Por 382 votos a favor e 128 contra, os deputados da Câmara dos comuns aprovaram a autorização para a conceção de bebés através da fertilização in vitro com o ADN de três pessoas, uma técnica denominada doação mitocondrial.
A decisão destina-se a evitar que doenças genéticas graves sejam transmitidas de mãe para filho, e a medida legislativa vai agora passar para a Câmara dos Lordes. Caso seja aprovada, o Reino Unido será o primeiro país do mundo a legalizar a reprodução assistida com os genes de três pessoas.
Após a aprovação da legislação, as mulheres que quiserem praticar este ato deverão pedir autorização ao “Human Fertilisation and Embryology Authority” (Autoridade de Fertilização e Embriologia Humana, HFEA), o organismo britânico responsável em matéria de bioética.
Os primeiros bebés, nascidos desta técnica de combinação do ADN de duas mulheres e de um homem, poderão nascer a partir de outono de 2016.
Como funciona?
A nova técnica permite que uma mãe com um ADN mitocondrial defeituoso ceda o núcleo do óvulo, que é depois enxertado no óvulo doado por uma mulher saudável (após ser-lhe retirado o núcleo). Este óvulo combinado é depois fecundado in vitro pelo esperma do pai.
Na prática, a informação genética recebida pela criança é quase na totalidade a dos "progenitores": apenas 0,1% ou 0,2% corresponderão ao ADN mitocondrial da mulher que doou o óvulo saudável.
As mitocôndrias funcionam como uma "baterias" das células, com funções importantes ao nível da respiração e troca de energia celular. Substituir o ADN mitocondrial defeituoso através deste procedimento permite eliminar uma série de doenças genéticas que são transmitidas exclusivamente ao feto pela mãe, como problemas cerebrais, musculares, falha cardíaca,cegueira diabetes ou miopatia.
Cerca de 125 bebés nascem anualmente no Reino Unido com uma disfunção mitocondrial, transmitida pela mãe. As mitocôndrias são estruturas especializadas presentes nas células que transformam a glucose em molécula energética. Defeituosas, podem provocar um défice energético para o organismo e são responsáveis por doenças degenerativas graves.
A vice-ministra britânica da Saúde e Assistência Social, a conservadora Jane Ellison, argumentou na Câmara dos Comuns que a técnica significa “a luz ao fundo do túnel para muitas famílias afetadas”, como é o caso de Sharon Bernardi de Sunderland (nordeste de Inglaterra), que perdeu sete filhos por doenças mitocondriais.
“Para o parlamento é um passo audaz, algo em que pensámos muito”, adiantou Ellison.
Os especialistas calculam que cerca de 2.500 mulheres poderão beneficiar deste procedimento no Reino Unido.
A nova técnica, definida como um avanço significativo pelos seus apoiantes, não obtém unanimidade na comunidade científica.
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