As livrarias estão cheias de manuais para educar os filhos, mas os filhos não param de arranjar formas de surpreender os pais – nem sempre pela positiva. A democratização da parentalidade, com base no princípio da cooperação (em vez de obediência), tem os seus efeitos positivos, mas deixa frequentemente nas mãos das crianças um poder que é dos adultos.

No livro The Collapse of Parenting (O Colapso da Parentalidade), o psicólogo e especialista em relações familiares, Leonard Sax, deixa um conselho liminar: “Comande, não pergunte, não negoceie”.

O médico norte-americano disse à CNN que, sem quererem, muitos pais estão a contribuir para um leque variado de problemas das novas gerações, nomeadamente, a obesidade e as doenças mentais

Leonard Sax admite que a educação autoritária, que tão bem funcionou no passado, já não é eficaz para os jovens de hoje. Mas isso não quer dizer que a obediência deva ser completamente substituída pela autogestão dos miúdos. Sax defende a premissa “ensinar as crianças através das consequências dos seus atos”. E alerta: “Mais rigidez quer dizer mais autoridade dos pais, mas isso também pode desencadear mais insanidade. Será assim tão mau permitir que a vida, e todos os seus imprevistos e circunstâncias, ocasionalmente atrapalhem as regras?”

Já Katherine Lewis, autora do livro The Good News About Bad Behavior (Boas Notícias Sobre o Mau Comportamento) defende que a velha ideia de que “quem manda sou eu, pura e simplesmente deixou de funcionar”.

Lewis tenta responder àquilo que considera ser “uma crise de autorregulação entre os miúdos” e acredita que esse fenómeno vai fazer com que quase metade das crianças venha a sofrer de problemas de humor, distúrbios emocionais ou algum tipo de dependência aos 18 anos.

Para Lewis, há quatro razões básicas para esta crise. A saber: a ascensão das redes sociais e da cultura tecnológica (que, garante, só faz o indivíduo “olhar para fora”), o declínio do tempo de vida em família, o desenraizamento social e uma educação pouco eficaz. “As crianças de hoje tendem a vaguear por aí sem grandes preocupações; são ensinadas a concentrar-se mais nas conquistas individuais do que no apoio à família, amigos e conhecidos”, disse a autora ao site da CNN.

Relativamente à responsabilidade dos pais, Lewis reforça que não os está a culpar, e pede que encarem a disciplina de outra forma. Primeiro, defende, é preciso “separar a nossa função de pais da ideia pré-estabelecida de que, como adultos, sabemos sempre o que é melhor”. E prossegue: “Embora essa abordagem autoritária tenha funcionado no passado, é ineficaz para a geração atual de jovens, mais familiarizada com a colaboração”, defende. “O volante já não está nãos mãos do pai e da mãe. Há hoje uma forte ideia de igualdade e eles sabem bem disso”.

Katherine Lewis explicou que, embora a educação autoritária ajude as crianças a serem melhores na escola e a evitarem alguns problemas, pode deixar cicatrizes emocionais. Razão pela qual, acredita, “muitos pais na década de 1980, criados por mães e pais autoritários, preferiram adotar uma abordagem oposta e seguir um estilo mais permissivo.”

O problema, sugere, é que fomos para o extremo oposto. “É daí que vem o culto da autoestima e da gratificação”, diz.

O que fazer? Renunciar à lei do medo que vigorava no passado e ajudar os miúdos a se auto-regularem. Não há receitas mágicas, é certo, mas existe uma regra permanente: “A única constante é encontrar uma forma de os consciencializar das consequências do que fazem, ao invés de avançar para a punição”, diz Lewis. “O castigo é algo imposto por alguém mais poderoso a outro, sem poder. As consequências ensinam-nos a aprender com os erros. São uma lição de vida”.