“O voluntarismo que se via de todas as especialidades na primeira vaga tenho dificuldade em ver agora”, afirmou João Araújo Correia em entrevista à agência Lusa.

“Na altura, parece que toda a gente deu as mãos” e, apesar de “a parte de leão” continuasse a ser da Medicina Interna e da Infeciologia, “o que é certo é que os outros apareceram, deram o peito às balas e ajudaram como puderam, e agora temos muitas dificuldades em recrutar pessoas fora destes setores, porque toda a gente foge para a sua área específica e se refugia nela”, explicou.

Ao fim de longos meses de combate à pandemia e numa altura em que o número de casos e de mortes por covid-19 continua a crescer, “os internistas estão muito cansados”, mas são resilientes porque “estão habituados há muitos anos a aguentar todas as urgências, todos os invernos, e, portanto, este é um inverno pior”.

Agora é uma questão quase de organização, mas “o que está a custar de facto é o tempo que está a demorar”, notou.

Com o prolongar do tempo e o cansaço, afirmou: “cria-se a noção de porque é que isto me está a acontecer? Somos todos médicos. Isto é uma pandemia. Portanto, vamos lá para a frente. Mas onde é que eles estão? Não estão”.

Se os profissionais não se oferecerem, as administrações têm de ir buscá-los às outras especialidades, defendeu.

“As pandemias são tratadas com médicos, claro que alguns têm capacidades e competências que podem tratar os mais graves, mas os menos graves” podem ser tratados por todos.

“Portanto, venham, ofereçam-se, nós já cá estamos, mas é preciso que venha mais gente”, apelou.

Já na primeira vaga da pandemia, os doentes covid e não covid foram “a grande ocupação” dos médicos de medicina interna, quer especialistas quer internos, dos quais 571 estiveram ligados diretamente ao tratamento dos infetados com SARS-CoV-2.

Os restantes conseguiram tratar cerca de 90% dos doentes não-covid que vinham para o internamento, que são “doentes complexos, com muita idade”, que nunca deixaram de ir ao hospital.

Para João Araújo Correia, o facto de a Medicina Interna ser “a maior especialidade hospitalar”, totalizando 14% dos especialistas no hospital, “contribuiu muito para que, apesar de tudo, a resposta esteja a ser estruturada”.

“Os doentes mais graves têm mesmo tudo em descompensação e neste aspeto temos muita sorte em ter um modelo de Medicina Interna como o que existe em Portugal e vamos ver se realmente chegamos a bom porto, eu espero que sim”, comentou.

Os internistas estão a provar que a Medicina Interna é “a espinha dorsal” do SNS porque estão sob “uma pressão brutal no serviço de urgência” onde aparecem os doentes urgentes e não urgentes, dado que “os cuidados primários estão fechados em grande parte do país e praticamente as consultas são por telefone”.

E o “grande problema” numa pandemia é a variabilidade da gravidade da doença. “Nós temos doentes que têm uma ‘gripezinha’, como dizia o Bolsonaro (…) que às tantas todos gostaríamos de ter para ganharmos imunidade ou situações gravíssimas em que em duas horas o doente passa de não ter necessidade de oxigénio a ter de estar ventilado”.

A doença está agora a atingir mais jovens, o que leva quase todos os internamentos a precisarem de uma vigilância muito próxima, porque os doentes são mais graves.

“De certo modo, o tipo de doentes é diferente, prolonga a demora média de internamento”, sendo por isso preciso mais camas, o que torna a “situação muito complicada”.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 1,2 milhões de mortos no mundo desde dezembro do ano passado, incluindo 2.694 em Portugal.

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