HealthNews (HN) – A In-Nova foi reconhecida nacional e internacionalmente pelo desenvolvimento de soluções tecnológicas inovadoras com impacto social. Que importância atribui a estes prémios para a motivação da equipa e para a afirmação da In-Nova no ecossistema da inovação em Portugal?

Inês Mendes (IM) – O reconhecimento nacional e internacional da In-Nova representa não só a valorização do trabalho desenvolvido pela nossa equipa, como também um claro reflexo do potencial da comunidade académica da NOVA FCT. Estes prémios reforçam assim a motivação dos nossos membros, cuja dedicação, profissionalismo e criatividade são distinguidos, contribuindo para afirmar a In-Nova como um agente verdadeiramente ativo no ecossistema de inovação em Portugal.

Com o objetivo de gerar impacto real através de projetos desafiantes que dão resposta a problemáticas sociais concretas e atuais, a In-Nova posiciona-se como uma Júnior Empresa de confiança tornando-se cativante para muitas parcerias que nos impulsionam a perpetuar a nossa ambiciosa missão: desenvolver soluções tecnológicas de pessoas para pessoas.

Colher eletrónica

HN – O braço robótico adaptativo, desenvolvido para o Samuel, permitiu-lhe alcançar maior autonomia durante as refeições. Como foi o processo de identificação das necessidades do utilizador e de adaptação do dispositivo até chegar à versão final?

Gonçalo Duarte (GD) – O processo teve início com a proposta apresentada pelo cliente, que incluía as necessidades específicas do Samuel. A nossa equipa começou então a desenvolver o braço robótico, tendo sempre em consideração tanto os requisitos funcionais como as limitações orçamentais do projeto.

Após a conclusão do primeiro protótipo, realizámos uma visita ao Centro de Apoio a Deficientes João Paulo II, onde pudemos testar o dispositivo diretamente com o Samuel. Essa interação foi fundamental: permitiu-nos recolher feedback direto sobre o desempenho e usabilidade do protótipo. Com base nas observações feitas e nas sugestões do próprio Samuel, fizemos os ajustes necessários que nos conduziram à versão final do dispositivo, mais adaptada às suas capacidades e rotinas diárias.

HN – Este processo iterativo, centrado no utilizador, foi essencial para garantir que o produto final promovesse efetivamente a autonomia do Samuel durante as refeições.A colher eletrónica é outro exemplo de tecnologia inclusiva criada pela In-Nova, inicialmente pensada para pessoas com Parkinson e posteriormente adaptada para utentes com paralisia cerebral. Que desafios técnicos e humanos enfrentaram durante o desenvolvimento deste projeto e que lições retiraram?

GD – A mudança do propósito do projeto não foi acidental, surgiu da necessidade de superar desafios técnicos significativos. Inicialmente, a colher eletrónica foi concebida para ajudar pessoas com Parkinson, mas rapidamente nos deparámos com o elevado custo dos motores de alta precisão exigidos para compensar os tremores, o que tornava o dispositivo financeiramente inviável.

Em vez de abandonar a ideia, optámos por adaptá-la, utilizando motores menos precisos. Durante essa fase, percebemos que o dispositivo, com as devidas adaptações, poderia ser extremamente útil para pessoas com paralisia cerebral.

Braço Robótico

Entrámos então em contacto com a APCAS (Associação de Paralisia Cerebral Almada Seixal), onde realizámos uma demonstração presencial com alguns utentes. Para além dos desafios técnicos, este contacto trouxe-nos também importantes aprendizagens humanas: compreender as verdadeiras dificuldades do dia a dia, ouvir as suas experiências e adaptar o projeto com base nesse feedback direto foi um passo crucial.

As sugestões dos utentes e técnicos da APCAS permitiram-nos afinar o dispositivo, resultando numa solução mais prática e adaptada. Esta experiência reforçou a importância de trabalhar lado a lado com os utilizadores finais, ouvindo-os com empatia e integrando ativamente as suas perspetivas no desenvolvimento tecnológico.

HN – Ambos os projetos – braço robótico e colher eletrónica – foram desenvolvidos em regime pro bono e com recurso à impressão 3D, garantindo custos reduzidos e adaptabilidade. Como avalia o impacto destas soluções na vida dos utilizadores e na promoção da igualdade de oportunidades?

GD – Após entregarmos a colher à APCAS, percebemos que o que estas pessoas mais desejam é ter uma vida o mais autónoma possível. Não procuram compaixão, mas sim ferramentas que lhes permitam realizar, de forma independente, tarefas que para muitos são simples e garantidas.

Projetos como o braço robótico e a colher eletrónica representam pequenos, mas significativos passos nesse sentido. Permitir que alguém coma sozinho, por exemplo, não é apenas funcional, é um gesto de dignidade, que contribui para a autoestima e liberdade pessoal. São soluções acessíveis que não só melhoram o dia a dia dos utilizadores, como também promovem uma verdadeira igualdade de oportunidades.

HN – O envolvimento dos estudantes da NOVA FCT em projetos reais, com contacto direto com instituições e utilizadores, é um dos pilares da In-Nova. De que forma esta experiência contribui para a formação dos futuros engenheiros e para o desenvolvimento de competências além das técnicas?

Inês Mendes (IM) – O envolvimento dos estudantes da NOVA FCT em projetos reais através da sua passagem pela In-Nova, é uma oportunidade de desenvolvimento pessoal e profissional única e que vai muito além do que se aprende no ensino tradicional em sala de aula.

Ao colaborarem diretamente com clientes e instituições de diferentes setores, os nossos membros têm a possibilidade de aplicar os seus conhecimentos técnicos em contextos práticos, enquanto desenvolvem soft skills como comunicação, trabalho em equipa, liderança, gestão do tempo e resolução de problemas em ambientes exigentes. Esta experiência distingue-os assim no mercado de trabalho, tornando-os profissionais mais preparados e valorizados.

Esta ligação ao mundo real permite-lhes ainda compreender o verdadeiro impacto das soluções que desenvolvem, contribuindo para uma formação mais completa, consciente e alinhada com as exigências atuais. Paralelamente, aproxima-os da responsabilidade social associada à tecnologia, consciencializando-os para a necessidade de uma postura ética e proativa na aplicação do conhecimento que adquirem ao longo do seu percurso académico.

HN – Tendo em conta a missão da In-Nova de aliar tecnologia, empatia e compromisso social, quais são os próximos passos para a associação? Existem novas áreas de intervenção ou projetos em fase de desenvolvimento que gostaria de destacar?

IM – A missão da In-Nova de aliar tecnologia, empreendedorismo e compromisso social continua a guiar os nossos próximos passos. Estamos focados em expandir o nosso impacto, explorando novas áreas de intervenção onde a inovação possa responder a desafios sociais concretos.

Atualmente, temos em desenvolvimento projetos nas áreas da saúde (destacando o Braço Robótico, desenvolvido para auxiliar o processo de alimentação de pacientes de paralisia cerebral), acessibilidade e sustentabilidade que envolvem equipas multidisciplinares e contacto direto com comunidades e instituições parceiras. Além disso, queremos reforçar a nossa presença internacional, promovendo colaborações com outras Júnior Empresas e organizações com valores semelhantes e que potenciem o nosso contínuo crescimento. Com mais de trinta projetos realizados, mais de 200 estudantes envolvidos e uma rede crescente de parcerias nacionais e internacionais, a In-Nova reforça diariamente o seu compromisso em usar a tecnologia como motor da transformação da sociedade, querendo apostar cada vez mais na nossa “in-novação” para continuar a construir um futuro melhor.

HN/MM