Podemos não nos dar conta, mas os alimentos que ingerimos todos os dias podem ir, lentamente, corrompendo a nossa saúde e encurtar a esperança de vida. Para muitas pessoas, os alimentos tóxicos são difíceis de detetar, especialmente em quem se alimenta de forma saudável. As palavras «elimination diet» estavam em nono nas dietas mais procuradas da lista do Yahoo em 2014. Os médicos mais progressistas dos EUA, Frank Lipman, Mark Hyman e Alejandro Junger, todos eles prescrevem às suas pacientes uma dieta de eliminação.
E até celebridades, entre elas a atriz Gwyneth Paltrow, já a experimentaram e aconselham-na. A médica Robin Berzin e fundadora da Parsley Health, com uma visão moderna e acessível da medicina funcional, criou a Table, um programa detox flexível de 12 dias. Robin Berzin dá o exemplo de uma paciente que, após um tratamento de rosto, lhe foi dito ter uma pele alérgica. «É certo que apresentava vermelhidão nas maçãs-do-rosto. Tentou alimentar-se sem glúten, consultava um health coach e tinha uma dieta alimentar equilibrada», explica a médica.
Após a consulta, percebeu que a sua paciente mostrava sinais e sintomas de inflamação do intestino solto. Se entrou porque queria fazer testes de alergia a alimentos, saiu da consulta com uma dieta de eliminação. «Para se perceber se determinado alimento está a causar inflamação, temos de o eliminar durante um mês para ver como o nosso corpo reage depois quando o reintroduzimos. Recomendo que toda a gente, sim, toda, faça esta dieta, pelo menos, uma vez na vida», diz Robin Berzin.
A necessidade de variar a alimentação
O nutricionista Pedro Queiroz, responsável pela Clínica de Nutrição de Lisboa e do Porto, explica quais são os casos em que concorda com uma dieta de eliminação. «Uma das regras base da alimentação é a variedade alimentar, onde cada alimento tem o seu papel. Mas, em certos casos, eliminar alguns alimentos com o objetivo de otimizar temporalmente a resposta do organismo, pode traduzir-se num efeito muito positivo para o bem-estar geral e otimização da perda de peso», refere.
«Nestes casos, e de forma limitada no tempo, concordo com esta abordagem», diz ainda, ao que acrescenta que, «nos casos onde existam sintomas de intolerâncias alimentares, digestões difíceis ou reações cutâneas não desejadas, este tipo de abordagem pode trazer benefícios». «Mas não podemos simplesmente eliminar alimentos, devendo substituir por outros capazes de minimizar ou evitar carências nutricionais específicas», ressalva, contudo.
E o passo a passo na eliminação passa por «primeiro, avaliar corretamente o estado de saúde do utente. De seguida, fazer um levantamento do seu dia a dia alimentar, de forma a identificar as possíveis causas dos desequilíbrios. Só depois se devem propor as alterações que deverão ser continuamente monitorizadas com a ajuda de um nutricionista. Esta alteração não deve ser prolongada e tem de voltar a incluir gradualmente os diferentes alimentos à medida que o organismo reage e minimiza as intolerâncias».
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O princípio de reintroduzir com consciência
Aumentar os níveis de energia e melhorar a digestão são apenas duas mudanças que podem surgir imediatamente. E a perda de peso será um resultado a longo prazo. O ideal é que nos concentremos numa base regular de eliminação de alimentos que não são positivos a curto prazo. Assim, segundo o médico Pedro Queiroz, a dieta de eliminação é indicada para todos aqueles que sentem cansaço e falta de energia, têm digestões difíceis, fazem reações cutâneas ou apresentam outros sintomas capazes de interferir com a sua qualidade de vida e bem-estar.
«Volto a referir que deve ser um processo bem programado com a ajuda do seu nutricionista... E só depois de avaliada a mais-valia deste processo no seu caso específico», adverte. Os alimentos que devemos banir vão «depender dos sintomas iniciais, mas, de uma forma geral, os mais frequentes de eliminação nestes tipos de dieta são o trigo, o leite, o chocolate e o álcool», exemplifica. Já o tempo que cada alimento deve ser retirado, para depois ser reintroduzido, explica o nutricionista, «depende da reação de cada pessoa.
Por norma, ao final da primeira semana os sintomas, a sentirem-se, já serão notórios. E, depois, deve reintroduzir o alimento só ao final do primeiro mês e de forma gradual. Não esquecer que existindo esta retirada alimentar ela deve ser compensada por outros capazes de compensar/minimizar carências nutricionais. Mais do que uma dieta de eliminação devemos procurar fazer um plano alimentar variado e compatível com o nosso estilo de vida. Só assim asseguramos níveis de energia e de saúde adequados ao nosso bem-estar geral».
6 passos para fazer a dieta de eliminação
1. Antes de começar faça uma lista dos pés à cabeça. Anote e documente todas as alterações do seu corpo, para confirmar, depois, se houve alterações com a eliminação de um determinado alimento.
2. Elimine os suspeitos do costume durante 23 dias, o tempo que demora a eliminar a toxicidade de determinados alimentos.
3. Os novos hábitos demoram 21 dias a formar-se. O ideal será optar por 30% de proteínas limpas (biológicas, sem hormonas e felizes) e 70% de vegetais, legumes (feijões e lentilhas), frutos secos e sementes.
4. O que comer e evitar. Coma peixe (confirme previamente o seu nível de mercúrio online, alimentos ricos em fibras, e nada de alimentos processados. Cozinhe de raiz.
5. Como reintroduzir os alimentos de forma correta? Ao vigésimo quarto dia escolha um alimento que eliminou (com glúten, laticínios, ovos e por aí fora), mas não mais do que um de cada vez. Observe como o organismo reage nas próximas 48 horas. Se não reparar em nada nos dois dias seguintes, coma o mesmo alimento. Se não houver alteração, pode reintroduzir de vez esse alimento.
6. Preste mais atenção a si. Talvez observe alterações na qualidade do sono ou nos níveis de energia. A pele do rosto deixa de estar tão encarniçada e a barriga fica mais plana.
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As três fases da dieta da eliminação
1. A fase de desintoxicação
Dura dois dias e os únicos alimentos consumidos durante esse período são leves e saudáveis.
2. A fase de reação
Consiste na lenta introdução de alimentos na dieta. Deve documentar todas as mudanças que observa.
3. A fase de integração
Continua o processo das duas fases anteriores, mas, agora, com mais alimentos integrados na dieta.
Texto: Joana Brito
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