
HealthNews (HN): A PharmaMar consolidou-se como líder em tratamentos oncológicos de origem marinha. Pode detalhar o progresso dos vossos ensaios clínicos, em particular os ensaios de Fase III para a lurbinectedina e os ensaios em fases iniciais para ecubectedina, PM534 e PM54? Que potenciais avanços antecipa?
Javier Jiménez (JJ):
- Ensaios de Fase III com Lurbinectedina:
- IMforte: Este ensaio avalia a lurbinectedina em combinação com um inibidor de PD-L1 (Atezolizumab) em comparação com Atezolizumab, quando utilizados como tratamento de manutenção de primeira linha em adultos com cancro do pulmão de pequenas células em estádio avançado, após indução com carboplatina, etoposido e Atezolizumab. Os resultados serão apresentados no congresso ASCO a 2 de junho. Estes dados sustentam a submissão do pedido de sNDA à FDA nos EUA pelo nosso parceiro Jazz Pharmaceuticals e estão a ser utilizados para preparar a submissão à EMA na Europa.
- LAGOON: Este ensaio confirmatório de Fase III em segunda linha para cancro do pulmão de pequenas células avançado resulta de um acordo com a FDA após a aprovação acelerada inicial da lurbinectedina. O recrutamento terminou em dezembro de 2024, com 724 doentes incluídos. O ensaio, com três braços, compara lurbinectedina em monoterapia ou em combinação com irinotecano versus escolha do investigador (irinotecano ou topotecano). O acompanhamento dos doentes prossegue, com resultados previstos para 2026. Resultados positivos confirmarão a posição da lurbinectedina como monoterapia ou em combinação com irinotecano na segunda linha do tratamento do cancro do pulmão de pequenas células metastático.
- SaLuDo: Ensaio de Fase IIB/III em leiomiossarcoma metastático, comparando lurbinectedina em combinação com doxorrubicina versus doxorrubicina. O recrutamento decorre acima do previsto, com cerca de 200 doentes em 78 centros ativos. O estudo decorre na Europa e nos EUA, com o objetivo primário de avaliar a sobrevivência livre de progressão e, como objetivo secundário, a sobrevivência global. Resultados positivos poderão demonstrar o benefício da lurbinectedina mais doxorrubicina como tratamento de primeira linha em leiomiossarcoma metastático, uma área sem avanços significativos nas últimas décadas.
- Ecubectedina (PM14): Está previsto o início de um estudo global de Fase 1b/2 para avaliar a PM14 em cancro da próstata neuroendócrino de pequenas células, com início do recrutamento na segunda metade de 2025.
- PM54: Inibidor de transcrição inovador da família das ecteinascidinas, atualmente em ensaios clínicos de Fase 1 em doentes com tumores sólidos avançados, como agente único, para explorar diferentes regimes de dose. Estes ensaios serão alargados a braços adicionais, focados em tipos tumorais específicos. Até ao final do ano, iniciar-se-ão ensaios clínicos globais para avaliar a combinação do composto com outras terapias, procurando efeitos sinérgicos.
- PM534: Inibidor inovador do domínio de ligação à colchicina do local regulador da tubulina, atualmente em ensaios de Fase 1 em tumores sólidos avançados, como agente único, para determinar a dose e o esquema ótimos.
HN: Com o forte compromisso da PharmaMar com a investigação e desenvolvimento, como equilibra a inovação com os desafios regulatórios, especialmente na Europa, onde os prazos de aprovação são mais longos do que nos EUA?
JJ: A nossa identidade biotecnológica impele-nos a investir continuamente em I&D, garantindo que a inovação é o principal motor do nosso negócio. A investigação está no nosso ADN; na PharmaMar entendemos que só através da investigação e inovação podemos oferecer soluções reais aos doentes, sobretudo em áreas de necessidades médicas não satisfeitas. Segundo o EU Industrial R&D Investment Scoreboard 2024 da Comissão Europeia, a PharmaMar lidera há mais de 10 anos o investimento em I&D em Espanha. Este investimento não só nos permite inovar em oncologia, mas também atrair e reter talento científico de excelência para projetos inovadores com impacto na vida dos doentes.
