Laramée, que iniciou a sua carreira como escritor e músico, encara os seus trabalhos escultóricos como uma extensão de suas reflexões sobre o conhecimento e a perda de informações na era digital.

Para o escultor, velhos livros impressos são símbolos de uma memória coletiva que, à medida que nos afastamos da leitura em papel, se estão a tornar obsoletos. Através da escultura, Laramée procura preservar a ideia de que o conhecimento e a experiência humana vão além do que pode ser acumulado e armazenado.

Nas suas criações, o escultor canadiano usa uma técnica que combina erosão e escavação. Guy desgasta e esculpe cuidadosamente as páginas para formar vales e montanhas detalhados.

Cada peça pode levar semanas para ser concluída, pois o artista trabalha página por página para criar relevos intricados. Inspirado em práticas tradicionais e filosóficas, Laramée explora temas como a transitoriedade, a efemeridade e a espiritualidade. Em séries como “The Great Wall”, o escultor transforma livros em “relíquias” que nos recordam antigas civilizações e paisagens naturais, propondo uma reflexão sobre o que permanece e o que se perde ao longo do tempo.

As obras de Laramée desafiam a função tradicional dos livros como fontes de informação direta, transformando-os em portais de memória e imaginação. As camadas escavadas simbolizam a remoção de informações, destacando a complexidade dos conhecimentos que perdemos quando nos afastamos das formas físicas.

Embora sejam esculturas visuais, os livros esculpidos de Laramée carregam um aspeto contemplativo que evoca a tradição japonesa do wabi-sabi, valorizando o efémero e o inacabado.

Os trabalhos deste artista foram expostas internacionalmente e atraem a atenção de públicos diversos, fascinados pela maneira como transforma um objeto familiar em algo inteiramente novo e provocativo.