Os opostos atraem-se, mas podem começar por se repudiar. Um repúdio particularmente notório na infância e adolescência, quando o convívio se intensifica e as hormonas entram em ebulição.

Num artigo da Psychology Today, o professor Nick Luxmoore, psicoterapeuta com 40 anos de experiência em trabalho com jovens, tenta explicar porque é que os rapazes estão sempre a implicar com a miúdas. Muitas vezes de forma agressiva.

Autor de onze livros dedicados aos jovens e aos seus dilemas, fala de um “encobrimento inventado por rapazes e homens” que nasce dos sentimentos que nutrem pelas mães. “Quando eles gozam ou chamam nomes às miúdas, estão a expor a criança edipiana que percebe que nunca terá a mãe só para si, cabendo-lhe, na melhor das hipóteses, partilhá-la com os outros. Essa perceção e a sensação de injustiça são terríveis”.

O especialista diz que todos os rapazes percebem que a mãe possui algo que eles querem e que não conseguem descrever, antevendo que tal desejo nunca será realizado. “Então, encontram uma maneira de lidar com a situação, fingindo nada ter a ver com ela e atacando tudo o que ela representa, mesmo que continuem a amá-la e fossem capazes de qualquer coisa para a ter”.

Esta perspetiva poderia explicar também porque tantos romances de cordel começam com homens que parecem desprezar as mulheres para depois lhes caírem, apaixonados, nos braços.

“Os rapazes carregam esses sentimentos mistos sobre as mães desde a infância, o que faz germinar neles uma espécie de inveja das raparigas. Eles têm de suportar o facto humilhante de que as raparigas atingem mais cedo a puberdade, deixando-os para trás”. E como é que eles reagem a isso? “Fazendo barulho, exagerando, envolvendo-se em brigas, gabando-se das coisas, usando e abusando dos palavrões”.

Nessa altura, surge uma nova ferroada da parte delas. “Claro que as miúdas aproveitam para gozar com eles, perguntando-lhes como conseguem continuar a ser tão infantis e aconselhando-os a crescerem”. Os rapazes percebem o quão mais competentes elas são em tarefas familiares – e cada vez mais, também, nos estudos – quão mais emocionalmente equilibradas tendem a ser, e o quanto isso granjeia a aprovação dos pais e professores.

“Como adolescentes, eles detetam o mistério feminino, a sua capacidade reprodutiva e a intimidade da relação entre a mãe e o bebé: uma intimidade física e psicológica da qual rapazes e homens são necessariamente excluídos”.

Acrescenta Luxmoore: “Claro que todos estamos sujeitos a predisposições biológicas. E os rapazes não querem abdicar da sua condição, eles adoram o poder. O problema é que eles gostariam de ter tudo. Num universo binário em que as pessoas são educadas para serem uma coisa ou outra, eles são obrigados a ser rapazes e a negar que querem ser raparigas”. E começam a matar o seu desejo secreto aplicando toda a energia de que dispõem em depreciar as miúdas.  “Menosprezam as conquistas delas, tipificam-nas e aplicam-se especialmente em envergonhar a feminilidade que, secretamente, admiram e desejam”.

Nick Luxmoore diz que é cansativo viver nesse duelo. “Manter a fachada masculina é altamente desgastante. Os rapazes acabam por se recusar a falar dos seus próprios sentimentos, por medo e vergonha, valorizando o poder e a autossuficiência”. Fazem de conta que não precisam de nada nem invejam ninguém. “Celebram a força física, única área em que acreditam ter alguma vantagem sobre as raparigas, e criam grupos masculinos para reforçar a sua identidade e suposta omnipotência”.

O especialista termina o seu artigo de forma irónica: “Não importa as teorias sobre a inveja do pénis. É a inveja da vagina que faz o mundo girar: rapazes e homens sentem necessidade de enfraquecer os outros – ou as outras – e triunfar sobre a inveja para não se sentirem tão desfasados”.