Xavier Barreto, que foi hoje ouvido na Comissão Parlamentar de Saúde, a pedido do PSD, sobre o 7.º barómetro dos internamentos sociais, disse ainda que, além de se facilitar o acesso ao estatuto do cuidador informal, o próprio estatuto tem algumas limitações que deveriam ser resolvidas.

Como exemplo, apontou o facto de o cuidador informal ter de ser um familiar – “muitas vezes até podia ser um amigo, que não é familiar” – e de não poder estar a trabalhar e a receber um salário para poder aceder ao estatuto de cuidador.

A propósito dos internamentos sociais – de pessoas que já tiveram alta, mas continuam a ocupar camas dos hospitais por não terem vaga nos lares ou na rede de cuidados continuados -, Xavier Barreto afirmou: “Ou capacitamos cuidadores ou apostamos em mais instituições”.

Deu o exemplo de alguns países onde se tem apostado nos cuidadores informais e nos apoios às famílias como solução para poder libertar camas hospitalares ocupadas por pessoas que, se tivessem uma estrutura de apoio, poderiam estar em casa.

Com estes apoios, prosseguiu, “provavelmente também não seriam necessárias tantas vagas [em lares e nos cuidados continuados] porque as famílias teriam mais condições para tratar destas pessoas”.

Citando estudos da Escola Nacional de Saúde Pública, o responsável disse que haverá em Portugal entre 800.000 e um milhão de cuidadores informais, mas apenas 13.500 têm estatuto reconhecido. Destes, só 4.000 têm apoio financeiro.

A propósito da falta de literacia em saúde de algumas famílias - o que dificulta muitas vezes a ida para casa de quem está internado e tem de fazer medicação –, o responsável considerou que as farmácias comunitárias podiam dar uma ajuda, sobretudo na “reconciliação terapêutica”.

“Se o doente fosse instruído e se o protocolo pós-alta incluísse uma avaliação obrigatória ao fim de alguns dias [nas farmácias comunitárias], isso poderia, por exemplo, reduzir as readmissões nos hospitais”, exemplificou, lembrando: “Os cuidadores são por vezes também idosos, com uma literacia em saúde baixa”.

Segundo o 7.º barómetro dos internamentos sociais, em março, 1.675 camas dos hospitais públicos estavam ocupadas por pessoas internadas apenas por razões sociais, um aumento de 60% dos internamentos inapropriados que deve custar ao Estado 226 milhões de euros este ano.

Xavier Barreto reconheceu que o facto de cerca de 10% das camas dos hospitais estarem ocupadas com estes casos afeta o fluxo dos internamentos, seja através das urgências ou das consultas, e representa “um desafio de gestão enorme”, contribuindo para a sobrelotação de alguns serviços de urgência, que “ficam com doentes horas à espera de vaga para internar”.

Sobre as causas desta permanência inapropriada nos hospitais, apontou a falta de vagas em lares e da rede de cuidados continuados e lembrou que, durante a pandemia, se criaram condições para ter “uma relação mais próxima” entre o poder local, o setor social e o setor da saúde, libertando mais rapidamente as camas hospitalares nestes casos.

“A médio/longo prazo, estes dados devem convocar-nos para uma reflexão mais alargada sobre como estamos a cuidar dos nossos idosos. Vai ser assim sempre, até invertermos a pirâmide demográfica. E vamos ter de arranjar solução”, insistiu.