No final do debate parlamentar de urgência pedido pelo PSD sobre educação, Tiago Brandão Rodrigues gastou os seis minutos disponíveis para fazer um cerrado ataque aos sociais-democratas, quer em matéria de educação quer, até, acusando-os de “patrocinar” o partido Chega.

“O PSD traz-nos aqui o que aconteceu entre 2011 e 2015 [período de Governo PSD/CDS-PP], um tempo de querubins e de querubinas, um tempo de serafins e de serafinas. E agora só Lucíferes, Belzebus, entre os cornudos que existem por aqui a trabalhar a educação”, ironizou.

O ministro disse não compreender a urgência do PSD neste debate, “por não ver essa ansiedade no país”, e disse ter respondido “a mais de mil perguntas” das 1.252 perguntas que recebeu do parlamento.

“É da mais elementar justiça, o ministro da Educação vir dizer bravo às escolas, bravo aos diretores, bravo aos docentes, bravo aos não docentes, bravo aos alunos e bravo também suas famílias, que mesmo num tempo tão difícil conseguiram erguer em cada escola um espaço de segurança e de confiança”, saudou.

Para Tiago Brandão Rodrigues, a motivação do PSD ao convocar este debate “não foi certamente discutir a educação”, mas “surfar um conjunto de descontentamentos e dificuldades que sempre existem e existirão”

“Gostava de ver o PSD a defender a escola pública, mas o que vemos é o PPD/PSD a aplaudir a intervenção do deputado do Chega”, disse, considerando ter sido notório também no debate de hoje que a ascensão do Chega é “patrocinada por parte do PSD”.

O ministro aconselhou ainda o deputado único André Ventura a frequentar algumas aulas de Cidadania e Desenvolvimento, acusando-o de ter confundido conceitos como casos e surtos que “as crianças conseguem distinguir”.

Às muitas perguntas feitas por todas as bancadas da oposição - sobre número de professores ou pessoal não docente em falta, as discrepâncias dos números oficiais de casos nas escolas e os apontados pelos sindicatos ou os maus resultados em estudos internacionais -, o ministro apenas repetiu o anúncio já feito na sexta-feira de que “mais 260 mil computadores estão a chegar às escolas”, somando-se aos cem mil já disponibilizados.

“As famílias não se deixam enganar, os professores, os diretores não se deixem enganar”, afirmou, pedindo ao PSD para deixar a “chicana política” e “ajudar a construir para que o segundo e terceiro períodos sejam tão positivos como foi o primeiro”.

Na resposta, o PSD acusou o ministro de “indigência inclassificável” e o deputado e vice-presidente da bancada Luis Leite Ramos comparou Tiago Brandão Rodrigues aos “vendedores de feira” que falam durante horas sem dizerem nada.

“Continua a empurrar os problemas com a barriga (…) Nem sequer tem respeito por quem pediu este debate de urgência, o país, as escolas, o parlamento merecem mais”, afirmou.

Os protestos vieram também da parte da esquerda, com a deputada do BE Joana Mortágua a lamentar que o ministro tenha esgotado o seu tempo “sem responder a nenhum dos problemas que se verificaram no primeiro período”, como a existência de muitos alunos sem aulas ou existirem mais de mil horários de professores que pagam “abaixo do Salário Mínimo Nacional”.

Também a deputada do PCP Ana Mesquita criticou o ministro por ter “ficado do lado de lá” - referindo-se à bancada do PSD - e optado por não responder às dúvidas da sua bancada, como quando será concretizada a proposta do partido aprovada no Orçamento do Estado para 2021 e que prevê mais 5.000 trabalhadores não docentes nas escolas.

Durante o debate, a deputada do PAN Bebiana Cunha alertou para o problema do envelhecimento do corpo docente e apelou ao ministro para que, em janeiro, “saia do seu pedestal” e dialogue com os representantes do setor.

Pelo CDS-PP, Ana Rita Bessa optou por enumerar o que considerou serem as promessas não cumpridas do ministro, como a disponibilização de computadores a todos os alunos no arranque no ano letivo, e lamentou que, apesar de ser o ministro “com mais longevidade” na pasta da Educação, continue a responsabilizar o antecessor.

O deputado único e presidente da Iniciativa Liberal acusou igualmente o Governo de “fugir às suas responsabilidades” em matéria de educação e lamentou que quem “pague o preço são milhares de jovens”.

Pelo PS, o deputado Porfírio Silva contestou esta visão e, em concreto sobre a avaliação internacional TIMSS, apontou que o grande salto do país se deu entre 1995 e 2011 (um período maioritariamente de governação socialista), e que as diferenças na última década nessa avaliação estão “ao nível das centésimas”.

Já a deputada Mariana Silva, d’ “Os Verdes”, repartiu as culpas, dizendo que se “o Governo em matéria de escola pública tem má nota, o PSD também chumbava”.