Ao mesmo tempo que em Portugal se discutia o fim da linha de apoio SOS Voz Amiga por motivos financeiros, o Reino Unido nomeou Jackie Doyle-Price em outubro para chefiar o Ministério para a Prevenção do Suicídio, um cargo pioneiro em todo o mundo.

"Juntos conseguiremos mudar isto. Podemos acabar com o estigma que obriga demasiada gente a sofrer em silêncio. Podemos prevenir a tragédia do suicídio que está a roubar demasiadas vidas. E podemos ainda dar às nossas crianças, como prioridade que tanto merecem, o bem-estar mental que necessitam", disse, na altura, a primeira-ministra britânica Theresa May.

Uma morte a cada 40 segundos: os sinais a que deve estar atento para prevenir o suicídio
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No Reino Unido, o suicídio é a principal causa de morte nos homens com menos de 45 anos. Em Portugal, o suicídio é a segunda causa de todas as mortes entre adolescentes e jovens adultos, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, à semelhança das estatísticas mundiais.

Portugal com índice elevado de suicídios

Portugal está mesmo acima da média global de suicídios, apresentando uma taxa de 13,7 por cem mil habitantes em 2015, face a uma taxa mundial de 10,7, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Todos os anos, perto de 800 mil pessoas põe termo à vida, o que significa uma pessoa a cada quarenta segundos.

No Reino Unido, a recém-empossada ministra já delineou planos para diminuir as mortes em 10% até 2020, revelando que pretende usar Inteligência Artificial (IA) para detetar casos de risco. Para isso, Doyle-Price quer contar com a ajuda das gigantes tecnológicas como o Facebook e o Google.

As fotos da ministra no início da semana

"Enquanto sociedade, precisamos de fazer tudo o que podemos para apoiar pessoas vulneráveis e em risco", apontou recentemente Doyle-Price, que esteve reunida no início da semana num evento da Aliança Nacional de Prevenção do Suicídio, em Londres, no Reino Unido (ver fotos).

Tanto o Facebook como a Google têm procurado providenciar apoio a quem faça certos tipos de publicações ou pesquisas, procurando colocar os internautas em questão em contacto com as linhas de apoio certas.

Em Londres, Jackie Doyle-Price não descartou a possibilidade de punir os responsáveis das redes sociais que não travem a proliferação de imagens, textos ou outros conteúdos que incentivem ao suicídio. Para isso, a ministra poderá fazer aprovar nova legislação nos próximos meses em conjunto com o Ministério da Cultura, Comunicação e Indústrias Criativas, uma pasta liderada pela britânica Margot James.

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Ao jornal The Times, Jackie Doyle-Price considerou que redes sociais com o Facebook e o Instagram operam como "editores de informação" e que por isso têm de ser tratados como tal. No entanto, "atualmente funcionam como se não fossem responsáveis pelos conteúdos publicados nas suas plataformas", critica a ministra.

Sobre a possibilidade de medidas mais gravosas, como detenções dos responsáveis daquelas plataformas, a ministra assevera: "Está tudo em cima da mesa", escreve o tablóide The Sun.

"Se eles não mudarem este rumo, nós teremos o poder legal para garantir que eles o fazem. Eles têm o dever legal de cuidar dos seus utilizadores", defende Jackie Doyle-Price.

Até agora o Governo britânico disponibilizou 1,8 milhões de libras (cerca de 2,4 milhões de euros) para garantir que a linha "Samaritans" - operada por uma associação que disponibiliza apoio emocional em situações de sofrimento - possa continuar a desenvolver o trabalho junto das comunidades. Segundo a instituição, a cada minuto são atendidas seis chamadas naquele país e, por ano, são auxiliadas mais de um milhão de pessoas em risco.

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A medida vem responder ao elevado número de suicídios no Reino Unido, onde anualmente 4.500 pessoas põem fim à própria vida. Em Portugal, a SOS Voz Amiga, a primeira linha telefónica nacional de prevenção do suicídio e de apoio a situações de sofrimento causadas pela solidão, ansiedade, depressão, foi criada a 9 de outubro de 1978. Desde então, já atendeu 260 mil chamadas, situando-se nos últimos anos numa média de quatro mil chamadas anuais. Funciona diariamente, entre as 16h e as 24h e pode ser contactada pelos números 213 544 545 - 912 802 669 - 963 524 660.

Europa, uma região de risco

A OMS diz também que a Europa foi a região do mundo com a mais alta taxa de suicídio (14,1 por cada cem mil habitantes), à frente de África (8,8), Américas (9,6), Sudeste asiático (12,9), Mediterrâneo Oriental (3,8) ou Pacífico Ocidental (10,8).

Dentro da região Europa, Portugal está ligeiramente abaixo da média europeia mas acima da média global, tendo registado, em 2015, uma taxa de 13,7 mortes por suicídio por cada cem mil habitantes, o que significa, tendo em conta os cerca de dez milhões de habitantes, que cerca de 1.370 pessoas ter-se-ão suicidado.

De acordo com a organização, o suicídio é um fenómeno global, apontando que, em 2015, 78% dos casos ocorreu em países com baixos e médios rendimentos.