“Isto devia-se ter acelerado. Sei que os concursos são muito difíceis, mas se se tivessem envolvido mais as câmaras municipais e as próprias escolas nas aquisições, se não fosse uma coisa toda centralizada poderia, se calhar, ter sido mais célere”, afirmou a escritora.

Para Isabel Alçada, professora de formação, os computadores são neste momento de pandemia e confinamento social, a melhor solução para manter a ligação dos alunos aos professores e à escola.

“O problema é aqueles que não têm computador ou que ainda não têm. Sabemos que o ministério anunciou que ia proporcionar computadores ou tablets a todas as crianças que beneficiam da Ação Social Escolar, mas ainda não têm”, sublinhou.

“Como já tive responsabilidades, sei que se podia ter feito mais rapidamente, mas pronto! Agora temos de fazer o mais rapidamente possível daqui para o futuro, porque não vale a pena chorar sobre o leite derramado”, acrescentou a ex-ministra.

Isabel Alçada, que sucedeu a Maria de Lurdes Rodrigues na pasta da Educação, em 2009, e que é atualmente assessora para a educação da Presidência da República, falou à Lusa na qualidade de membro do conselho consultivo do EDULOG, um projeto da Fundação Belmiro de Azevedo que tem por objetivo promover reflexões e apresentar contributos para melhorar o sistema educativo.

Fora da sala de aula, referiu, a educação é “muito menos conseguida” e a aprendizagem fica prejudicada. “Mas ter-se uma ligação por computador ao professor é mil vezes melhor do que não ter nada”, sustentou.

“Esta interrupção de aulas presenciais tem efeitos em todos, todos aprendem com mais dificuldade, mas os efeitos são mais negativos em alguns grupos do que noutros. E isso pode agravar o insucesso escolar e a desistência e, a prazo, pode agravar as taxas de retenção, que no nosso país já são tão altas”, observou.

Isabel Alçada destacou que a vida escolar não se reduz ao tempo da sala de aulas. Envolve muitas outras atividades interrompidas pelas medidas de prevenção de contágio do vírus SARS-CoV-2, como o recurso às bibliotecas e as experiências que os alunos têm no contacto com colegas, funcionários e professores, sejam convívios, jogos, brincadeiras, partilha de refeições e de experiências com pessoas mais ou menos próximas, inclusive nos transportes.

“Os círculos de colegas que vão a casa um dos outros, tudo isso cria um sistema de interação social que não podemos ignorar quando pensamos no impacto da pandemia”, defendeu, indicando que é desta forma que as crianças e os jovens vão conquistando autonomia e percebendo que existem modos de vida diferentes: “As pessoas pensam que isto é um anexo, mas não é. É muitíssimo importante!”.