Fashion as an art form (que em português significa "Moda como forma de arte”) foi o tema da palestra que juntou a jovem estilista Maria Carlos Baptista e a fadista Carminho.

A sua relação remonta a novembro de 2020, ano em que a cantora portuguesa viu, pela primeira vez, uma das criações da ex-bailarina nascida em Coimbra que, devido a uma lesão nas costas, decidiu estudar Design de Moda na Modatex, em Lisboa. A fluídez da sua estética visual cativou-a imediatamente e, à semelhança de muitas histórias de amor, o primeiro contacto foi através do Instagram. "Vi umas fotografias tuas na Internet e apaixonei-me" disse.

Maria Carlos Baptista Portugal Fashion 2025
Maria Carlos Baptista Portugal Fashion 2025 créditos: Maria João Gala

Para além de terem gostos muito semelhantes em relação à moda, Carminho explica que aquilo que mais a atraiu nos designs da jovem promessa da moda nacional foi o facto de esta ter o dom de, sem revelar muito, fazê-la sentir-se sexy. "Gosto da mistura entre homem e mulher, de dar diferentes sentimentos a um homem e a uma mulher. Não gosto de mostrar muito. Sou mais reservada."

Quando Maria Carlos Baptista, um mês após ter vencido o concurso Bloom do Portugal Fashion com a coleção "Arquétipo", recebeu a mensagem para trabalhar com a fadista não queria acreditar. Para a criadora de 33 anos, "a autoexpressão é uma extensão do eu", referindo que, por vezes, é difícil explicar aquilo que está na base das suas criações. Desta parceria baseada no respeito e na admiração mútuas, nasceu uma forte amizade que, em vez de se transformar numa relação entre musa e artista, acabou por originar uma troca criativa entre duas artistas. "Pensei que tinha uma musa e que estava a trabalhar para ela, mas depois as coisas desenvolveram-se."

Mais do que talento, criatividade e bom gosto, é fundamental que o designer tenha em consideração o contexto em que as criações vão ser usadas. No caso de Maria Carlos Baptista, ao criar looks especificamente para concertos e apresentações ao vivo, é preciso ter em conta detalhes como a luz, a cor, o espaço e o ambiente do espetáculo. Antes de pegar no lápis e começar a desenhar, junta-se aquela que, para si, é outra das suas principais preocupações: de que forma pode elevar visualmente a presença da cantora de fado através do vestuário durante a performance.

Maria Carlos Baptista Portugal Fashion 2025
Maria Carlos Baptista Portugal Fashion 2025 créditos: Maria João Gala

"Eu não mudo de roupa muitas vezes. Nunca mudo de vestido a meio do espetáculo. Não acho que o vestido deva ser o foco central dos meus espetáculos. O vestido faz parte do espetáculo. Este existe para despertar sentimentos na audiência e não de me engolir", diz Carminho sobre a roupa que considera ser uma poderosa forma de comunicação dentro e fora do palco.

Durante o processo criativo, a estilista natural de Coimbra tenta garantir que os materiais escolhidos, para além de serem práticos, confortáveis e fluídos, não se amarrotem facilmente, proporcionem mobilidade e que tornem todo o processo de preparação em backstage muito mais fácil. "Às vezes não tenho ferros de passar a ferro", afirma a fadista, sem esconder o riso.

Com uma marca vinculada à relação entre corpo, espaço e matéria, Maria Carlos Baptista diz que o seu background como bailarina clássica a ajudou a compreender as necessidades de quem está em cima de um palco. "Se o teatro arder, ela consegue correr. Eu já estive em cima de um palco e sei como é: tens as luzes, tens as pessoas... Estás a pensar em muitas coisas e o pior que pode acontecer é teres um problema com o vestuário."

O facto de colaborar há vários anos com a fadista não fez com que sentisse necessidade de se reinventar enquanto designer de moda, muito pelo contrário. A única pressão que sente é a sua e que tudo se resume à máxima que leva consigo desde os tempos de ballet: tentar superar-se todos os dias.

Maria Carlos Baptista Portugal Fashion 2025
Maria Carlos Baptista Portugal Fashion 2025 créditos: Maria João Gala

Sobre o peso de preservar o fado tal como é - como algo tradicional e estático - Carminho diz que passou por um processo de amadurecimento a diferentes níveis e que teve de aprender a libertar-se do passado para poder ser ela mesma. "Eu precisava de dizer coisas diferentes", afirma.

Considerada uma das embaixadoras do fado fora de Portugal, diz que não sente pressão em usar outros designers e explica porquê. "Encontrei a minha alma gémea", diz a artista sobre esta relação criativa. "Uso a Maria porque acredito na Maria e na nossa conexão. Preciso de me sentir poderosa em palco e adoro dizer que ela é portuguesa", conclui.