A hipertensão e doenças relacionadas (acidente vascular cerebral, doença coronária, insuficiência cardíaca e insuficiência renal) são as principais causas de morte nos países desenvolvidos. A hipertensão é caracterizada por tensão arterial (TA) sistólica superior a 140 mmHg, diastólica superior a 90 mmHg ou uso de medicação anti-hipertensiva. Indivíduos com pré hipertensão (TA sistólica 120-139 mmHg ou diastólica 80-89 mmHg não medicados) têm risco elevado de desenvolver hipertensão e doença cardiovascular comparativamente a indivíduos normotensos (TA sistólica inferior a 120 mmHg e diastólica inferior a 80 mmHg).

Estima-se que em adultos com mais de 50 anos de idade, o risco de desenvolver hipertensão aproxima-se dos 90%. Dados recentes indicam que a prevalência da hipertensão está a aumentar e que as medidas de controlo nos indivíduos hipertensos continuam baixas. Em média, indivíduos de raça africana têm uma tensão arterial mais elevada, bem como o risco de complicações associadas, em particular o acidente vascular cerebral e insuficiência renal.

A elevação da tensão arterial é resultante de fatores ambientais, genéticos e interação entre estes. Dentro dos fatores ambientais que afetam a tensão arterial (alimentação, atividade física, toxinas e stresse) a alimentação tem um papel proeminente e predominante no seu controlo.

O papel do sódio na hipertensão

O consumo excessivo de sal (cloreto de sódio) tem um papel muito importante na patogénese da hipertensão. O excesso de sódio tem, também, outros efeitos como a hipertrofia ventricular esquerda, fibrose cardíaca, renal e arterial. A tensão arterial tem duas funções no nosso organismo, nomeadamente a manutenção da perfusão de sangue aos tecidos e o controlo da concentração de sódio no corpo.

Ao aumentar a tensão arterial, o organismo consegue excretar o sódio em excesso através do rim. De facto, esta é o mecanismo fisiológico mais importante na manutenção do balanço hídrico e de sódio. Durante períodos de muito baixo aporte de sódio, uma deficiência em sódio pode ser eficazmente prevenida pela diminuição da tensão arterial.

Através desta diminuição o organismo previne a excreção de sódio por parte do rim. Por outro lado, no caso de ingestão elevada de sal, o corpo previne a acumulação de sódio e água através da elevação da tensão arterial. Muitos estudos mostraram que o consumo médio de sódio nos países industrializados é de aproximadamente 3.000 a 4.500 mg/dia (8 a 12 g de sal/dia). Numa alimentação ausente de produtos processados e sem adição de sal os níveis de sódio são mais baixos, aproximadamente 600 mg.

A obesidade e a hipertensão

Na presença de condições genéticas normais, a excreção do excesso de sódio é diminuída num individuo obeso. Deste modo, a elevação da tensão arterial é necessária para que a excreção do sódio ocorra a nível renal. Está provado que o aumento das doses ou porções de alimentos ingeridos está correlacionado com a obesidade.

Do mesmo modo, o aumento da quantidade de alimentos ingeridos traduz-se numa maior ingestão de sal. Outros fatores contributivos para o aumento do consumo de sal, para além dos já falados, consistem em mudanças nos hábitos alimentares nas refeições intermédias e no facto de cada vez mais as refeições realizarem se fora de casa, nomeadamente em restaurantes de fast-food.

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A diabetes e a hipertensão

A hipertensão em indivíduos com diabetes é caracterizada por um aumento da sensibilidade ao sódio, o que permite dizer que o descontrolo glicémico acentua o efeito hipertensivo do sal. Existe também alguma evidência recente que sugere que, na atualidade o aporte excessivo de sal pode ser um fator importante para o desenvolvimento de diabetes tipo 2 através do consumo de refrigerantes e bebidas carbonatadas, ricas em açúcares simples e sódio.

