“A sustentabilidade é a chave para garantir que este tesouro perdure. As mudanças climáticas, a pressão sobre os recursos naturais e os desafios socioeconómicos são realidades que não podemos ignorar. Através destas distinções, queremos inspirar toda a comunidade do Douro a abraçar a sustentabilidade como um valor central em todas as nossas atividades. Queremos incentivar a inovação, o respeito pela natureza e o compromisso com as gerações futuras”, sublinha Gilberto Igrejas, presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP), a propósito da entrega dos galardões “Douro + Sustentável”.

As distinções deste ano foram atribuídas a Jorge Lourenço, enólogo da empresa Vinilourenço, na categoria Enologia, ao projeto i-Grape (Sogrape) na categoria Viticultura, à Quinta de S. Luíz (Sogevinus) na categoria Enoturismo e, por fim, na categoria Revelação, foi distinguida a enóloga Rita Marques (Conceito Vinhos).

Um a um, fiquemos a conhecer os premiados na edição de 2023 dos galardões “Douro + Sustentável”:

Jorge Lourenço

No início da década de 2000, Jorge Lourenço, com apenas 18 anos, assumiu a responsabilidade de modernizar os 25 hectares de vinha já plantados, selecionar novas castas para ampliar a área de vinha e estruturar a empresa para vinificar as uvas e comercializar os vinhos produzidos. Nos últimos dez anos o crescimento da empresa foi imparável, fruto da qualidade e originalidade dos seus vinhos, onde a recuperação de castas antigas do Douro são a sua marca distintiva e determina o reconhecimento da Vinilourenço.

A Vinilourenço está situada na pequena povoação do Poço do Canto, concelho da Meda, no coração do Douro Superior. É uma história de paixões, luta, capacidade empreendedora e um profundo amor à terra, que se traduz numa empresa familiar com 45 hectares de vinhas e com marcas de vinhos que começam a chegar aos quatro cantos do mundo.

Um curso de empresário agrícola foi o instrumento necessário para se tornar Jovem Agricultor, em 2002, e começar a construir, com o sempre presente apoio do pai Horácio, o projeto dos seus sonhos. Quase dez anos passados os resultados mostram que valeu a pena.

Projeto i-Grape (Sogrape)

O i-Grape começou há cerca de seis anos e nasceu da colaboração entre a Sogrape e o INL (Laboratório Internacional Ibérico de Nanotecnologia). O consórcio do projeto conta ainda com a participação de mais quatro parceiros da Alemanha, Itália e Portugal, sendo integralmente financiado pelo programa Horizonte 2020.

O projeto i-Grape disponibiliza uma ferramenta digital que “visa o controlo da maturação e do estado hídrico da planta, de forma automática, remota e em tempo-real”. É uma solução digital que apoia em tempo-real a tomada de decisão, o que tem reflexos na qualidade e no valor do vinho.

O i-Grape consiste num microsensor de silício colocado nos cachos de uvas (dois ou três sensores por cacho), que transmite dados via rádio, que por sua vez chegam a um servidor informático que os processa para uma nuvem de dados. É como se as uvas passassem a ser um objeto transmissor de informação, à maneira da “internet das coisas”. A tecnologia está “com demonstrações de campo” desde há cerca de quatro anos, mas a aplicação concreta acontece desde o ano passado.

O objetivo é disponibilizar parâmetros que controlam a maturação da uva e o estado hídrico da videira, para que o responsável pela viticultura da exploração possa ter estes parâmetros disponíveis em tempo real.

Quinta de S. Luiz (Sogevinus)

A Quinta de S. Luiz está localizada no coração da sub-região do Cima Corgo, bem próxima do Pinhão. Na antiga casa de família da Quinta de São Luiz nasceu a mais recente unidade de enoturismo do Douro – The Vine House. Um projeto que resultou da remodelação do edifício, agora composto de 11 quartos. A Adega Boutique de São Luiz está equipada com a mais moderna tecnologia de vinificação, tendo como base a produção integrada e sustentável.

Rita Marques (Conceito Vinhos)

Rita Marques é o rosto, a alma e o coração por trás dos vinhos Conceito. Projeto jovem, tem na sua origem uma longa herança de viticultores, cuja operação consistia sobretudo na comercialização de uva para Vinho do Porto. Situada em Cedovim, Foz Côa, produz anualmente 250.000 garrafas de vinho com 18 marcas no mercado, acrescendo ainda 40.000 garrafas de Vinho do Porto.

Rita optou pela via da terra e do vinho. Formada em Enologia em Vila Real e Bordéus, escolheu o seu percurso profissional, aprendendo e trabalhando lado a lado com alguns dos mais influentes enólogos do mundo, em alguns dos mais fascinantes terroirs: Bordéus, Califórnia, África do Sul, Nova Zelândia.

Em 2005 é feita a primeira vindima. O perfil mais leve e menos concentrado, a sustentabilidade e a intervenção mínima foram uma pedrada no charco que, de certa forma, abriram novos trilhos para o Douro Superior. Na vinha velha com mais de 70 anos não fazem praticamente nenhuma intervenção e reproduzem esse modelo nas novas plantações, com vinificações 100% espontâneas e quase totalidade dos vinhos são elaborados em cofermentação, na procura de um maior equilíbrio no final, permitindo refletir melhor o ano e a vindima.

Mais recentemente, em plena pandemia, cria com o enólogo Marc Bent a marca de vinhos Invincible e adquire uma quinta em Casais do Douro, renovando a aposta no terroir e nas castas autóctones.