Jardim do Paço Episcopal
O Jardim do Paço Episcopal, que se encontra anexado àquela que na época era a residência de inverno bispal, foi mandado construir pelo bispo da Guarda e de Castelo Branco, D. João de Mendonça, em 1720. O seu desejo era claro: criar um jardim de inspiração barroca típica dos jardins italianos que viria a tornar-se num ex-líbris da cidade.
Uma curiosidade prende-se com o facto de este local também ser conhecido como Jardim São João Batista. "Há quem diga que o Bispo era um bocado egocêntrico e que, na verdade, o jardim era um tributo a ele mesmo, que se via a si mesmo como uma extensão de São João", explica Luís Nunes durante a visita guiada pelo jardim que está dividido em quatro patamares: a entrada, o patamar do buxo, o Jardim Alagado e o Plano Superior. "O tabuleiro principal, o do jardim do buxo, está cheio de simbologia católica. Podemos ver cinco jogos de água que simbolizam as cinco chagas de Cristo", adianta sobre este espaço onde ainda se destacam a Escadaria dos Apóstolos e os bustos dos Doutores da Igreja.
Segundo o guia, neste jardim "a maior parte das coisas está orientada por múltiplos de quatro, existindo o fator matemático", começando nos 24 talhões e terminando nas estátuas de granito onde estão representadas, entre outras coisas, as três virtudes teologais, as quatro virtudes cardeais, uma virtude moral, os signos do zodíaco e as quatro estações do ano. Os exemplares originais, que datam de 1725 e que foram construídos com o granito oriundo da região, acabaram por ser substituídos por réplicas que atualmente se os visitantes podem admirar ao longo de toda a sua extensão.
Para além do lado dedicado à religião, o jardim tem ainda um lado régio onde se destaca a Escadaria dos Reis (na imagem): uma zona repleta de estátuas dos reis de Portugal e dos três reis da dinastia Filipina. Outro detalhe encantador é o jogo de água escondido e cujos repuxos são revelados com o som de palmas.
A obra do Jardim Episcopal foi completada pelo segundo Bispo da diocese de Castelo Branco, D. Vicente Ferrer da Rocha, e em 1936 foi acrescentada de raiz toda a zona da entrada onde se destacam os painéis de azulejos com os retratos dos dois bispos responsáveis pela conceção deste local com mais de 300 anos de história e que é um dos mais visitados da cidade.
Museu Cargaleiro
Na Praça Camões está localizada a Fundação e o Museu Cargaleiro que atualmente alberga grande parte do acervo artístico pessoal que o mestre doou aquando da criação deste espaço que atualmente se divide em dois edifícios distintos.
Natural de Vila Velha de Ródão, o artista beirão sempre procurou refletir as suas origens e raízes nas suas obras, como foi o caso da cerâmica, em particular a famosa cerâmica ratinha (na imagem). Acredita-se que o seu nome peculiar pode ter duas origens: no nome que os alentejanos davam aos trabalhadores beirões que iam trabalhar para as ceifas ou na fábrica do Largo do Rato, localizada em Coimbra, onde era produzida esta cerâmica. Um dos destaques desta coleção vai para as palanganas, pratos de faiança pintados e de grandes dimensões. "Muitas pessoas, ainda hoje nas aldeias, têm o hábito de dizer ‘vamos comer uma palangana de qualquer coisa’. Muitas famílias, sem possibilidades, colocavam a palangana no centro da mesa e todas comiam do mesmo prato", explica Ana Raquel Matias durante a vista ao Museu Cargaleiro. Duas das grandes características desta loiça são as cores alegres e os diversos temas decorativos, onde se incluem a figuração humana, a vegetação, as flores e o covo despojado, aquele que existe em maior quantidade e se destaca por ser o mais simples em termos decorativos e, por isso, o mais acessível. Uma curiosidade da decoração fracionada é a sua ligação peculiar com a tradicional decoração do arroz-doce feita com canela em pó. "Na decoração fracionada há uma ligação com aquilo que ainda hoje se usa. […] Não se sabe quem é tinha a inspiração em quem: se eram os artesãos que iam buscar inspiração ao arroz-doce ou se era ao contrário," refere a guia.
