Para além dos sintomas mais conhecidos da Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), como os ciclos menstruais irregulares, acne persistente, aumento de pelos corporais (hirsutismo) e dificuldade em engravidar, existem sinais menos óbvios que também merecem atenção e podem justificar uma avaliação hormonal. Entre estes sinais destacam-se as alterações de humor, incluindo ansiedade, irritabilidade ou mesmo sintomas depressivos; o cansaço persistente, que ocorre mesmo após um descanso adequado; a dificuldade em perder peso ou o ganho de peso inexplicado, especialmente na zona abdominal; a queda de cabelo ou o enfraquecimento capilar; os distúrbios do sono, como insónias ou sono não reparador; e ainda o desejo sexual diminuído, por vezes relacionado com desequilíbrios hormonais.

Estes sintomas, quando persistentes ou associados a alterações no ciclo menstrual, devem ser valorizados. Muitas vezes, são desvalorizados ou atribuídos ao stresse, mas podem refletir alterações hormonais que interferem não só com a saúde reprodutiva, mas também com o bem-estar geral.

É fundamental que qualquer mulher que experiencie estes sinais procure o seu ginecologista. Um diagnóstico precoce permite uma abordagem mais eficaz, ajudando a prevenir complicações a longo prazo, como a resistência à insulina ou o risco aumentado de diabetes tipo 2.

O diagnóstico da Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) baseia-se numa combinação de avaliação clínica, exames de imagem e análises laboratoriais.

Endometriose: Como se preparar para a consulta e que perguntas-chave fazer de acordo com a ginecologista Mónica Gomes Ferreira
Endometriose: Como se preparar para a consulta e que perguntas-chave fazer de acordo com a ginecologista Mónica Gomes Ferreira

Diagnóstico de SOP: quais os Exames e análises laboratoriais?

O diagnóstico da Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) baseia-se numa combinação de avaliação clínica, exames de imagem e análises laboratoriais. Os critérios mais utilizados para confirmar o diagnóstico são os critérios de Rotterdam, que exigem pelo menos dois dos seguintes três sinais: ciclos menstruais irregulares ou ausência de menstruação, o que indica disfunção ovulatória; presença de quistos nos ovários identificados por ecografia pélvica, geralmente múltiplos pequenos folículos dispostos na periferia do ovário; e sinais clínicos ou laboratoriais de excesso de androgénios, como acne, hirsutismo ou níveis elevados de testosterona.

Entre os exames e análises mais comuns contam-se a ecografia transvaginal ou pélvica, que permite observar a morfologia dos ovários, e as análises hormonais, que incluem a medição da testosterona total e livre, dos níveis de LH e FSH e da sua relação, da prolactina, do TSH para excluir alterações da tiroide, bem como da 17-OH progesterona para descartar outras patologias. Além disso, é importante a avaliação da resistência à insulina através da medição da glicemia, insulina e do índice HOMA-IR, assim como a análise do perfil lipídico e da função hepática, dependendo do quadro clínico apresentado.

Quais as mudanças no estilo de vida: essenciais no controlo da SOP

Para além da medicação, as mudanças no estilo de vida são um pilar essencial no controlo da Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), especialmente em casos associados a resistência à insulina ou excesso de peso. Pequenas alterações consistentes podem ter um impacto significativo nos sintomas e na qualidade de vida.

No que diz respeito à alimentação, recomenda-se optar por uma dieta anti-inflamatória e de baixo índice glicémico, rica em legumes, fruta fresca, cereais integrais, leguminosas, frutos secos e gorduras saudáveis, como o azeite e o abacate. É igualmente importante reduzir o consumo de açúcares refinados, bebidas açucaradas e alimentos ultraprocessados, que podem agravar a resistência à insulina. Deve-se dar prioridade a fontes de proteína magra — como peixe, ovos, tofu ou frango — e a hidratos de carbono complexos, assim como fracionar as refeições ao longo do dia para manter os níveis de energia estáveis.

No que toca ao exercício físico, a prática regular de atividade moderada a intensa, como caminhadas rápidas, natação, corrida ou treino de força, pelo menos 150 minutos por semana, ajuda a regular o ciclo menstrual, melhorar a sensibilidade à insulina e promover o bem-estar psicológico. O treino de resistência, como musculação ou pilates, também se tem mostrado eficaz no equilíbrio hormonal.

A qualidade do sono é outro fator determinante. Dormir entre sete a nove horas por noite, com horários regulares, é fundamental, pois o sono insuficiente ou irregular pode agravar desequilíbrios hormonais e aumentar os níveis de stress. Para promover um sono reparador, recomenda-se evitar o uso de ecrãs antes de dormir, reduzir a cafeína ao final do dia e criar um ambiente calmo e escuro no quarto — estratégias simples, mas eficazes.

Por fim, a gestão do stresse desempenha um papel importante. Técnicas como meditação, ioga, respiração consciente ou terapia psicológica podem ajudar a controlar sintomas como ansiedade, irritabilidade ou cansaço persistente, frequentemente associados à SOP.

Estas mudanças não substituem o acompanhamento médico, mas são fundamentais para potenciar os efeitos da medicação e promover um equilíbrio hormonal mais estável. A chave está na consistência e na adaptação das rotinas ao estilo de vida de cada mulher.

Imagem de abertura do artigo cedida por Freepik.