A Doença Venosa Crónica define-se como um conjunto de sinais e sintomas resultantes da alteração da estrutura e da função das veias. Afeta cerca de 35% da população portuguesa, sendo relativamente mais frequente nas mulheres do que nos homens. É uma patologia crónica e progressiva e a manifestação clínica mais conhecida são as varizes. No entanto, o espectro clínico da Doença Venosa Crónica é muito mais amplo. Fazem parte desta doença as telangiectasias (pequenas veias dilatadas conhecidas como “raios” ou “derrames”), o edema (“inchaço”) das pernas, a dor, a sensação de peso, cãibras noturnas e a comichão.

Embora muitas pessoas possam considerar a Doença Venosa Crónica como um mero problema estético, é fundamental destacar que se trata de uma doença com um impacto significativo na qualidade de vida. Além disso, nos últimos anos surgiram estudos científicos que indicam que a Doença Venosa Crónica pode estar associada a um risco de doenças cardiovasculares, tais como acidente vascular cerebral (AVC), o enfarte agudo do miocárdio ou a embolia pulmonar. Por exemplo, o Gutenberg Health Study concluiu que doentes com o diagnóstico de Doença Venosa Crónica podem ter um risco aumentado a 10 anos de desenvolver doenças cardiovasculares. Este risco aumenta com a gravidade da Doença Venosa Crónica. Além disso, existem hoje estudos de base populacional que mostram que doentes diagnosticados com esta patologia, em fases avançadas, parecem apresentar maior risco de mortalidade. Estes dados sublinham a importância de um diagnóstico precoce e um tratamento adequado da Doença Venosa Crónica.

Além do mais, a Doença Venosa Crónica e as doenças cardiovasculares partilham fatores de risco semelhantes, como hábitos tabágicos, envelhecimento, obesidade, sedentarismo e diabetes.

Sabe-se ainda que os fatores de risco cardiovascular são responsáveis pelo desgaste do revestimento interno dos vasos sanguíneos (endotélio), originando inflamação e potencial formação de placas de aterosclerose, aumentando o risco de complicações cardiovasculares.

Dado que a Doença Venosa Crónica é uma patologia crónica e progressiva, a identificação precoce dos sintomas e o início imediato do tratamento são cruciais para retardar a progressão da doença e minimizar o risco de complicações da Doença Venosa Crónica. Assim, é recomendável que a população opte por um estilo de vida saudável, que inclua prática regular de exercício físico, controlo do peso, uma alimentação saudável e evitar o tabagismo. Doentes com sintomas de Doença Venosa Crónica devem recorrer ao seu médico assistente. Este, além de tratar os sintomas associados à Doença Venosa Crónica, poderá referenciar o seu doente a um médico especialista em Cirurgia Vascular que avaliará a necessidade de intervenções específicas. No tratamento da Doença Venosa Crónica, os fármacos venoativos têm um papel chave no controlo dos sintomas e na melhoria da qualidade de vida. Além disso, medidas como o uso de meia elástica, elevação dos membros inferiores, evitar estar muitas horas em pé, também ajudam a controlar os sintomas.

Portanto, a Doença Venosa Crónica é uma condição que deve ser encarada com seriedade, não apenas pelo seu impacto na qualidade de vida, mas também pelas suas possíveis consequências. A adoção de um estilo de vida saudável e a procura por orientação médica são passos fundamentais para garantir uma vida mais longa e saudável.

Um artigo de Joana Ferreira, especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular.