
Em junho, Lisboa veste-se de festa. Mas atrás das luzes e da música, há trabalho, dedicação e uma ligação aos bairros que não se vê à primeira vista. O projeto “Retratos de Bairro”, promovido pela Xiaomi, quis fixar esse lado menos visível: o que não se mostra nas visitas guiadas, mas se sente nos corredores das sedes, nos ensaios noturnos e nos rostos de quem nunca deixou de voltar.
O desafio era claro: documentar Alfama e a Bica, dois bairros que são tanto símbolo como território vivido, através de uma abordagem fotográfica humanista. Para isso, a marca convidou dois fotojornalistas com trajetos reconhecidos: Gonçalo Fonseca, vencedor do “Leica Oskar Barnack Award 2020”, e Daniel Rodrigues, distinguido com o “World Press Photo” em 2013.
Ambos aceitaram. Cada um ficou com um bairro: Gonçalo fotografou Alfama, Daniel ficou com a Bica. E ambos trabalharam apenas com um smartphone.

“Uma das experiências mais difíceis como fotógrafos é fotografar o que está mais próximo”. A frase é de Gonçalo Fonseca e serve de entrada para quase tudo o que se passou neste projeto. “Fotografar a cidade onde vivo e nasci é muito mais exigente do que fotografar um lugar desconhecido. É um desafio muito grande ver o maravilhamento que temos com aquilo que é novo, num lugar que faz parte do nosso dia a dia”, assume em entrevista ao SAPO Lifestyle.
Apesar de já ter documentado as Marchas de Alfama anteriormente — em 2019, quando acompanhou os ensaios e atuações da marcha com o objetivo de retratar o impacto da gentrificação no bairro —, o regresso teve um novo foco. Se antes se centrava na deslocação dos marchantes, agora procurava registar o que permanece: o vínculo, a energia coletiva e o sentido de comunidade que resiste, mesmo quando o bairro já não é o mesmo.
Daniel Rodrigues, natural do Porto, viu no convite uma oportunidade para interromper o ciclo das viagens longas e voltar a um registo mais próximo. “Este projeto foi uma oportunidade rara de olhar para dentro, para o que está mais próximo e é, por vezes, negligenciado. Foi também uma forma de me reconectar com o lado mais humano e íntimo do fotojornalismo — com as ligações afetivas, com a rotina das pessoas, com a identidade de um bairro”, explica-nos.
A integração nos bairros, para ambos, passou por um princípio simples: estar antes de registar. “Fiz questão de ir uns dias antes à Bica, ainda antes de pegar na câmara, apenas para assistir aos ensaios, dar-me a conhecer, falar sobre o projeto e perceber toda a dinâmica do bairro”, afirma Daniel, acrescentando que “dessa forma, quando chega a altura do registo fotográfico, já não sou um estranho. Já existe confiança e respeito mútuo.”
Por seu turno, Gonçalo, com ligações antigas à zona, foi recebido com naturalidade. “Por já ter fotografado as Marchas populares anteriormente, foi um processo de integração muito fácil. A organização da Marcha abriu-me completamente as portas e fui muito bem recebido por todos. Vivo perto de Alfama e vou lá muitas vezes, por isso é um sítio familiar, que me faz lembrar das minhas próprias raízes”, assume.
Um bairro que não se esquece de quem já saiu
Os fotógrafos encontraram, tanto em Alfama como na Bica, uma ligação que ultrapassa o código postal. Nem todos os marchantes vivem ainda nos bairros que representam, mas todos regressam por uma razão que não se explica. “Apesar da descentralização, muitos dos marchantes já não vivem no bairro, há um sentimento de pertença muito forte”, comprovou Daniel Rodrigues na sua incursão pelo bairro, notando que “a identidade da Bica continua viva através da tradição, da memória e do compromisso destas pessoas. Isso nota-se nos olhares, nos gestos, nos bastidores, nas conversas.”
O mesmo sentiu Gonçalo Fonseca, em Alfama: “Há uma relação profunda entre as pessoas com quem falei e fotografei e o sítio onde vivem. Algumas nasceram lá, outras foram lá parar ao longo da vida, mas todos conhecem Alfama como a sua casa, como porto de abrigo.”
Mas há mais para lá do que um evento pode dar a ver. E Gonçalo sentiu isso. “Apesar de enfraquecidas, as redes de vizinhança ainda são fortes. Os vizinhos cumprimentam-se nas ruas, diz-se ‘bom dia’ nos cafés. Apesar disso, senti que muitas pessoas estavam também cansadas daquilo em que o bairro se está a tornar, com o processo de turistificação de Alfama.”
Se as festas de Lisboa e as Marchas Populares não vivem uma sem a outra, muito antes do desfile na Avenida, há meses de trabalho que não passam no direto da RTP. “O que mais me surpreendeu foi a dedicação que todos mostram a este projeto comum. Há uma grande vontade de representar o bairro da melhor forma possível, com orgulho e ambição de vencer”, diz-nos Gonçalo Fonseca. “São meses de preparação muito intensos, desde a criação das roupas, aos ensaios da música e coreografia. Há um esforço enorme de todas as partes para poder fazer um bom espetáculo e honrar os vizinhos e amigos”, pôde constatar.
Uma força de vontade que tocou Daniel Rodrigues: “A dedicação diária. O facto de muitas das pessoas que participam nas marchas já não viverem na Bica, mas voltarem por paixão ou ligação familiar, ensaiando todos os dias durante meses — isso tocou-me. E depois, os que ainda vivem no bairro e ajudam a montar os arraiais com as próprias mãos.”
Quando tudo já foi fotografado, ainda há o que ver?
Sabemos que por motivos, sejam turísticos, sejam históricos, seja de espaço, Alfama e Bica são dois dos bairros mais fotografados de Lisboa. Mas isso só os torna mais exigentes para quem quer captar algo diferente.
“Apesar de ser um tema muito fotografado, acredito que todos os fotógrafos têm algo a dizer de diferente e único. Tenho muita crença na voz de cada um, porque todos vemos o mundo de maneiras diferentes”, reflete Gonçalo Fonseca. A opinião é partilhada por Daniel Rodrigues: “Quando estamos verdadeiramente dentro da história, acabamos por ver detalhes e camadas que passam despercebidas a quem passa de forma apressada”, até porque “o que me surpreendeu não foram os ângulos, mas os momentos inesperados de humanidade — um abraço entre ensaios, um sorriso no meio do cansaço, um gesto de cuidado.”

