É uma das maiores especialistas nacionais em medicina do sono e está (muito) preocupada com a falta de descanso dos portugueses, como assume em entrevista à revista Prevenir. "O que está a acontecer por cá não é mesmo nada recomendável. A privação de sono é como a cocaína. Inicialmente, dá prazer mas, depois, tem consequências negativas", adverte Teresa Paiva. A conceituada médica neurologista traça um retrato duro, realista e incisivo do panorama atual.

Para além de Portugal ser um dos países da União Europeia com maiores níveis de consumo de benzodiazepinas, classe de fármacos que integra os sedativos para dormir, os portugueses são dos povos que se deitam mais tarde. "As pessoas estão convictas de que é melhor tomar um medicamento do que mudar a sua vida. Depois, os portugueses têm hábitos de vida muito disruptivos. Somos dos povos que trabalham mais horas em termos mundiais", critica ainda.

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"Temos dificuldades económicas e acabamos por ter uma baixa produtividade nesse excesso de horas. Isso aumenta o stresse e faz com que misturemos os horários matutinos com os tardios", sublinha Teresa Paiva. "A má gestão das horas de trabalho é um problema enorme. Trabalhar horas a mais é a coisa mais estúpida que se pode fazer", condena. "As pessoas têm de defender os horários de descanso e precisam de perceber que têm um limite", acrescenta ainda. "O sono é a principal garantia da nossa sobrevivência e longevidade. Temos de dormir", insiste. "Depois, há a convicção de que as pessoas inteligentes, com sucesso, dormem pouco. E não é verdade! Donald Trump, por exemplo, é um caso paradigmático de alguém que dorme pouco", diz.

"A inconsistência das suas respostas, a pobreza do discurso e dos gestos é assustadora", critica a neurologista. Teresa Paiva aponta ainda o dedo à permissividade excessiva dos pais modernos. "As crianças e os adolescentes portugueses deitam-se tardíssimo", condena. "Estes horários não são praticados no norte da Europa. O que está a acontecer por cá não é nada recomendável", insiste. As mulheres, devido às alterações hormonais, tendem a sofrer mais do que os homens.

"As mães têm uma vida infernal porque trabalham e depois ainda levam os meninos à ginástica, ao inglês, a tudo e mais alguma coisa... Portanto, chegam a casa cansados e aos gritos uns com os outros. De manhã, estão cheios de sono e acordam a gritar", critica. Aprender a desligar, reduzindo a utilização de tecnologia à noite, é um dos conselhos de Teresa Paiva. "Para dormir melhor, não é preciso ir para um mosteiro budista ou católico e isolar-se do mundo", assegura.