe planos para que os consiga ultrapassar. Por exemplo, se está preocupado em que ela vá para a escola sozinha de autocarro no primeiro dia de aulas, não se ofereça para a levar no seu carro. Em vez disso, proponha segui-la à distancia até à escola através da sua própria viatura para que a criança se sinta mais confiante e segura. Passados 2 ou 3 dias verá que já não precisará de o fazer.

2. Reconheça a ansiedade de todos

Quando o seu filho vai dormir para um acampamento ou para uma brincadeira sem a sua supervisão, ambos podem sentir-se ansiosos. Como reagir? Há dois caminhos completamente opostos. Em vez de optar por deixá-lo em casa impedindo-o de viver essa experiência, procure ferramentas que lhe permitem fazer a gestão dessa ansiedade da melhor forma. Converse com a criança. Mostre-lhe que a ansiedade e a preocupação são normais de um lado e de outro, mas não devem impedi-la de viver novas realidades. Em conjunto descubram formas de solucionar essas inquietações, elaborando um plano em conjunto para situações/momentos mais difíceis de gerir. A criança sentir-se-á certamente mais confiante e capaz depois de cumprida com sucesso a missão.

3. Estabeleça expectativas

Se a criança costuma fazer birras quando confrontada com algo que não deseja, é mais fácil paras os pais não insistir do que impor regras para um bom comportamento. Estabeleça expectativas quotidianas para que a criança saiba que é responsável pelas suas ações. Em simultâneo, mostre-lhe que confia nela e que acredita que irá comportar-se de maneira adequada perante as responsabilidades que lhe foram confiadas.  Definam em conjunto a lista de tarefas semanais a cumprir e, se necessário for, escrevam numa folha cada uma dessas obrigações que ambos devem seguir.

4. Deixe a criança errar

Deixar errar não significa ensiná-la a fracassar. Não. Significa permitir que a criança cresça com os próprios erros, ganhe maior maturidade e melhor preparação para enfrentar os imensos desafios que se lhe vão surgir pela vida fora. Se, por exemplo, o seu filho tem sentido problemas de relacionamento com alguns colegas, dê-lhe ferramentas que lhe permitam superar, mas não tente resolvê-los por ele, a menos que, por alguma razão, esteja em perigo ou tenha cometido algum erro do qual não se consiga libertar.

5. Desista da culpa

Muitos pais de crianças com dificuldades de aprendizagem e atenção sentem-se culpados. Esse sentimento de culpa leva-os, não raras vezes, a aumentar o sentido de proteção e a chamar a si muitas das responsabilidades que deviam competir em exclusivo à própria criança. A intenção é boa como facilmente se compreenderá, mas essa proteção excessiva fará a criança sentir-se diferente e menos capaz. Liberte-se dessa culpa sem sentido.

Ajude o menor a identificar os seus pontos fortes e fracos. Só assim conseguirá melhorar. Ensine-o a ter consciência das suas competências de forma estimular a sua autonomia e a superar novos desafios. Ser protetor - mas não superprotetor - é a maneira mais eficaz de o deixar crescer sem amarras e de o conquistar por meios próprios mecanismos de defesa que lhe permitam enfrentar com maior segurança os obstáculos da vida.

Importa termos presente que em termos de desenvolvimento a função mais importante das famílias para as sociedades é a de cuidar e dar os primeiros passos na socialização dos seus filhos. Como cada criança encerra em si um mundo maravilhoso e infindável de habilidades e dificuldades, talentos e desafios, há que atender a cada uma na sua singularidade, não esquecendo que há ingredientes como a aceitação, a par da exigência/controlo, da comunicação eficaz e do trabalho em equipa que poderão ser fundamentais na desafiante tarefa da parentalidade.

Artigo publicado por SEI - CENTRO DE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM