Após dez anos de treino em meditação, com o culminar como monge num mosteiro tibetano na Índia, Andy Puddimcombe resolveu tornar a meditação acessível. Uniu-se a Rich Pierson, um creative developper, para criar um projeto que pretende desmistificar o conceito da meditação, além de explicar porque o devemos fazer todos os dias. O resultado? A aplicação Headspace, três livros e toda uma nova abordagem.

A Headspace tem como missão melhorar a felicidade e a saúde do mundo, usando a ciência e tecnologia para tornar a meditação mindful e acessível a toda a gente. Pode parecer uma missão arrojada ou algo ambiciosa, mas com três milhões de utilizadores a nível mundial, Andy Puddicombe já percebeu que todos estamos ávidos por uma vida mais equilibrada e focada.

Se ainda está cético, o melhor mesmo é a ler a entrevista exclusiva que Andy Puddimcombe deu à Saber Viver. No final, basta fazer download da aplicação móvel e está pronto para começar. Será que é desta que vai começar a meditar?

Depois da experiência no mosteiro tibetano, qual foi a sua motivação para regressar ao Reino Unido?

Queria realmente partilhar o conhecimento que adquiri durante o meu tempo enquanto monge, para que outros pudessem também beneficiar da meditação. A ideia era desmistificar a meditação, torná-la acessível e benéfica ao maior número de pessoas. Após ter deixado o mosteiro estive numa escola de circo onde obtive formação em artes circenses e depois mudei-me de novo para Londres, onde criei consultoria em meditação.

Como surgiu a ideia da aplicação Headspace?

Comecei a minhas consultas de meditação em 2006, num consultório com uma abordagem de medicina integrada. Pouco tempo depois conheci o Rich [Pierson], em 2008, que estava com vontade de aprender meditação, porque sentia-se cansado do trabalho em publicidade e estava à procura de uma forma de relaxar. Eu, por outro lado, estava à procura de uma forma de tornar a meditação acessível. Fizemos uma troca de competências e, pouco tempo depois, nascia a Headspace.

Como acha que a meditação e a ciência interagem?

Existe constantemente novas pesquisas e estudos científicos que documentam como a meditação funciona e beneficia quem a pratica. Parte foca-se nos benefícios psicológicos, como reduzir a ansiedade ou a depressão, enquanto que outros estudos se centram mais nos benefícios fisiológicos, como a melhoria da saúde do coração ou do sistema imunitário. A pesquisa científica na meditação também explodiu nos anos mais recentes.

Existem mais de 2000 estudos científicos que revelam que o treino de mindfulness tem benefícios significativos, abrangendo tudo, desde a redução de stresse, ansiedade, depressão, até à melhoria do sono e níveis de empatia. Imagino que algumas pessoas que eram mais céticas, estão agora começar a perceber os benefícios que a meditação pode oferecer.

Qual a diferença entre mindfulness e meditação?

Na Headspace, definimos mindfulness como a intenção de estar presente no aqui e agora, totalmente envolvidos no que está a acontecer, livres de distração ou julgamento, com uma mente suave e aberta. A meditação é um simples exercício de familiarização com as qualidades de mindfulness. Ajuda a otimizar as condições para treinar a mente para ser mais calma, clara e benevolente.

Veja na página seguinte: Todos podem praticar meditação?

Quais os principais benefícios da meditação para si?

A meditação tem impacto em todas as áreas da vida. Ajuda a reduzir sentimentos de stresse e ansiedade, melhora o sono, aumenta a produtividade no trabalho e a performance física no desporto. Até ajuda a limar as arestas numa relação, porque nos tornamos mais pacientes, melhores ouvintes e talvez também um pouco mais bondosos. O conjunto de benefícios é vasto e varia de pessoa para pessoa mas, em última instância, não conheço ninguém que não gostasse de um pouco mais de calma e foco na sua vida.

Porque acha que se tornou tão popular?

Pode ter algo a ver com o facto de as pessoas se sentirem sobrecarregadas. Não há dúvida de que a tecnologia aumentou o ritmo em muitas áreas da nossa vida, existindo a expetativa de encaixarmos imensa coisa em cada minuto do nosso dia, por isso não é de espantar que as pessoas se sintam esgotadas.

Num mundo barulhento, a perspetiva de conseguirmos tempo para o silêncio pode ser muito apelativo para muita gente. A outra questão é que realmente funciona e as pessoas partilham o que funciona de forma muito rápida nos dias que correm. Para a Headspace, muito do crescimento tem sido de passa palavra.

