“Uma máscara [têxtil] de nível 2, que tenha 90% de filtração, é completamente segura. As máscaras cirúrgicas apresentam níveis de filtração acima dos 95%, mas não é essa diferença que faz a diferença”, afirmou o diretor-geral do Citeve, António Braz Costa.

Salientando que, hoje em dia, “já há conhecimento disponível para fazer máscaras têxteis com o mesmo nível de performance de uma máscara cirúrgica”, o responsável prefere, contudo, fazer a devida distinção entre as duas: “As máscaras cirúrgicas foram desenvolvidas para pessoas que estão em contacto com doentes. O que se pretende para as máscaras sociais é valorizar o conforto e a respirabilidade, porque elas não são para ser utilizadas em contacto com pessoas doentes, mas em contexto de afastamento social”, sustentou.

Em finais de janeiro, alguns países europeus desaconselharam o uso de máscaras comunitárias em locais fechados, recomendando a utilização de máscaras cirúrgicas ou do tipo FFP2, face à maior capacidade de transmissão das novas estirpes do coronavírus.

Na Alemanha passou a ser obrigatória a utilização de máscaras cirúrgicas em detrimento das de tecido em transportes públicos, lojas e locais de trabalho, enquanto na Áustria as autoridades proibiram o uso de máscaras sociais e tornaram obrigatório o uso de máscaras FFP2 em pessoas com mais de 14 anos nos transportes públicos, lojas ou farmácias.

Já em França, as autoridades de saúde desencorajaram o uso de máscaras sociais, elaboradas a partir de tecidos têxteis.

De acordo com o diretor-geral do Citeve, que é uma das entidades responsáveis pela certificação de máscaras em Portugal, “as informações que chegaram da Alemanha e da França foram completamente erradas” e “só se compreendem porque estes são países que não tiveram um devido controlo sobre a qualidade das máscaras que importaram”: “A certa altura, não tiveram alternativa senão limitar o uso dessas máscaras em determinadas circunstâncias”, considerou.

Já em Portugal, que foi um dos primeiros países a apostar na produção e exportação de máscaras têxteis, Braz Costa sustenta que as autoridades competentes sempre tiveram “um bom conhecimento sobre a segurança das máscaras sociais”, pelo que – “e bem” – nunca impuseram o uso de máscaras cirúrgicas ou FFP2.

“Se, de facto, as máscaras sociais utilizadas na Alemanha cumprissem o que está estabelecido (inicialmente foi estabelecido em Portugal, depois na França e mais tarde ao nível europeu), não havia nenhum motivo para o Governo dizer que, em caso de dúvida, ia impor as FFP2. E acho que esteve bem Portugal, como estiveram bem outros países que não o fizeram”, afirmou.

Ainda assim, o diretor do Citeve admite que “a decisão da Alemanha e da França não deixou de ter um impacto nos consumidores”, penalizando, desde então, as exportações portuguesas de máscaras têxteis.

“A verdade é que, uma vez lançada a informação, os consumidores – com toda a legitimidade – acabaram por modificar a sua forma de consumo. Havia empresas que estavam a exportar muito e as exportações tiveram uma quebra exatamente por esse motivo”, disse à Lusa.

Embora considerando ser “ainda muito cedo para contabilizar” estes efeitos, Braz Costa diz que tiveram “um impacto definitivo”, a que acresce o facto de a “grande falha de mercado” que se registava em 2020 ao nível das máscaras de proteção (e à qual Portugal foi dos primeiros a responder, conquistando assim “uma fatia de mercado interessante”) ter, entretanto, sido colmatada.

“Sabíamos que isto não era uma coisa de futuro, era uma questão conjuntural que devia ser aproveitada (e foi) pelas empresas”, afirmou.

Segundo este responsável, se em 2020 “foram exportados 700 milhões de euros de máscaras e equipamentos de proteção individual, o que foi um número extraordinário, hoje sabe-se que [em 2021] não vai acontecer o mesmo. O nível de produção, vendas e exportação de máscaras não passou a zero, mas baixou com estas informações”.

Relativamente às novas estirpes do coronavírus que foram surgindo nos últimos meses, o diretor-geral do Citeve garante que os testes entretanto feitos demonstraram a manutenção da eficácia das máscaras sociais certificadas: “Chegámos à conclusão de que as novas estirpes não são diferentes na sua fisionomia. A dimensão do vírus é idêntica e a capacidade de as novas estirpes infetarem com maior facilidade não tem a ver com a sua morfologia, pelo que não houve nenhuma necessidade de alterar as máscaras”, esclareceu.

Na escolha entre as máscaras sociais e as máscaras descartáveis existentes no mercado, António Braz Costa lembra que não deve também ficar esquecida a vertente da sustentabilidade, uma “questão dramática” que é, claramente, “um ponto a favor” das primeiras.

“Ao primeiro toque, o consumidor pensa que por 3,5 euros (que é o preço de uma máscara social) compra 50 máscaras cirúrgicas, que são de usar e deitar fora, sem precisar de andar a lavar. Se não estivéssemos em contexto de pandemia, em que há necessidade de transmitir às pessoas alguma segurança e confiança, diria que as máscaras descartáveis deviam ser taxadas, porque são problema ambiental claríssimo. Estamos todos os dias a pôr toneladas de materiais têxteis para o lixo, o que está em contracorrente com tudo que está a acontecer no mundo todo e com tudo o que andamos a pregar”, sustentou.