O desfile da Avenida é o climax de todo estes momentos de preparação. E talvez por isso, o calor do momento e aquilo que representa, foi o momento que mais marcou os fotojornalistas. “A minha imagem favorita deste projeto é a imagem dos marchantes a caminho da Avenida da Liberdade no autocarro”, assume Gonçalo. No caso de Daniel, o momento não é exatamente o mesmo, mas a força do desfile sim”: “Durante a descida da Avenida, a marcha da Bica teve de esperar pelo intervalo da transmissão da RTP para poder avançar. Nessa espera, os nervos, a ansiedade e a tensão estavam no ar. Foi ali que senti toda a intensidade desta tradição.”

Trabalhar com um smartphone: da dúvida à liberdade
O projeto foi integralmente fotografado com o Xiaomi 15 Ultra, o smartphone mais avançado da marca, desenvolvido em parceria com a Leica. Os dois fotojornalistas trabalharam com controlo manual, fotografaram em RAW e enfrentaram condições de luz difíceis com bons resultados.
“Uma das preocupações que tinha era a questão de fotografar em condições de pouca luz, como no desfile da Avenida da Liberdade. Não podia estar mais enganado — com o modo profissional e a fotografar em RAW, é possível conseguir resultados excelentes e com uma qualidade de imagem fora do comum”, confidencia Gonçalo Fonseca.
Mas para Gonçalo, mais do que a tecnologia, foi a leveza do equipamento que ditou o tom das imagens que produziu. “Trabalhar profissionalmente com um telemóvel é uma experiência muito interessante, já que ninguém nos leva a sério e permite-nos captar momentos muito espontâneos”, assume.

Também Daniel Rodrigues valorizou o facto de estar a trabalhar com um objeto familiar no dia a dia das pessoas, o que contribuiu para reduzir a distância e aumentar a naturalidade dos registos. “O telemóvel é algo tão presente na vida das pessoas que nem desperta atenção. Não tem o peso simbólico, nem físico, de uma câmara fotográfica profissional. O que me deu liberdade para captar momentos muito genuínos, sem interferência”, explica.
“Retratos de Bairro” não romantiza, nem idealiza. Também não procura dramatizar aquilo que é, na verdade, cotidiano: a dedicação de quem continua a fazer parte de um bairro, mesmo quando o bairro já mudou. O que Gonçalo e Daniel trouxeram foi um registo atento, feito com tempo e espaço, sobre um tipo de presença que raramente é notícia: a de quem costura fatos à mão, ensaia em salas pequenas, carrega andaimes, ensina músicas, organiza vozes.
“Todos temos a nossa forma de nos apresentar perante a câmara e com o Xiaomi 15 Ultra, pude ter acesso a momentos reais, sem poses e cheios de autenticidade”, diz Gonçalo Fonseca.
“Gosto genuinamente de estar com as pessoas, de ouvir histórias, de partilhar momentos. Essa proximidade humana é o que permite que a fotografia vá além da imagem e se torne num testemunho verdadeiro daquilo que vi e vivi”, conclui Daniel Rodrigues.
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