Todos podem praticar meditação?

Sim.

E se não tivermos tempo?

Desenvolvemos o Take10 para pessoas com vidas ocupadas. Demora menos de 1% do seu dia, e pode ser feito no caminho para casa ou na secretária à hora de almoço. Por isso, existe tempo para o fazer. Só tem de alocar esse tempo à meditação.

As crianças também podem e devem fazê-lo?

Sabemos de pais com crianças tão novas com 5 e 6 anos que fazem a aplicação Headspace com elas.

Acha que o mindfulness pode ser uma resposta às nossas vidas repletas de tecnologia?

Com o ritmo atual de vida e o aumento crescente de exigências, entre as quais a tecnológica, não há dúvida de que a mente está a experienciar um novo e potencial grau de risco de pressão. A maioria das pessoas assume que o stresse faz simplesmente parte da vida, mas não precisa de ser assim. A meditação mostra-nos como viver de forma mais hábil.

As exigências constantes de alertas, notificações e redes sociais podem deixar-nos esgotados e sem contacto com as pessoas de quem gostamos mais. Nestas condições pode ser tentador rejeitar a tecnologia por completo. Mas esta abordagem de tudo ou nada raramente funciona a longo prazo, já para não mencionar que se substituirmos o completamente obcecados por tecnologia, por o completamente obcecados por não usar tecnologia, continuamos obcecados.

Tem tudo a ver com uma abordagem mais equilibrada e sustentável. Não tem a ver com tecnologia ou mindfulness, tem sim a ver com um uso da tecnologia mindful. No fundo, todo o projeto Headspace tem sido completamente impulsionado pela tecnologia.

Veja na página seguinte: O que é uma alimentação mindful?

Escreveu um livro sobre alimentação. Acha que a meditação pode ter um efeito benéfico nas nossas dietas?

Sem dúvida. Uma alimentação mindful pode ajudar a reduzir o ciclo vicioso de pensamento, logo, conduzir a uma relação com a comida muito mais feliz e pacífica. A meditação permite-nos ganhar mais perspetiva no nosso pensamento e, potencialmente, intervir num comportamento compulsivo, antes de agir, o que pode ser útil quer a questão seja comer donuts ou aproximarmo-nos de pessoas com quem temos dificuldades.

O que é afinal uma alimentação mindful?

A comida é um objeto de fascínio e distração e pode parecer um tema complexo. Mas os processos em andamento na mente são relativamente simples, sendo que a ação física de colocar a comida na boca não acontece por acidente. Para que o braço se estique e a mão tire a próxima fatia de piza é preciso um sinal do cérebro.

O sinal pode ter sido motivado por pensamentos, emoções ou até sensações físicas e, de muitas formas, não interessa qual foi. O importante é que criamos espaço no cérebro suficiente ou clarividência para garantirmos que não seguimos necessariamente esse impulso específico. Introduzir a meditação na sua rotina, pode ajudar a controlar o que se come.

Já escreveu dois livros. Planeia mais algum?

Acabei de escrever um livro sobre como ter uma gravidez mindful, que está disponível desde junho [de 2015], apelidado de «The Headspace Guide To A Mindful Pregnancy».

O lado prático

Siga os conselhos de Andy Puddimcombe e comece… agora!

1. Como começar

O Take10 é perfeito para começar. É o nosso curso para iniciados e oferece 10 meditações guiadas, 10 minutos por dia. É gratuito e pode fazê-lo as vezes que quiser.

2. Onde meditar

Pode meditar onde quiser, o importante é que seja num local onde não vá ser interrompido. Um local que lhe transmita uma sensação de calma.

3. O que vestir

O que quiser, desde que se sinta confortável. Se estiver de saltos altos, vai apetecer descalçar-se.

4. Como respirar

Deixe a respiração seguir o seu curso natural, sem interferir com a mesma.

5. Existe uma hora ideal?

A melhor forma de meditar é torná-la parte da sua rotina. Se achar mais fácil meditar de manhã, antes do pequeno-almoço, faça-o. É melhor fazer diversas sessões curtas, do que entrar numa maratona de meditação. Com a app consegue levar a meditação para todo o lado e meditar a qualquer hora.

6. Quantas vezes devemos meditar por semana?

Se possível, sugiro uma meditação diária.

Texto: Ana Ferreira