Entre quintas seculares (existem mais de duas centenas), vinhas 100% portuguesas que crescem num solo à partida pouco fértil, miradouros de tirar a respiração e um rio navegável, não faltam locais para visitar no vale do Douro. Uma região do país que merece uma visita atenta para (re)descobrir paisagens de sonho que têm vindo a seduzir e conquistar um crescente número de turistas internacionais. A jornalista Rita Caetano esteve lá e apresenta-lhe um roteiro para uma escapada de três dias.
Dia 1
É uma das regiões vínicas mais bonitas do mundo e foi a primeira a ser regulamentada, corria o já longínquo ano de 1756. A paisagem é feita de verdejantes socalcos, onde, desde o século XVIII, nascem as vinhas que dão origem ao vinho do Porto e aos vinhos de mesa do Douro. Essas colinas são geometricamente recortadas pelo rio Douro, o qual segue serenamente o seu caminho para o Oceano Atlântico. Um cenário único que fez do Alto Douro Vinhateiro Património da Humanidade pela UNESCO, um título que ostenta orgulhosamente desde 2001.
Nem de propósito, uma fórmula matemática elegeu a Estrada N222, que liga a Régua ao Pinhão, como a melhor do mundo para conduzir. De acordo com um físico quântico e dois designers, esta via permite sentir o prazer da condução, porque dá para alterar com frequência o estilo de condução, a isso obrigam as suas 93 curvas. Mas com uma paisagem deslumbrante que a rodeia, o prazer de a percorrer vai muito além da condução.
É nesta estrada que encontra a Quinta do Pôpa, que se estende por 30 hectares e abre os seus portões a quem a visita. Propomos um brunch que começa com uma visita guiada à quinta, que dá a conhecer as técnicas de produção usadas nos vinhos da casa e inclui visita à adega, salas de cascos, garrafeiras, sala de provas e vinhas. A ementa varia de acordo com os produtos da época, mas nunca faltam os vinhos Quinta do Pôpa.
Na parte da tarde, desfrute de um passeio no rio Douro. A empresa Douro à Vela, que já fazia passeios no veleiro Libertu’s, tem também agora o EntreMargen’s, um dos primeiros barcos a fazer cruzeiros neste rio e que foi recuperado recentemente. Pode escolher entre passeios feitos à sua medida ou os que a empresa tem programados. Existem preços a partir de 25 € por pessoa. Mais informações através do e-mail info@douro-a-vela.pt.
Dia 2
Neste segundo dia, rume ao concelho de São João da Pesqueira, mais precisamente à Quinta das Carvalhas, que em setembro estreou dois novos programas para os visitantes. Virada para o Pinhão, esta quinta oferece no seu ponto mais alto, a 550 m de altitude, uma vista de 360 graus para este local mágico. Esta quinta integra a Real Companhia Velha desde 1950, tem 500 hectares e encostas que atingem os 70 graus de declive e onde se encontram as vinhas.
É no meio das mais velhas vinhas, que se situam as ruínas de uma casa/adega de xisto que é agora uma sala de provas e cuja visita é denominada de Ruin With a View. Já a Real Companhia Velha Harvest Experience é, como o nome dita, uma experiência de vindimas. Se for lá neste período, vai vindimar até ao almoço (feijoada à transmontana) na Casa Redonda. Já com a barriga cheia, passará para a mesa de escolha para fazer a seleção das uvas, seguindo-se a lagarada, isto é, a pisa de uvas tradicional. Para finalizar o dia, há uma prova de vinhos comentada na Quinta do Casal da Granja, outra das quintas da Real Companhia Velha.
Veja na página seguinte: O que deve fazer no terceiro dia
Dia 3
Numa visita ao Douro, o vinho está sempre presente e um dos projetos a conhecer é a Lavradores de Feitoria, um projeto que agrega 15 produtores de vinho duriense que se juntaram para partilhar recursos e criar sinergias. Somam 600 hectares de vinhas de todas as castas autóctones, distribuídos por 19 quintas, onde o objetivo é fazer os melhores vinhos. Às portas de Vila Real, encontra a quinta mais emblemática do projeto, a Casa Mateus, que é também uma fundação que serve a cultura de Portugal, promovendo a edição de livros, debates, seminários, concertos e sessões de leitura.
O edifício, datado do século XVIII, é monumento nacional e um exemplo de arquitetura barroca. Vale a pena fazer a visita guiada ao interior da casa, capela e jardins. Tenha, contudo, em atenção que, de novembro a abril, as visitas encerram às 18h. A propriedade tem ainda uma loja e é possível fazer provas de vinho da Lavradores Feitoria. E antes de dizer adeus ao Douro, desça para Foz Côa, que alberga aquele que é considerado o maior museu ao ar livre de arte paleolítica, Património Mundial da Humanidade pela UNESCO desde 1998, o Parque Arqueológico do Vale do Côa.
Outras atrações a incluir na sua visita:
- Comboio Histórico do Douro
É uma forma diferente de viajar nesta região. A viagem começa na Régua e termina no Tua, com paragem no Pinhão. Está, no entanto, apenas disponível aos sábados até 31 de outubro e aos domingos até 4 de outubro.
- Miradouros
O miradouro de São Leonardo da Galufura, em Peso da Régua, é um dos locais onde podem observar a vista arrebatadora. Conhecido por ter inspirado Miguel Torga nas suas aventuras literárias, tem vista sobre o vale do Douro.
- Museu do Vinho de São João da Pesqueira
Exposição permanente dá a conhecer a formação do território vitivinícola de S. João da Pesqueira. O museu tem ainda uma sala de provas, uma loja de vinhos e um wine bar. A entrada é livre. Mais informações em www.mvsjp.pt.
Veja na página seguinte: Onde ficar e o que comer
Onde ficar
Muitas quintas centenárias oferecem alojamento no Douro, mas ultimamente também as cadeias de hotéis apostaram na região. A Quinta de la Rosa situa-se no Pinhão e tem dez quartos, quatro suítes, duas casas, piscinas e muitas atividades com preços a partir de 90 €. O Hotel Vila Galé Douro, que está localizado em Cambres, em Lamego, é outra das opções. Tem 38 quartos todos com vista para o Douro e um spa com preços a partir de 100 €.
O Hotel Six Senses Douro Valley, outra das nossas propostas, tem interiores contemporâneos e conta com quartos, suítes e villas. Convertida em unidade hoteleira de luxo, a casa apalaçada da Quinta do Vale de Abraão, em Samodães, é de uma beleza surpreendente, tal como todo o cenário envolvente que o rodeia. O spa, também ele imperdível, é uma das apostas do espaço, que apresenta preços a partir de 250 €.
Onde comer
No Douro, não é apenas o vinho que é bom, a gastronomia não lhe fica atrás. O DOC, situado em Folgosa, em Armamar, o restaurante do chef Rui Paula, é uma janela aberta para o Douro e para as vinhas. Nos pratos, sobressaem os produtos regionais com uma apresentação contemporânea. O cabritinho e a vitela maronesa são deliciosos. A cozinha duriense tem no Castas e Pratos, outra das nossas sugestões, nuances modernas.
Prove a terrine de foie gras aromatizada com Vinho do Porto, redução do mesmo e tosta caseira e o cabrito estufado em Vinho do Porto com esmagado de favas e alheira de caça. O restaurante ocupa um edifício que outrora era uma estação ferroviária. O Bebedouro Food & Wine, restaurante de Vila Real situado na zona antiga da cidade, é bom para petiscar e ir beber um copo de vinho. A esplanada é muito agradável.
Texto: Rita Caetano
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