No segundo edifício, inaugurado em 2011, o visitante é convidado a conhecer um outro lado de Manuel Cargaleiro onde a pintura se funde com o desenho, a gravura, a azulejaria e, até, a tapeçaria. Ao atravessar as diversas salas deste espaço, é possível observar as inspirações por detrás das diferentes fases da sua pintura, como é o caso de Pablo Picasso, da poesia – que foi transposta para a tela -, do minimalismo ou da arquitetura das catedrais. A sua versatilidade estende-se aos pisos superiores do museu onde atualmente está patente a exposição 'Uma Vida Desenhada', onde é possível conhecer desenhos inéditos e de diferentes tamanhos, mais ou menos minuciosos, feitos com recurso a materiais como guache, óleo, esferográfica ou pastel.
Tal como explica Ana Raquel Matias, a magia do trabalho de Manuel Cargaleiro está patente na liberdade que dá ao observador em dar largas à imaginação e fazer a sua própria interpretação das suas obras. "Não é só ver aquilo que, aparentemente, está lá desenhado mas tudo o que está por trás desse desenho e o que é o Manuel Cargaleiro pensou quando estava a realizar o trabalho", frisa.
Centro de Interpretação do Bordado
Enquanto parte integrante da identidade da cidade que lhe dá nome, o Bordado de Castelo Branco é uma atividade em vias de extensão. O Centro de Interpretação do Bordado tem sido fundamental no processo de preservação desta arte e das suas características originais.
Aqui é possível conhecer, através de imagens e exposição, a rota de seda (que começa com a criação do bicho-da-seda, a extração dos fios de seda dos seus casulos e obtenção das meadas que irão passar por um processo de tingimento) e o cultivo do linho (que começa com a plantação da linhaça da qual, posteriormente, será feita a extração das suas fibras que serão alvo de um processo de tecelagem). Estas são as duas grandes matérias-primas principais desta arte albicastrense: o linho caseiro, que serve de base para o bordado, e a seda natural, com que este é executado.
Na Oficina-Escola, localizada no primeiro piso, é possível ver as bordadeiras em ação. Para além da multiplicidade de cores utilizadas e dos elementos usados, neste bordado em concreto são encaixados com outros pontos utilizados noutros bordados de forma a enriquecer o trabalho que está a ser executado. "Os pontos de Castelo Branco são tantos que eu nem lhe sei dizer ao certo… Alguns eu vou buscar aqui [à cabeça] no momento que eu acho que eles encaixam", diz Rosa Gonçalves, que exerce esta atividade há 50 anos e que deixa um bocadinho de si em cada peça que faz. "Há pontos que em cima têm um feitio e por baixo terão outro. Outros estão idênticos ou iguais em cima e em baixo."
Neste edifício, que já foi prisão e biblioteca, estão expostas tanto peças mais tradicionais como criações contemporâneas de estilistas portugueses, como é o caso de Katty Xiomara, Luís Buchinho, Storytailors e Alexandra Moura. Curiosamente o bordado começou por ser uma atividade que, inicialmente, era apenas executada pelo sexo masculino. "Os artesãos de antigamente não eram as senhoras, eram os homens. Quando eles deixaram de postear, para começarem a trabalhar fora, é que passou para as senhoras", explica Rosa Gonçalves aos jornalistas sobre esta arte que aprendeu na terra de origem, Escalos de Cima.
Consoante o desenho e os pontos aplicados, o tempo de execução de cada peça é muito variável podendo, em produções de maior complexidade, como são as colchas, estender-se durante vários meses. Dado à proximidade a que esta arte obrigada, a pandemia não veio ajudar uma vez que as bordadeiras são obrigadas a manter uma distância de segurança entre si. "Uma das peças maiores, como as que viram lá em baixo, estamos seis senhoras a trabalhar: três de um lado e três do outro", refere outra das bordadeiras que estão a trabalhar no local.
Questionada sobre o fenómeno de contrafação, Rosa Gonçalves refere que nem o bordado de castelo branco escapa às imitações e cópias. Uma forma de preservar este ícone da cidade passa pela não comercialização de desenhos para fora e pela aposta na personalização. "Chega aqui um cliente e diz ‘Eu gostava de ter uma peça com aqueles desenhos que estão naquela colcha mas noutra medida, é possível?’ E nós vamos fazer esse desenho adaptado para aquela medida com cabeça, tronco e membros", colmata.
Mural das Invasões Francesas
Castelo Branco destaca-se também pelos murais de arte urbana que tem espalhados pelas diversas aldeias do concelho. Tal como explica João Maltês, a ideia para este projeto surgiu há cerca de cinco anos com o intuito de dinamizar o trabalho de diversos artistas locais e, em 2021, foi alargado para a cidade de Castelo Branco. "O objetivo é expandir para todas as aldeias e freguesias. Temos 49 murais neste momento, mas o objetivo é fazer cada vez mais em todo o concelho", refere ao SAPO Lifestyle sobre esta iniciativa que tem vindo a crescer a olhos vistos e atraído artistas proeminentes do panorama nacional.
