O relatório Human Health Implications of Organic Food and Organic Agriculture, que resultou da análise, por vários investigadores europeus, de estudos na área da alimentação e da agricultura biológica e o seu impacto na saúde, no âmbito de uma investigação dinamizada pelo Centro de Serviços de Investigação do Parlamento Europeu, não deixa qualquer margem para dúvidas.

Os biológicos fazem bem e recomendam-se. «São os únicos alimentos que dão garantias de não usar transgénicos», garantiu, em declarações à Prevenir, Margarida Silva, professora da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa. Em entrevista, a especialista indica os dados mais relevantes deste estudo e o que pode mudar depois dele.

Que dados desta análise mais a surpreenderam?

A conclusão mais importante é, sem dúvida, a principal. Os alimentos biológicos e a produção biológica são melhores para a saúde das pessoas do que a agricultura convencional ou transgénica. As vantagens para o ambiente sempre foram muito claras, mas o impacto direto na saúde e bem-estar da população não estava ainda estabelecido – este estudo vem pôr um ponto final na controvérsia.

Qual a importância de uma análise deste género ser desenvolvida com o apoio do Parlamento Europeu?

Se fosse a Greenpeace ou a Plataforma Transgénicos Fora a fazer o estudo, poderia haver quem pensasse que as conclusões eram radicais. Mas, quando a assinatura é de um respeitado conjunto de cientistas e a chancela é do Parlamento Europeu, o trabalho e as suas conclusões já não podem ser ignorados.

O que pode ou não mudar na sequência de um relatório deste género ao nível da política europeia?

Esperemos, para bem de todos, que mude muito. Existe muito dinheiro na política agrícola comum que pode ser reorientado para garantir que todos os europeus podem consumir alimentos biológicos. Infelizmente, e como sempre, os interesses instalados, quem vende pesticidas não quer perder o negócio, vão fazer o possível para que continue tudo na mesma.

Em relação ao consumo de alimentos biológicos, o que é expetável, nos próximos anos?

Os alimentos biológicos estão a ser cada vez mais procurados pelos consumidores em Portugal e no resto da Europa. Essa tendência vai certamente acentuar-se, até porque esses são os únicos alimentos que dão garantias de não usar ingredientes transgénicos, seja nos produtos vegetais seja nos animais.

Os alimentos biológicos estão presentes na sua alimentação?

Eu e a minha família temos a sorte de viver próximo de um supermercado biológico e quase tudo o que comemos em casa é biológico.

O perfil do consumidor de produtos biológicos

Estudos internacionais revelam que quem consome alimentos biológicos tem tendencialmente hábitos de vida mais saudáveis em comparação com quem opta pelos produtos normais. Estas são algumas das características mais comuns:

- Adota regras da dieta mediterrânea

Consome mais fruta, vegetais e cereais integrais e menos carne vermelha e processada. Estes hábitos estão associados a um menor risco de doenças crónicas, como é o caso diabetes tipo 2 e das doenças cardiovasculares. É, ainda, mais ativo e tem menos tendência para ser fumador.

- Tem um estilo de vida mais sustentável

A produção biológica é responsável por uma menor emissão de gases com efeito de estufa e um uso de terreno mais consciente.

- Tem preocupações para além da nutrição

Quem opta por estes produtos com frequência é motivado por questões éticas. Por outro lado, quem o faz apenas ocasionalmente é motivado por preocupações de segurança alimentar.

- Está em boa forma

A probabilidade de vir a ter excesso de peso ou mesmo obesidade é menor.