O que é o Olho Seco?
O olho seco ocorre quando os olhos não produzem lágrima suficiente ou quando a lágrima evapora muito rapidamente, impedindo a normal hidratação da superfície ocular.
As lágrimas são essenciais para manter a saúde e o conforto dos olhos, lubrificando a superfície ocular e protegendo contra infecções.
Os sintomas mais comuns de olho seco incluem sensação de ardor ou prurido, sensação de corpo estranho (areia), olho vermelho, sensibilidade à luz, visão turva que melhora com o pestanejo, produção excessiva de lágrimas como resposta à irritação.
Que fatores podem contribuir para o desenvolvimento de olho seco?
São vários, como a idade, doenças sistémicas (doenças auto-imunes e diabetes), utilização de medicamentos (anti-histamínicos, antidepressivos,beta-bloqueantes), fatores ambientais (ar condicionado, vento, fumo), uso prolongado de dispositivos eletrónicos, antecedentes de cirurgia oftalmológica, deficiência de vitamina A ou de ácidos gordos ómega-3.
Como tratar o olho seco?
Embora o olho seco possa ser desconfortável e afetar a qualidade de vida, na maioria dos casos não é uma condição grave. No entanto, se não for tratado, o olho seco pode levar a complicações, nomeadamente maior risco de infecções oculares, lesões na superfície da córnea com repercussão na visão, perda de qualidade de vida devido ao desconforto crónico.
É importante consultar um oftalmologista caso tenha sintomas persistentes de olho seco, especialmente se interferirem no desempenho das suas atividades diárias.
Existem várias opções de tratamento disponíveis para o olho seco. Deve começar-se por medidas não médicas, eliminando/ minimizando factores de agravamento da secura ocular:
- Fazer pausas regulares ao usar dispositivos eletrónicos (regra 20-20-20: a cada 20 minutos, olhe para algo a 20 pés de distância durante 20 segundos)
- Evitar ar condicionado ou ventilação forte
- Proteger os olhos do vento e da poluição com óculos de sol
- Manter uma dieta rica em ómega-3 (peixes gordos, sementes de linhaça, nozes)
- Evitar a exposição ao fumo do cigarro, ter uma boa higiene das pálpebras.
Quando estas medidas não são suficientes, a disponibilidade de terapêutica médica permite complementá-las, melhorando sintomas e a saúde da superfície ocular.
Como primeira abordagem está a utilização de lágrimas artificiais. Devem ser colocadas com a frequência necessária ao bem estar de cada pessoa.
A secura ocular, seja por déficit de produção de lágrima, seja por alteração da composição da lágrima tornando-a mais instável e evaporativa, é geradora de reação inflamatória na superfície ocular. Gera-se um ciclo vicioso: olho seco – inflamação – alteração da composição lacrimal – maior evaporação – mais secura –mais inflamação.
Em casos mais graves pode ter que se recorrer à terapêutica anti-inflamatória ou imunossupressora tópica. O uso de corticosteróides por curtos períodos, a ciclosporina ou lifitegrast, reduzem a resposta inflamatória, melhorando a qualidade da lágrima e consequentemente as suas propriedades lubrificantes e a sua duração na superfície ocular.
A utilização de plugs lacrimais, pequenos dispositivos inseridos nos pontos lacrimais para reter mais lágrima na superfície ocular, também são opção, sobretudo em casos de déficit quantitativo de lágrima.
Com utilização em franca expansão, os óculos de câmara húmida ajudam a reter a humidade em torno dos olhos e a melhorar a secreção sebácea pelas glândulas de Meibomius (localizadas no bordo palpebral e fundamentais à estabilidade do filme lacrimal).
Que mitos persistem sobre o Olho Seco?
O olho seco só afeta pessoas de idade. Realidade: Embora seja mais comum em pessoas acima de 50 anos, o olho seco pode afetar pessoas de todas as idades, especialmente devido ao uso crescente de dispositivos eletrónicos.
Lacrimejo excessivo significa que não tem olho seco. Realidade: Paradoxalmente, o excesso de lágrimas pode ser um sintoma de olho seco. Quando os olhos estão irritados devido à falta de lubrificação adequada, podem produzir um excesso de lágrimas como resposta reflexa.
O olho seco é apenas um incómodo minor. Realidade: Embora muitos casos sejam ligeiros, o olho seco crónico pode afetar significativamente a qualidade de vida e, se não for tratado, pode levar ao aparecimento de lesões na superfície ocular.
Em conclusão, o olho seco é uma condição cada vez mais comum, sobretudo pelo estilo de vida atual, em que na maioria dos casos é facilmente resolvido com mudança de hábitos e recurso a lágrimas artificiais. No entanto, é importante não ignorar os sintomas persistentes. Com o diagnóstico e tratamento adequados, a maioria das pessoas pode encontrar alívio e manter a saúde, o conforto e a integridade da superfície ocular a longo prazo.
A saúde dos olhos é parte importante da saúde em geral. Se apresenta sintomas de olho seco deve consultar um Oftalmologista para um diagnóstico preciso e implementação de um plano terapêutico adequado às suas necessidades.
Um artigo de Eunice Guerra, oftalmologista na Clínica CUF Miraflores e no Hospital CUF Tejo.
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