A superfície dura e rugosa do tártaro é a ideal para mais acumulação e formação de novo tártaro, podendo este chegar a formar-se sobre a gengiva e sob a gengiva, designando-se sub-gengival. Podem surgir ainda pontes de tártaro altamente prejudiciais para a estrutura dentária, estando estas na origem de várias patologias como a halitose, vulgo mau hálito, recessão gengival, reabsorção óssea e inflamação crónica das gengivas.

O termo cálculo provém do latim calculus, que significa pequena pedra, e foi inicialmente utilizado no século XVIII para descrever formações minerais no corpo humano. Quanto ao termo tártaro, este advém do grego Tartaron, designando incrustações brancas nos cascos dos barcos, e foi utilizado primeiramente no século XIX como referência à sua acumulação nos dentes.

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A composição do tártaro tem por um lado uma componente inorgânica, essencialmente de cristais de fosfato de cálcio, e por outro uma componente inorgânica composta por material celular, lípidos e proteínas bacterianas e salivares. Contém ainda vestígios da alimentação do indivíduo, os chamados microdetritos ambientais.

Como surge e porquê?

A sua formação é mais preponderante nas faces externas dos molares superiores e superfície lingual dos incisivos inferiores, estando diretamente relacionados com a posição dos orifícios das principais glândulas salivares, que, tal como referido anteriormente, provocam a mineralização da placa bacteriana existente.

A acumulação de tártaro faz-se por camadas, podendo, em casos de má higiene oral prolongada, formar pontes do mesmo entre os dentes. A variação da formação e acumulação está relacionada com a idade, género, dieta, doenças sistémicas, assim como com a localização e posição dos dentes nas arcadas dentárias.

A acumulação de tártaro leva à irritação e inflamação gengival, designadamente gengivite, podendo evoluir para níveis sub-gengivais, abaixo do nível da gengiva, para periodontite, que se traduz pela agravamento da doença.

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A presença de tártaro implica uma inflamação gengival, que prolongada, leva à inflamação óssea subjacente à gengiva, levando à reabsorção óssea, isto é, uma erosão do osso por presença contínua de agentes inflamatórios.

Assim, dá-se inevitavelmente uma regressão ao nível das gengivas e ossos que é irreversível, pondo a descoberto as raízes dentárias, situação que cursa com sensibilidade intensa, mobilidade dentária e inflamação da polpa dentária que vai aumentando exponencialmente. A perda dos níveis gengivais e ósseos é irrecuperável na sua totalidade.

A acumulação de placa bacteriana até à mineralização e formação de tártaro é um processo contínuo e, como já foi referido, evolui por aprofundamento e acumulação por camadas.

Nas camadas mais superficiais, as bactérias existentes são aeróbias, ou seja, consomem oxigénio. Já as bactérias que se acumulam nos níveis sub-gengivais são anaeróbias, ou seja, sobrevivem na ausência de oxigénio. Estas são as mais agressivas e as mais patogénicas, porque estão em contacto íntimo com a circulação sanguínea através da gengiva inflamada e sangrante e também do osso inflamado e poroso.

Uma perigosa porta de entrada no organismo

Esta patologia favorece uma entrada direta de bactérias e microorganismos altamente agressivos na circulação sanguínea que se alojam nas várias estruturas nobres do corpo humano. Estas bactérias agressivas, com inserção direta no organismo, vão insidiosamente alojando-se nos locais mais sensíveis, nomeadamente válvulas cardíacas, túbulos renais e hepáticos, articulações e até meninges cerebrais em casos de imunodeficiência.

O estado geral dos níveis inflamatórios pode ser tão elevado que está cientificamente comprovado que a doença das gengivas e osso dentário, a periodontite, pode provocar partos prematuros.

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Com um tratamento dentário completo de remoção de tártaro, eliminação da cárie e extração de peças dentárias com abcessos paradontais purulentos (e substituição das peças em falta com implantes, por exemplo), é muito comum que os pacientes refiram que se sentem com mais energia e menos dores nas articulações.

Tal é comum porque as bactérias acima referidas estão continuamente a entrar na circulação sanguínea, provocando uma agressão continuada ao organismo e gerando uma diminuição do estado de saúde geral da pessoa. O sistema imunitário encontra-se a combater incessamente essas bactérias altamente agressivas, isto é patogénicas, o que provoca uma diminuição do estado anímico da pessoa.

O impacto social na pessoa acontece em múltiplas vertentes: um estado anímico diminuído pela patologia leva a que o indivíduo tenha menos iniciativa e energia para trabalhar, socializar e até para a execução de atividades desportivas.

A halitose

Um dos maiores impacto sociais é a halitose resultante da acumulação de tártaro, a pessoa, sabendo do cheiro que tem da sua boca, coíbe-se de comunicar abertamente, tentando até estratégias de baixar a cabeça para comunicar dado o constrangimento, transmitindo ao interlocutor uma imagem de desinteresse ou até de que não acredita no que está a falar, por exemplo em situação de actividade profissional,em termos negociais ou até de angariação de clientes, o resultado é desastroso, levando a insucesso, por uma causa muito simples. A halitose,  o mau odor da boca, quando em situação de intensidade moderada a grave, leva a que interlocutores se afastem e rejeitam a pessoa, a rotulação inevitável de má higiene pessoal, leva a uma desconsideração ou criação de barreiras para a comunicação e interacção.

Este é um processo de sequência de eventos, a acumulação de tártaro leva a mais acumulação e aprofundamento da patologia, a agressão contínua por microorganismos que diminuem o estado geral, a halitose com impacto clínico, social  e ao extremo a perda de dentes afectando a alimentação e levando à selecção de alimentos mais processados com menos nutrientes, por não ter eficácia mastigatória,  em que ciclicamente se vai agravando até atingir níveis irreversíveis.

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É então fundamental a saúde oral, a consulta periódica ao dentista, de 6 em 6 meses em casos de saúde oral e ausência de patologia, ou de 4 em 4 meses em caso de existência de patologias periodontais ou controlo mais apertado por presença de patologias sistémicas, como diabetes, ou em tratamentos com medicamentos que afectem a saúde oral, sejam medicamentos para epilepsia, antidepressivos, ansiolíticos, oncológicos, sendo o mais indicado informar-se com o Médico-dentista. É fundamental os cuidados regulares em pacientes com doenças cardíacas, diabetes, oncológicos, transplantados, a fim de evitar complicações graves por problemas dentários.

É muito importante informar o Médico-dentista em casos de existência de próteses cardíacas ou ósseas, pace-makers, ou histórico de patologias, pois há cuidados específicos para estes pacientes em que o médico-dentista saberá actuar.

Podemos concluir que Saúde Oral é a base da Saúde do corpo humano, pois com uma dentição saudável a pessoa não tem restrições em escolher alimentos, comunicar e interagir, ter uma auto-imagem positiva levando-a a uma melhor postura perante a vida.

Os conselhos são dos médicos dentistas Marta T. Dias e Olívio Lopes Dias.