![Tânia Graça:](/assets/img/blank.png)
Segundo um recente estudo da DPD Portugal, empresa que atua no mercado doméstico do transporte expresso, mais de metade (53%) dos empresários de pequenas e médias empresas (PME) portuguesas tem dificuldades em manter relações amorosas tendo 35% dos inquiridos terminado uma relação devido às exigências do trabalho.
Entre as razões para o fim do relacionamento, 38% referiu que estavam demasiado ocupados para se comprometerem, enquanto aproximadamente 30% confessou que cancelava planos com frequência, o que levou ao afastamento da sua cara-metade.
Ainda em relação ao estudo, 33% dos empresários que se encontram numa relação revelou que o seu parceiro não compreendia totalmente o seu negócio ou as exigências que enfrenta.
Além disso, 47% dos empresários afirmaram sentir dificuldades em lidar com as pressões acrescidas de gerir um negócio, sendo que os principais desafios mencionados incluem questões financeiras (35%) e, curiosamente, mais de metade (53%) dos inquiridos acredita que teria mais sucesso na vida amorosa se o seu parceiro também fosse dono de um negócio.
Entre a luta por um sonho e da sustentabilidade do negócio, será o caminho de quem gere uma PME solitário?
Nem sempre somos os nossos melhores patrões
Uma das vantagens de criar o próprio negócio, citadas pelo estudo, é a de nos tornarmos o nosso próprio chefe, contudo, e conforme nos recorda Tânia Graça, "nem sempre somos os melhores patrões de sempre". Porquê? A psicóloga acredita que é porque, quando se tem uma PME, existe muitas vezes stress acrescido que "tanto tem a ver com menos tempo para as relações como também com os riscos que são às vezes necessários de tomar".
"Sentimos muito peso nos nossos ombros e isso acaba por ser solitário não só em termos de relações amorosas, mas, igualmente, no sentido em que se não tiver um sócio ou uma equipa, é realmente um trabalho solitário", partilha a especialista com o SAPO Lifestyle. "E pode ser difícil para a parceira ou para o parceiro ter este entendimento quando trabalha por conta de outrem".
Assim, segundo Tânia, "é difícil estabelecer a linha que separa a vida pessoal da vida profissional quando é um negócio nosso", podendo ser ainda mais complicado quando este "tem muito sentido de missão" por acabar por ser, de igual modo, "muito identitário".
E será saudável ser o trabalho a definir-nos?
Para a especialista, depende. "Podemos ir por um ângulo que é mais desta sociedade que nos obriga à produtividade constante e, então, torna-se identitário porque é quase como se eu não produzir, então eu não sou uma pessoa de valor", explica. "Este ângulo em particular, acho que é problemático", desabafa. "De facto, eu não sou o meu trabalho. Porém, ao mesmo tempo, há de facto pessoas que criam negócios e projetos que se tornam financeiramente rentáveis – e por aí serem negócios –, que têm muito a ver com um sonho que tiveram a vida toda", salienta. "Aliás, eu própria sou um pouco desse caso. Tornei-me empresária, porque criei o meu próprio negócio, mas é de uma coisa que tem muito sentido de missão de vida também", partilha. "Pode ser saudável na medida em que é uma coisa que me entusiasma. O que pode não ser saudável é depois ter dificuldade em delimitá-lo", conclui.
Ainda em conversa com o SAPO Lifestyle, Tânia Graça fala sobre a importância de explorarmos outros pontos da nossa identidade. Afinal, somos mais coisas. "Mesmo que o meu trabalho tenha um reflexo muito forte de quem eu sou, certamente há outros importantes: a minha família, os meus amigos, os meus hobbies. Será que eu ainda tenho hobbies?", questiona de forma retórica, alertando que é através desta reflexão que percebemos se a nossa relação com o trabalho está a ser saudável ou não.
"Quando falamos do trabalho poder ser uma expressão da nossa identidade é importante não romantizar a exaustão, o trabalho desde que acordo até que me deito", sublinha. "É importante fazermos mais coisas daquilo que somos e criar relações, eventualmente".
Devido aos resultados do seu estudo e no âmbito do Dia dos Namorados, a DPD lançou, esta segunda-feira, dia 10 de fevereiro, a plataforma "The Love Business" para ajudar os empresários de pequenas e médias empresas (PME) a encontrar (e manter) relações compatíveis com o seu ritmo profissional e Tânia Graça vai estar a acompanhar o projeto.
"Há uma coisa que vai muito ao encontro de algo que a psicologia, e a psicologia das relações em particular, já diz há muito tempo que é: relações em que objetivos e estilos de vida estão alinhados têm maior probabilidade de serem bem-sucedidas", menciona ao SAPO Lifestyle. "Faz sentido que estilos de trabalho e tipos de entrega e envolvimento diferentes possam criar dificuldades, não é?", pergunta, salientado que juntar pessoas que têm negócios não será nunca a única solução.
Sobre a plataforma, considera ser um espaço onde se podem encontrar pessoas com interesses em comum e que poderão, eventualmente, construir algo a partir daí que não tem que necessariamente ser uma relação amorosa. "Podem surgir sinergias", sugere. "É uma forma interessante e divertida de olhar para o trabalho e para as relações".
"A identificação é uma coisa que pode ser extremamente apaziguadora e dá-nos um sentido de pertença, de ok, não estou sozinha", refere a especialista. "Criarmos um negócio próprio que tem desafios específicos e falarmos com pessoas que vivem esses desafios pode ajudar-nos às vezes até a identificar formas de estabelecer melhores limites", considera. "Essa partilha, até mesmo nesta parte de tornar a coisa se calhar mais saudável, é muito importante".
Romances entre empresários de PME e trabalhadores por conta de outrem estão condenados ao fracasso?
Tânia Graça esclarece que não. "Depende de quanto é que as pessoas conseguem encaixar as diferenças. Por vezes, as diferenças até enriquecem". No entanto, volta a reforçar: "objetivos de vida, estudos e valores semelhantes são preditores do sucesso de uma relação".
Descubra, na segunda parte desta entrevista, como encontrar o equilíbrio entre a vida profissional e amoroso.
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