As doenças intersticiais pulmonares já são responsáveis por um quinto das consultas de pneumologia e embora as suas causas sejam ainda parcialmente desconhecidas, o tabaco e as novas formas de tabaco surgem como um dos principais aliados deste tipo de patologias.

As doenças intersticiais pulmonares (DIP) correspondem um grupo de centenas de doenças "muito heterogéneas", começa por explicar António Morais, pneumologista e presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia. "Nós temos que considerar estas doenças como raras, mas no seu conjunto representam uma significativa percentagem das consultas de pneumologia. Eu diria que cerca de um quinto das consultas de pneumologia serão relacionadas com estes doenças", acrescenta.

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Luís Rosa, radiologista, confirma: "É rara a semana que eu, como radiologista, não veja um doente com patologia do interstício pulmonar, porque abrange um grupo muito vasto de doenças". "No seu conjunto, a incidência é elevada, o que tem como consequência um custo elevado para o país", reforça.

Múltiplas versões destas doenças

Segundo a organização "European Lung, há mais de 300 doenças diferentes que se classificam como doenças pulmonares intersticiais. A maioria é muito rara. Entre elas destacam-se sarcoidose, fibrose pulmonar idiopática, alveolite alérgica extrínseca (também chamada pneumonite por hipersensibilidade), doença pulmonar intersticial associada a doença do tecido conjuntivo, pneumoconiose e doença pulmonar intersticial causada por determinados medicamentos utilizados para tratar outras doenças.

Segundo Luís Rosa, tratam-se de "doenças, muitas delas com um prognóstico fechado, outras crónicas, que representam e afetam pessoas que a partir do momento do diagnóstico passam o resto da sua vida dependentes de qualquer tipo de apoio médico, da realização de exames e tratamentos mais ou menos inovadores e muitas acabam com insuficiência respiratória, que também tem exigências do ponto de vista hospitalar e não hospitalar muito grandes".

Para António Morais, o impacto destas doenças é, de facto, grande. "As terapêuticas que atualmente existem, as mais recentes, são caras, o que envolve um esforço do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e, por outro lado, também pode ser necessário o transplante. É que num número razoável destes doentes a doença é progressiva e, porque não conseguimos controlar essa progressão desfavorável, vai acabar por ser necessário o transplante. Por isso, aquilo que o SNS precisa de disponibilizar para estes doentes é significativo".

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Novas versões preocupantes

Se o tabaco já preocupava os pneumologistas, as novas versões do mesmo adensam os motivos de preocupação.

"O pulmão foi feito para respirar ar puro. Tudo o que não for isso vai necessariamente condicionar uma agressão e mais tarde ou mais cedo, de uma forma mais grave ou menos grave, teremos a resposta a essa mesma agressão", resume António Morais.

Para este especialista, as dezenas de mortes associadas aos cigarros eletrónicos nos Estados Unidos não são uma surpresa.

"É algo que seria previsível. E falando agora do tabaco aquecido, que se tornou uma forma de cigarro mais apelativo, é só uma questão de tempo. Inalam-se substâncias estranhas, que estão a agredir o organismo e obviamente mais tarde ou mais cedo o pulmão vai reagir", descreve. "Vamos saber como mais tarde ou mais cedo", conclui.

Os casos norte-americanos já motivaram um alerta em Portugal: a Sociedade Portuguesa de Pneumologia pediu cautela aos utilizadores portugueses, recordando que o melhor é "respirar ar limpo".

Aquela organização solicitou ainda aos médicos portugueses que comuniquem eventuais casos de doença relacionados com os cigarros eletrónicos às autoridades competentes.