A Direção-Geral da Saúde (DGS) está em conversações com a indústria alimentar para diminuir ainda mais o sal no pão. A legislação de 2009 estabelece como teor máximo 1,4 gramas de sal por cada 100 gramas de pão, mas a DGS quer reduzir esse valor para 1 grama até 2021.

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Os portugueses estão a consumir, em média, mais do dobro da dose de sal recomendada pela Organização Mundial de Saúde, que são de cinco gramas diárias. É, por isso, urgente, reduzir o seu consumo, que está associado a doenças como a hipertensão, uma patologia silenciosa que afeta um terço da população portuguesa, ou o AVC, a principal causa de morte em Portugal.

De acordo com um relatório publicado em 2003 pela Organização Mundial da Saúde, o ideal é consumir no máximo 5 gramas de sal (cloreto de sódio) por dia. Ao contrário do que se possa pensar, a maior parte do sal consumido, no dia a dia, é proveniente não tanto das refeições cozinhadas em casa, mas sim dos alimentos pré-preparados comprados fora de casa, estima a DGS.

Um novo estudo a caminho

Para travar o consumo excessivo deste mineral, investigadores vão realizar um estudo para avaliar o impacto na saúde dos portugueses de um programa de reeducação alimentar de redução do consumo do sal.

Lançado pela CUF e pelo Pingo Doce, o programa “Menos Sal Portugal” visa consciencializar os portugueses para a importância de melhorarem os seus hábitos alimentares em relação ao consumo de sal.

O programa inicia-se com a realização do “estudo inédito” que envolve 500 voluntários, entre os 20 e os 70 anos, da área metropolitana de Lisboa, que vão integrar, entre março e maio, um programa de educação alimentar que visa a redução do consumo do sal, sendo acompanhados e orientados por equipas especializadas.

“Esperamos que a mudança no estilo de vida, sobretudo nos hábitos alimentares, tenha um impacto favorável na população em estudo e que as alterações observadas se traduzam em ganhos de saúde duradouros”, afirmou Conceição Calhau, uma das coordenadoras do estudo, professora da Nova Medical School e investigadora do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS).

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Em declarações aos jornalistas, à margem da apresentação do programa, Conceição Calhau, explicou que os portugueses estão a consumir diariamente 10,7 gramas de sal cada e que apenas 4% da população consome o nível adequado.

Depois de feito este diagnóstico nos estudos de observação, o estudo de intervenção agora lançado vai “condicionar e modificar estilos de vida”, para que no final das 12 semanas de intervenção a população esteja a consumir menos sal e haja ganhos em saúde em termos de pressão arterial e risco cardiovascular e excesso de peso.

Esta iniciativa foi saudada por Maria João Gregório, da Direção-Geral da Saúde (DGS), afirmando, na apresentação do “Menos Sal Portugal”, que é “um programa determinante para obter ganhos adicionais na saúde”.

“Portugal, atualmente, tem uma estratégia na área de redução de consumo de sal na população portuguesa, que consome mais do dobro do recomendado pela OMS e, portanto, a intervenção nesta área requer implementar um conjunto de medidas que promovam a literacia da população portuguesa e este projeto pode dar resposta a essa necessidade”, adiantou Maria João Gregório aos jornalistas.

Em paralelo, são necessárias medidas que modifiquem a oferta alimentar, por exemplo, em alguns espaços públicos ou que incentivem a reformulação dos teores do sal em alguns alimentos.

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Vários produtos com sal a mais

Neste momento, a DGS está a trabalhar em parceria com a indústria para definir protocolos de colaboração para reduzir, até 2021, o teor de sal em alimentos como tostas, cereais de pequeno-almoço, queijo, sopa pronta a consumir, batatas fritas e outros snacks e também bolachas e biscoitos.

Segundo Maria João Gregório, foi também realizado um “protocolo mais ambicioso” com as associações dos industriais da panificação para reduzir de 1,4 para um grama de sal por 100 gramas de pão, em 2021.

Na apresentação do programa, Jorge Polónia, coordenador do estudo e investigador do CINTESIS, afirmou que “Portugal é um país salgado”, estando numa “péssima situação” em termos de consumo de sal a nível mundial

As estimativas apontam que se conseguir uma redução diária de três gramas de consumo de sal pode-se evitar 20% dos acidentes vasculares cerebrais (AVC) e reduzir em 15% as doenças coronárias, disse Jorge Polónia.

Sobre o contribui para um consumo elevado de sal, Conceição Calhau explicou que “o sal adicionado no momento de confeção dos alimentos contribui em 29,2%, o pão e as tostas, 18,5%, a sopa, 8,2% e os produtos de charcutaria e carnes processadas têm um contributo de 6,9%”. Como alternativas mais saudáveis, a investigadora aconselhou “a utilização de ervas aromáticas”. Com Lusa