A herança genética é um fator decisivo, podendo aumentar a propensão para a doença. Pessoas com casos de cancro na família, sobretudo da mama, dos ovários, da próstata ou do pâncreas, têm maior risco de desenvolver neoplasia da mama. Sobretudo, se familiares diretos, como a mãe, a irmã ou avó, tiverem sido vítimas desta doença. «Nestes casos, a probabilidade aumenta entre 2,5 vezes e três em relação à população geral», revela Fátima Cardoso, médica oncologista.

«A causa mais comum de cancro da mama hereditário é uma mutação nos genes BRCA1 e BRCA2», lê-se no site da American Cancer Society, organismo norte-americano que investiga a doença. «Em células normais, estes genes ajudam a prevenir o cancro ao produzir proteínas que impedem as células de crescer de forma anormal» informam ainda os especialistas desta instituição.

«Estes genes estão associados ao processo de renovação celular, aumentando a possibilidade não só de cancro da mama como do ovário, do pâncreas, da próstata e do estômago. O BRCA 1 está mais associado a tumores triplos negativos e o BRCA 2 a recetores de marcadores hormonais», acrescenta a também diretora da Unidade de Mama do Centro Clínico Champalimaud em Lisboa.

O que posso fazer para prevenir o cancro?

Se tem casos de cancro da mama, do ovário, da próstata ou do pâncreas na família, deve marcar uma «consulta de genética médica para fazer uma avaliação da probabilidade de haver alguma alteração genética», recomenda Fátima Cardoso. «Se essa probabilidade for superior a 20%, o médico aconselha a que se faça um teste genético», esclarece ainda a conceituada médica oncologista.

Alguns especialistas recomendam a terapia hormonal de substituição (THS) em mulheres a partir dos 55 anos. «Há uma relação entre este tipo de terapêutica [usada para atenuar sintomas da menopausa] e o risco de cancro da mama, pois envolve a toma de uma dose elevada de estrogénios», alerta, contudo, Fátima Cardoso. A decisão deve ser discutida com o médico ginecologista.

No entanto, em termos gerais, mulheres saudáveis não devem fazer este tipo de terapêutica durante mais de cinco anos. Essa é, pelo menos, a opinião da diretora da Unidade de Mama do Centro Clínico Champalimaud em Lisboa. No caso de quem já teve cancro da mama, na grande maioria dos casos, a THS «está desaconselhada», adverte ainda a médica oncologista.

A pílula é sempre segura?

Também aqui Fátima Cardoso não tem dúvidas. «A sua toma está associada a um ligeiro aumento do risco de cancro da mama, que não é suficiente para contraindicar a sua toma só por este motivo», refere. «Inversamente, em relação ao cancro do ovário, verifica-se uma ligeira diminuição do risco», sublinha, todavia, a conceituada especialista portuguesa.

«Quem teve cancro da mama tem de usar outros métodos contracetivos, especialmente se tiver tido um tumor com recetores hormonais positivos», sublinha a diretora da Unidade de Mama do Centro Clínico Champalimaud em Lisboa. A decisão sobre a toma da pílula, considera a American Cancer Society, deve ser ponderada com o médico, tendo em conta os fatores de risco da mulher.

Texto: Catarina Caldeira Baguinho e Nazaré Tocha com Fátima Cardoso (médica oncologista e diretora da Unidade de Mama do Centro Clínico Champalimaud)