Existem, contudo, várias barreiras ao desenvolvimento de novos tratamentos para tumores de baixa prevalência: o número limitado de doentes torna os ensaios longos, complexos e dispendiosos; doenças agressivas como o cancro do pulmão de pequenas células oferecem uma janela temporal curta para testar novas terapias; e há desafios regulatórios significativos. O desenvolvimento de um novo tratamento pode demorar 12 a 15 anos, com um investimento elevado, mas a exclusividade da patente é de 20 anos a partir da submissão inicial, incluindo o tempo de investigação e de autorização. Por isso, é fundamental um enquadramento regulatório que incentive a inovação e proteja o esforço de investigação, especialmente em doenças de baixa prevalência.
Neste setor dinâmico e competitivo, a nossa filosofia é clara: continuar a investir no futuro para oferecer novas terapias e não deixar nenhum doente para trás.
HN: A PharmaMar registou um crescimento significativo de receitas e rentabilidade em 2024, juntamente com o aumento do investimento em I&D. Como é que este sucesso financeiro apoia os vossos objetivos de longo prazo para expandir o pipeline oncológico e a presença global?
JJ: O crescimento das receitas e da rentabilidade permite-nos continuar a aumentar o investimento em I&D. O nosso objetivo a longo prazo é expandir o pipeline oncológico de duas formas: por um lado, investindo na progressão dos projetos clínicos atuais (Ecubectedina, PM54, PM534) e trazendo novos compostos do laboratório para a fase clínica; por outro, avaliando oportunidades de licenciamento para complementar o nosso portefólio.
HN: A PharmaMar está ativa em Portugal há vários anos. Como é que a filial portuguesa contribui para a vossa estratégia global? Existem iniciativas ou colaborações específicas para reforçar a presença neste mercado?
Ecteinascidia turbinata
JJ: As nossas operações em Portugal começaram em 2007, com a aprovação do nosso medicamento para sarcoma dos tecidos moles. Dois anos depois, obtivemos autorização para o comercializar no cancro do ovário. A colaboração com especialistas portugueses, instituições científicas e hospitais é constante. Os planos mais próximos passam por envolver hospitais portugueses no nosso ensaio de leiomiossarcoma e também com o nosso medicamento para cancro do pulmão de pequenas células, para acesso ao Programa de Acesso Precoce.
HN: A colaboração entre indústria, centros de investigação, profissionais de saúde e doentes é vital para o desenvolvimento de medicamentos. Como está a PharmaMar a fomentar estas parcerias para acelerar a inovação e melhorar os resultados para os doentes?
JJ: A colaboração com hospitais, profissionais de saúde e associações de doentes é fundamental para avançar no desenvolvimento de tratamentos inovadores e garantir a acessibilidade. As sinergias entre diferentes partes interessadas permitem abordar os desafios de múltiplas perspetivas, mas sempre com o doente no centro da nossa ação. A PharmaMar colabora com universidades e centros de investigação, apoiando o ecossistema científico e contribuindo para a formação de novas gerações de especialistas.
HN: Olhando para 2025 e além, quais são as vossas prioridades para o avanço dos tratamentos derivados do mar? Existem marcos ou aprovações previstas que possam redefinir a posição global da PharmaMar em oncologia?
Fundo Marinho
JJ: Os dados do ensaio IMforte sustentam o pedido de sNDA para tratamento de manutenção de primeira linha no cancro do pulmão de pequenas células avançado à FDA nos EUA, com aprovação esperada em 2025, e estão a ser usados para preparar a submissão à EMA na Europa, com aprovação prevista para 2026. Adicionalmente, a análise final do ensaio LAGOON é esperada em 2026, com o objetivo de confirmar a eficácia da lurbinectedina como monoterapia ou em combinação com irinotecano na segunda linha do tratamento do cancro do pulmão de pequenas células metastático. Por fim, o ensaio SaLuDo em leiomiossarcoma metastático poderá demonstrar o benefício da lurbinectedina mais doxorrubicina como tratamento de primeira linha, permitindo a submissão regulatória em 2027.
Entrevista MMM
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