Vários utentes estavam cerca das 08:30 nas salas de espera do Santa Maria, em Lisboa, na expectativa de conseguir uma consulta, apesar da greve, enquanto o movimento de pessoas na zona das consultas externas e nos corredores fazia lembrar um dia normal.

No hospital de Santa Maria, a Lusa constatou a presença de médicos e enfermeiros nos corredores, no que aparentava ser um dia normal de trabalho.

No entanto, a receção central das consultas externas e alguns dos balcões nas especialidades não tinham pessoal para atender os utentes.

Alguns utentes lamentaram, em declarações à Lusa, a espera e o possível cancelamento das suas consultas, apesar de compreenderem os motivos da greve.

Maria Alves, 70 anos, veio de Torres Vedras para ver se “tem sorte” com a consulta de oftalmologia.

“Eu sabia que havia greve, mas mesmo assim decidi vir para ver se conseguia ser vista. Se não conseguir olhe, que remédio, tenho de aguardar por nova marcação, o que para esta especialidade significada esperar bastante”, disse.

Já Mário Silva, 65 anos, disse que tinha conhecimento da greve, mas não tinha percebido que ia afetar as consultas nos hospitais”.

“Ainda não sei se vou ter consulta de pneumologia ou não. Como venho de Setúbal, vim mais cedo por isso vou aguardar”, contou.

Este utente contou à Lusa que concorda com os motivos da greve, apesar de ser um “transtorno” para os utentes.

Já no centro de saúde de Sete Rios, pelas 09:00, a realidade era outra: havia apenas um funcionário administrativo e meia dúzia de utentes.

Apesar de haver médicos no centro de saúde, a falta de administrativos inviabilizou a realização de consultas.

Felismina Couto e o marido Manuel tinham esta manhã uma consulta com o médico de família, que não se realizou por causa da paralisação.

“O médico está no centro. Falámos com ele, mas como não há administrativos ele não pode dar a consulta, nem pode passar receitas nem credenciais”, contou à Lusa Felismina Couto.

O casal sabia que havia greve, inclusive existe à entrada do centro um aviso aos utentes para os eventuais constrangimentos por causa da paralisação.

“Arriscámos na mesma. Agora temos de voltar cá para a remarcação da consulta”, disse.

Na educação, a escolas José Gomes Ferreira (secundária) está sem aulas, pelo menos até às 11:30, altura em que entram mais funcionários e a situação pode mudar, segundo um elemento da direção da escola, que anunciou pelas 08:30 aos alunos não ter condições para abrir o estabelecimento de ensino.

A escola ficará encerrada pelo menos nas duas primeiras horas do horário escolar, podendo a situação modificar-se a partir das 11:30.

Esta é a segunda vez em 40 anos que a Escola José Gomes Ferreira encerra numa greve. A última ocorreu no passado dia 26 de novembro, aquando da paralisação do pessoal não docente convocada pelo Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais.

"Está hoje menos gente na escola do que na greve anterior", disse à Lusa uma aluna que estava da sala da associação de estudantes desta escola.

Também em Benfica, na Escola Básica 1,2,3 e J.I. Pedro de Santarém, a greve de hoje impediu as aulas aos alunos do 2.º e 3.º ciclos, segundo uma nota afixada à entrada do estabelecimento escolar.

Outra das escolas afetadas pela greve foi a D. Pedro V, em Sete Rios, que encerrou hoje pela terceira vez em 50 anos por causa de uma greve.

Os trabalhadores da administração pública cumprem hoje uma greve nacional, a primeira da atual legislatura, e realizam uma manifestação à tarde, em Lisboa.

A Frente Comum da Administração Pública, da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional (CGTP), convocou em dezembro uma manifestação nacional para hoje contra a proposta de aumentos salariais de 0,3%, a que se seguiu o anúncio de greves nacionais por parte das estruturas da União Geral de Trabalhadores (UGT) - a Federação Nacional dos Sindicatos da Administração Pública (Fesap) e a Frente Sindical liderada pelo Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE).

Várias organizações setoriais marcaram também greves hoje, como são os casos da Federação Nacional dos Sindicatos dos Enfermeiros (FENSE), da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) e do Sindicato Nacional dos Técnicos Superiores de Saúde das Áreas do Diagnóstico e Terapêutica.

Esta é a primeira greve nacional da função pública desde que o atual Governo liderado por António Costa tomou posse, em 26 de outubro, e acontece a menos de uma semana da votação final global da proposta de Orçamento do Estado para 2020 (OE2020), marcada para 06 de fevereiro.