Dos cinco milhões de casos mundiais em 2023, que resultaram em cinco mil mortes, as Américas representaram 80% dos casos, enquanto as regiões mais afetadas a seguir foram o Sul e o Leste da Ásia, declarou uma especialista em arbovírus do departamento de prevenção de epidemias e pandemias da OMS, Diana Rojas, numa conferência de imprensa.

O país americano com mais casos este ano foi o Brasil (2,9 milhões, dos quais 1.474 foram nas formas “mais graves da doença”), seguido do Peru (271.000) e do México (235.000), enquanto a Colômbia diagnosticou as formas mais graves da doença (1.500, 1,35% do total), segundo a OMS.

Em África, a dengue já matou 570 pessoas no Burkina Faso este ano.

Entre 2000 e 2019, a OMS documentou um aumento de dez vezes nos casos notificados em todo o mundo, de 500.000 para 5,2 milhões, sendo que o ano de 2019 marcou um pico sem precedentes, com os casos registados a estenderem-se a 129 países.

Após um ligeiro declínio dos casos entre 2020 e 2022 devido à pandemia da covid-19, e a uma menor taxa de notificação, em 2023 assistiu-se a um recrudescimento dos casos de dengue em todo o mundo, caracterizado por um aumento significativo do número, da escala e da ocorrência simultânea de múltiplos surtos, que se propagaram a regiões anteriormente não afetadas pela dengue.

O aquecimento global está a expandir o habitat dos mosquitos que transmitem esta infeção viral, referiu a especialista.

Consequentemente, metade da população mundial, ou seja, cerca de 4 mil milhões de pessoas, corre o risco de ser infetada com dengue, a doença mais comum transmitida por mosquitos, referiu.

“A maioria das pessoas não desenvolve sintomas, mas as que os desenvolvem podem sofrer de febre alta, dores de cabeça, dores no corpo, náuseas, etc. Em muitos casos, recuperam no prazo de uma ou duas semanas, mas por vezes a situação pode piorar”, explicou.

Rojas também alertou que as transmissões locais da dengue estão a começar a ser detetadas em países anteriormente considerados não endémicos, incluindo nações europeias como a Itália (82 positivos em 2023), França (43) e Espanha (3).

“Normalmente, os casos são detetados nestes países a partir de viajantes provenientes das Américas, do Leste Asiático e de outras regiões endémicas, mas este ano temos visto alguns surtos limitados de transmissão local”, alertou.

Os surtos em países em conflito e em contextos frágeis, como o Afeganistão, o Paquistão, o Sudão, a Somália e o Iémen, associados à transmissão de outras doenças, às vagas de deslocações internas e às deficientes infraestruturas sanitárias, são também motivo de preocupação, segundo a OMS.

A elevação do risco decidida pela OMS procura “maximizar a atenção e a resposta para ajudar os países a controlar os atuais surtos e prepará-los para responder às próximas épocas altas de dengue”, que normalmente coincidem com períodos quentes e húmidos.

Neste sentido, a OMS apelou aos países membros para que reforcem os mecanismos de monitorização dos casos, das condições ambientais e das colónias de mosquitos, bem como para que atualizem as orientações e melhorem a formação dos profissionais de saúde na resposta à doença.

Para a população em geral, a OMS recomenda o uso de repelente de mosquitos, especialmente durante o dia, bem como a eliminação de áreas ricas em mosquitos em comunidades próximas a áreas residenciais.