O mural das Invasões francesas foi um dos oito murais a ser inaugurado na cidade no ano passado. Para dar vida à representação deste acontecimento tão importante na história da cidade albicastrense, STyler foi o nome escolhido para o projeto. O artista português, que passou grande parte da sua juventude em França, baseou-se nos trabalhos feitos por outros artistas para executar este mural localizado na Rua Postiguinho Valadares. Recorde-se que Portugal foi alvo de três invasões, sendo que a primeira foi comandada pelo general Jean-Andoche Junot em 1807 e passou precisamente pela cidade de Castelo Branco.
Tal como explica o guia turístico Luís Nunes, a famosa expressão popular portuguesa ‘ir para o maneta’, e atualmente ainda é utilizada de Norte a Sul do país, remonta precisamente à época das invasões francesas. "Nesta cidade e nesta zona costuma-se dizer que alguém que já morreu já foi com o maneta. Por aqui [esta expressão] ainda resiste. As pessoas com mais idade ainda empregam", explica sobre a frase que é muitas vezes, e de forma errada, atribuída a Junot em vez de Louis Henri Loison, um dos generais de Napoleão Bonaparte conhecido pela sua crueldade e por não ter perdido um braço em batalha.
Parque do Barrocal
O parque do Barrocal é um dos locais de passagem obrigatória para quem não dispensa o contacto com a natureza. Com uma extensão de 40 hectares, a visita inicia-se na chave do Barrocal (na imagem), uma infraestrutura vermelha construída em cima de uma antiga pedreira onde era feita a exploração do granito do Barrocal, indissociável da história da cidade albicastrense. No Mirante de Castelo Branco, que é um dos sete mirantes de observação da paisagem da cidade, os visitantes podem comprová-lo com os seus próprios olhos. "Aqui podemos ver várias construções da nossa cidade feitas com o granito do Barrocal", refere Margarida Moitinho, responsável do parque, e que dá como exemplo o Castelo dos Templários, agora em ruínas.
À medida que se vai avançando pela área visitável, limitada a 11 hectares que podem ser percorridos pelos visitantes através de caminhos e passadiços, deparamo-nos com dois dos ícones do parque: o túnel do Lagarto (na imagem) e o Observatório dos Abelharucos. O primeiro é um túnel afunilado serpenteante construído com ripas de madeira e com total respeito pela topografia natural do espaço e que nos dá acesso a uma segunda parte do parque, onde se destacam os miradouros. Já o Observatório dos Abelharucos, construído por entendidos de birdwatching, é uma infraestrutura que permite a observação camuflada de aves e cuja diversidade pode ser apreciada especialmente durante a primavera. "É preciso tempo e silêncio", refere a responsável pela visita ao local. "No inventário que foi feito no início foram identificadas cerca de 70 espécies de animais mas sabemos que há muitas mais. No nosso parque temos abelharucos, cegonhas, texugos, raposas, coelhos, javalis, lagartos. Temos uma grande diversidade faunística, mas também temos uma grande diversidade florística" onde se destacam o continental, "que podemos observar pelo carvalho-negral, que é das arvores mais predominantes do nosso parque" e o mediterrânico "com o sobreiro e a azinheira."
O parque do Barrocal – que se destaca pela sua paisagem de origem granítica construída ao longo de 310 milhões de anos – abriu portas em 2020 e, no espaço de dois anos, já conquistou diversos prémios, a nível de arquitetura paisagística, geoconservação e turismo sustentável. Para além da Cabeça do Alien, uma estrutura rochosa que se destaca pela sua semelhança com a criatura alienígena do filme de ficção científica de Ridley Scott, a Pedra da Rondoa é outra das 12 formações geológicas de interesse e que merece uma visita. Este local milenar de ocupação humana, onde foram descobertos vestígios arqueológicos de cerâmica datados da Idade do Bronze, é composto por duas rochas que, apoiadas entre si, pesam 2,500 toneladas. Segundo a sabedoria popular o seu nome remete para a figura de uma mulher hippie, com poderes mágicos, que ali procurava abrigo.
Apesar de a pandemia ter obrigado ao seu encerramento temporário, o parque do Barrocal - integrado nos territórios classificados do Geoparque Naturtejo Mundial da UNESCO – já atraiu 43 mil pessoas, sendo um dos dois locais mais visitados da cidade.
O SAPO Lifestyle viajou até Castelo Branco a convite do Município de Castelo Branco e o Turismo do Centro
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