A receita para a felicidade que apregoa não poderia ser mais simples. Transforme o negativo em positivo e desperte a criança que há em si. "Manter a capacidade de nos deslumbrarmos com o que está à nossa volta, como fazem os mais novos, é a chave para sermos mais felizes", garante Isabel Abecassis Empis, psicóloga e psicoterapeuta, uma apaixonada pela vida que transmitiu essa mesma paixão na obra "Eu quero amar, amar perdidamente", um título publicado pela editora Oficina do Livro.

Uma compilação de crónicas sobre crescer e amar com um título que recorda o poema homónimo de Florbela Espanca, porque demonstra que "até nesta poetisa, que nos transmite uma vida de desespero, havia esperança", assegura a autora. "A nossa felicidade vem da nossa relação com as coisas e não destas, vem da nossa capacidade de nos transformarmos e de amarmos perdidamente como só as crianças o fazem", realça. Percorra connosco esta viagem interior em forma de entrevista.

No seu livro aborda o conceito da criança interior. Pode explicar-nos o que significa?

Despertarmos a criança que há em nós ajuda-nos a sermos felizes e a revitalizar as nossas capacidades. Este conceito está relacionado com o que nós fomos enquanto crianças e com o potencial humano que recebemos durante a infância. Por vezes, afastamo-nos dessas referências devido às vivências que vamos tendo. Por exemplo, já todos reparámos na facilidade com que uma criança transforma uma carica numa bola de futebol e que é ao brincarmos que começamos a aprender e a estabelecer relações com as coisas.

O que podemos fazer para que essa criança dentro de nós se revele?

Termos atenção a nós próprios, ao que sentimos, e perceber que o nosso ser não está no nosso ter e que não é através do parecer e do ter que se chega a ser. É importante dar tempo ao tempo, viver o presente e não o passado e o futuro e pensar que a alegria, que tem sido muito confundida com excitação e agitação, advém da tranquilidade.

Qual o peso da nossa infância para uma vida adulta feliz ou infeliz?

Não é a nossa infância em si mas, sim, o peso da nossa relação com ela e a nossa capacidade de transformar e de viver. Eu e o meu irmão podemos ter vivido um mesmo traumatismo, mas podemos interiorizá-lo de forma diferente. Temos de perceber que o importante é saber transformar as dificuldades em oportunidades de aprendizagem.

Como é que os pais devem lidar com os desafios que se colocam na relação com os filhos?

Deixar os filhos serem eles próprios. Os pais devem dar atenção aos filhos e curtir o tempo que estão com eles.

O que é essencial que os pais façam para garantirem aos filhos uma infância feliz?

Estar presente e deixá-los ser criativos.

E que erros deteta na relação entre pais e filhos nos dias que correm?

Falta de atenção e de diálogo. Os pais bombardeiam as crianças e jovens com atividades secundárias e ainda não perceberam que eles próprios podem ser o melhor programa para os filhos.

Muitos pais sentem uma enorme culpa por não poderem passar o tempo que desejavam com os filhos. Que conselhos lhes pode dar?

Aproveitarem o tempo que estão juntos, não falar dos filhos mas com eles e não estarem preocupadas com o trabalho e com a ideia de sucesso.

No seu livro aborda diversos temas relacionados com pais e filhos. Pode destacar alguns?

Destaco as férias e as festas natalícias. O primeiro alerta para o facto dos pais pensarem que as férias compensam todo o tempo que não passaram com os filhos durante o ano. Destaco a outra crónica porque, apesar do Natal ser uma época de partilha, muitas vezes esquecemo-nos disso por estarmos tão atarefados e transformamos os dias de união em desilusão.

O que é que os pais podem fazer para as crianças viverem de forma salutar mas alerta para os perigos que as rodeiam?

Fazer com que as crianças desenvolvam dentro delas a consciência dos perigos e a responsabilidade, em vez de lhes incutirem o medo.

O papel da simplicidade na felicidade é um dos conceitos que defende. Porquê?

A vida não tem de ser uma coisa complicada. Temos de perceber a sua simplicidade ou, pelo menos, ter consciência de que, muitas vezes, complicamos o que é simples. O mundo de hoje é igual ao que sempre foi, somos nós que pensamos que na complicação reside o estatuto de adulto. No entanto, simples não quer dizer estéril nem estúpido e, por outro lado, importante não significa complicado.

No seu primeiro livro, "Bem-aventurados... Os que ousam", abordou a capacidade que todos temos de transformar as perdas em ganhos. Mas a imagem que se tem de Portugal é de que é um país de pessimistas...

Não acho que sejamos um país pessimista, temos é o vício da queixa e do vai-se andando... Nos centros de saúde, as pessoas competem pelas doenças e isto acontece porque a queixa, culturalmente falando, tem sido valorizada e a alegria é conectada com estupidez, leveza ou superficialidade.

Como podemos transformar essas queixas em algo de positivo?

Primeiro, temos de ter consciência de que nos queixamos e, depois, aprender a viver. Aprender a mudar a nossa relação com as coisas, a ver, a ouvir e a ser criativo em tudo...

Alguns dos seus livros têm em comum um certo sentido do humor. Este é um dos caminhos para sermos mais felizes?

É um instrumento poderoso! Rir de nós e das nossa fragilidades e oferecermos isso aos outros em forma de humor faz-nos lidar melhor com as nossas fraquezas. Negar as nossas falhas e escondê-las só nos torna mais fracos. Ninguém é obrigado a ter humor, mas como diz António Coimbra de Matos [psicanalista e autor do prefácio de "Bem-aventurados... Os que ousam", outro dos título da Oficina do Livro], ter sentido de humor é ter saúde mental.

Texto: Rita Caetano

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