“É um erro, neste momento, os profissionais de saúde não estarem já a ser considerados para receber a terceira dose” da vacina contra a covid-19, uma vez que foram dos primeiros a ser vacinados no final de dezembro de 2020 e em janeiro deste ano, disse Miguel Guimarães à agência Lusa.

O bastonário da OM observou, por outro lado, que a época outono/inverno é “tradicionalmente complicada”, porque há mais doentes com sintomas respiratórios, que podem ser gripe, “uma simples constipação” ou mesmo covid-19, cuja incidência começa a crescer e vai continuar a crescer, porque "as pessoas deveriam continuar a utilizar máscaras em algumas circunstâncias e não estão a fazê-lo, também por decisão do Governo, e depois porque a terceira dose de vacina está a atrasar-se demais”.

“Neste momento, já percebemos que a terceira dose vai ser necessária, existem estudos recentes que demonstram que a partir de uma determinada altura há uma quebra na proteção” que deve começar por volta dos seis, sete meses depois da inoculação, adiantou.

Miguel Guimarães alertou que, 10 meses depois de as pessoas começarem a ser vacinadas, se constata que “uma percentagem significativa” da população infetada tem a vacinação completa.

Por outro lado, começa também a perceber-se que, dos doentes internados com covid-19 e que vão para cuidados intensivos, “uma percentagem não tão significativa, mas considerável, também são pessoas que já foram vacinadas”.

Esta realidade reflete que “as vacinas têm uma durabilidade e que vai ser necessário fazer um reforço”, disse o bastonário, defendendo que o processo de vacinação deverá decorrer como foi no início, mas “o Estado e a Direção-Geral da Saúde ainda não tomaram essa decisão”.

“É fundamental” que os profissionais de saúde sejam rapidamente vacinados com a terceira dose da vacina contra a covid-19 e contra a gripe sazonal para não adoeceram porque vão ser necessários “mais do que nunca”.

“As urgências vão estar completamente entupidas com a gripe, com os doentes com doenças crónicas, como a diabetes, a insuficiência cardíaca, que não foram vigiados durante este tempo e estão a ter grandes descompensações e recorrem ao serviço de urgência, às vezes, com situações potencialmente graves”, alertou.

Miguel Guimarães alertou ainda para o estado de exaustão em que muitos médicos se encontram devido ao excesso de horas extraordinárias que fazem.

“Começamos a entrar numa situação que eu acho que é bastante complicada”, disse, explicando que pode estabelecer-se “algum caos” na situação de médicos a fazer urgências consecutivamente, porque não há profissionais para o fazer.

Avançou ainda que tem conhecimento de que as administrações hospitalares estão a pensar suspender as férias dos profissionais no Natal, “um período complicado no acesso aos serviços de urgência”.

“Vamos ter aqui problemas e não me admirava nada que neste contexto global o próprio Ministério da Saúde venha a tomar uma decisão dessas. É mais uma, entre outras, isto nunca mais para”, afirmou.

“Em vez de resolvermos as situações de forma definitiva, andamos aqui a empatar e depois estas situações acontecem”, concluiu o bastonário, que defendeu que o Ministério da Saúde tem de acautelar esta situação, contratando mais médicos para o SNS.