O problema dos alimentos processados

O processamento industrial dos géneros alimentares provoca uma distorção dramática no conteúdo dos alimentos, em especial nos níveis de sódio, potássio, cálcio e magnésio. Temos, a título de exemplo, o tomate (natural) e o ketchup (processado) ou ainda das sementes de girassol (natural) e a margarina de óleo de girassol (processado).

A alimentação moderna, caracterizada largamente pelo processamento alimentar, proporciona quantidades de sódio, potássio, cálcio e magnésio bastante diferentes de uma alimentação composta essencialmente por alimentos não processados. De uma forma geral, o processamento alimentar provoca o aumento da quantidade de sódio e diminuição dos valores de potássio, cálcio e magnésio dos alimentos.

A excreção de sódio é aumentada com um aumento da ingestão de potássio, cálcio e magnésio. Deste modo, a distorção dos níveis de minerais durante o processamento alimentar é uma importante causa da elevada prevalência de hipertensão arterial.

Estratégias para combater a hipertensão e baixar a tensão arterial:

- Perda ponderal

A evidência cientifica mostra que o peso está diretamente relacionado com a tensão arterial. A perda ponderal (perda de peso) permite baixar a tensão arterial. Num individuo com excesso de peso, alguma perda ponderal traduz se numa redução nos níveis de tensão arterial, mesmo sem atingir o peso ideal ou desejado.

Uma intervenção no estilo de vida, a nível da prática regular de exercício físico e uma redução do valor calórico total promovem a perda de peso. A evidência mostra que, a perda de peso de modo a atingir um índice de massa corporal inferior a 25 quilos por metro quadrado e um perímetro abdominal inferior a 102 centímetros para o sexo masculino e inferior a 88 centímetros para o sexo feminino são medidas de prevenção e tratamento da hipertensão arterial.

- Redução da ingestão de sal

Em geral os efeitos da redução de sal na tensão arterial são mais elevados em indivíduos de raça africana, indivíduos de meia-idade e idosos, indivíduos com hipertensão, diabetes e doença renal cronica. A dose diária adequada de sódio para a população geral é de 1,5 gramas/dia (o equivalente a 3,8g de cloreto de sódio ou de sal de cozinha).

Contudo, a nível individual uma redução efetiva no consumo de sal não é fácil de atingir devido ao fato de 80% desse consumo envolver o chamado sal escondido presente nos alimentos processados, nomeadamente pão, produtos de carne, queijo, manteigas e margarinas e os cereais.

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- Recomendações alimentares

O consumo de legumes (8 a 10 porções), lácteos não gordos (duas a três porções), alimentos ricos em fibra como os cereais integrais e proteína vegetal (pobre em gordura saturada e colesterol) são recomendações importantes no tratamento e prevenção da hipertensão arterial. O consumo de fruta fresca é também recomendado, contudo devemos ter atenção especial em indivíduos obesos e/ou diabéticos devido ao seu conteúdo em açúcares simples.

Estes são alguns dos princípios do chamado padrão alimentar DASH (Dietary Approuch to Stop Hypertension). É ainda recomendado o consumo de peixe, pelo menos, duas vezes por semana, característico num padrão alimentar mediterrânico.

- Tenha atenção às bebidas alcoólicas

A relação entre o consumo de álcool e os níveis de tensão arterial é linear. O consumo regular de álcool aumenta-a em indivíduos medicados para a hipertensão. Enquanto o consumo moderado parece não causar problemas, o consumo excessivo de álcool eleva a tensão arterial e aumenta o risco de acidente vascular cerebral.

É recomendado que homens hipertensos limitem o consumo de álcool entre 20 a 30 gramas por dia (cerca de dois copos de vinho), enquanto as mulheres devem limitar o seu consumo entre 10 a 20 gramas por dia (apenas um copo de vinho).

Texto: Gonçalo Candeias (dietista do clube Holmes Place da Quinta da Beloura)