O acesso a eventos culturais dependerá da apresentação de teste negativo à covid-19, a partir das 00:00 de sábado, independentemente do número de espectadores, anunciou na terça-feira o primeiro-ministro, António Costa.

A Associação Portuguesa de Serviços Técnicos para Eventos (APSTE), em comunicado, considera esta medida “um constrangimento e um convite ao cancelamento, numa fase em que existe sobrelotação nas marcações para testagem”.

Garantindo que “a Cultura é segura”, a APSTE lamenta que, “com prejuízos estimados em mais de cem milhões de euros”, o setor esteja “sujeito a novas restrições nesta fase essencial: as festividades de Natal e Passagem de Ano”.

A Associação Portuguesa de Empresas Cinematográficas (APEC), numa resposta à agência Lusa, demonstrou-se “inconformada e atónita” com a medida anunciada na terça-feira.

A representante da maioria dos exibidores nacionais alerta que é esperada “uma retração muito importante nas idas ao cinema, porquanto existem muitas localidades pelo país fora onde os testes não estão disponíveis, outros onde os agendamentos já não estão disponíveis por estar esgotada a capacidade para os fazer”.

“Não conseguimos entender a implementação desta medida, num país que tem 89% da sua população totalmente vacinada, e com os dados disponibilizados na conferência de imprensa de terça-feira existem neste momento 1/3 dos internamentos versus 2020, foram efetuados quase o triplo dos testes versus 2020 com uma positividade de 4,2%, quando em 2020 era de 10,5%”, lê-se na resposta enviada à Lusa.

A Fevip - Associação Portuguesa de Defesa de Obras Audiovisuais, num comunicado hoje divulgado, salienta que esta medida “vem aumentar o risco de paralisação do setor [do cinema] que só em 2020 sofreu uma quebra de bilheteira de 75% face ao ano anterior”.

Aquela associação recorda que, “até agora, e desde a sua reabertura, as salas têm cumprido as normas da Direção-Geral da Saúde por forma a garantir a segurança do público e à data não existem dados que verifiquem um único caso de infeção com origem nestas salas”.

“Não só esta medida representa um obstáculo adicional à frequência das salas de cinema, como acresce ainda aquela que tem sido a insuficiente oferta de testes por parte das farmácias e outros locais de testagem, para além da curta validade para apresentação dos mesmos (48h ou 72h)”, considera a Fevip.

Os responsáveis pelo Cinema Ideal, em Lisboa, numa mensagem na qual avisam que, “a partir de 25 de dezembro, a frequência do cinema só está autorizada pelas autoridades de saúde com a apresentação de um teste negativo”, reforçam que o cinema “é um lugar seguro onde o uso de máscara é obrigatório, a distância entre espectadores é garantia e onde se cumprem todas as regras sanitárias”.

“Pensamos por isso que esta medida é puramente iníqua e sem qualquer justificação. Mas cumprimos naturalmente as decisões das autoridades públicas”, lê-se na mensagem.

Também a NOS, a maior exibidora portuguesa, garante que continuará “a cumprir, como sempre e de forma escrupulosa, todas as medidas de saúde e segurança anunciadas pelo Governo e definidas pela Direção Geral da Saúde, para a proteção de todos”.

No entanto, alerta que, “apesar de todos os esforços realizados, que foram reconhecidos pelos portugueses com o regresso aos cinemas, os efeitos decorrentes do anúncio das medidas já se fazem sentir no setor e vão continuar a sentir-se”.

A Convergência pela Cultura, em comunicado, mostra-se preocupada pelo facto de “o setor artístico [ter] sido reduzido na sua significância, quando analisado o modo como o Governo despeja medidas avulsas, sem consideração pela organização da sociedade civil e das entidades que, no terreno, têm demonstrado que 'a Cultura é segura' e que uma vez mais serão penalizadas por cumprirem as normas”.

A obrigatoriedade da apresentação de teste negativo à covid-19 para aceder a eventos culturais estará em vigor até 09 de janeiro.